São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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O futebol perdeu o rumo do gol
Introduzidos após a pasmaceira da Copa de 90, os três pontos por vitória fizeram as redes balançar mais no torneio dos EUA, em 1994, mas o efeito positivo já se esgotou. O número de gols cai seguidamente há três Mundiais e voltou ao patamar da Itália, justamente o mais baixo da história. Houve sete zero a zeros, o mesmo que nas duas edições anteriores juntas. A porcentagem de partidas em que um dos times não fez gol bateu recorde histórico. No mata-mata, a média de gols não chegou a dois gols por jogo.

O futebol desistiu de procurar o gol
Foi uma Copa sem novidade tática importante. Foi também um torneio que desmontou a tendência dos três zagueiros, um sucesso dos anos 90 que parecia ter conseguido a consagração máxima em 2002 ao levar o Brasil ao título. Mas foi, sobretudo, um Mundial que escancarou uma mania entre os treinadores: escalar só um atacante "puro-sangue", casos dos finalistas França e Itália.

O futebol não sabe como parar a violência
A explosão de cartões amarelos e vermelhos não trouxe alívio para ninguém. Pelo contrário: fez a Fifa repensar os próprios cartões, talvez já insuficientes para controlar jogadores que pegam cada vez mais pesado. Nada menos do que 20 seleções tiveram jogadores expulsos, outro recorde. O apito foi rigoroso, mas também cometeu erros, como o pênalti inexistente que deu a vitória para a Itália contra a Austrália

O futebol corre como nunca
Os times passaram por cima do calor alemão e concentraram a artilharia nos 15 minutos finais (quase um terço dos gols saiu nesse período). A Copa do físico puniu quem se arriscou com laterais sem fôlego, como o Brasil, e premiou times que usaram na posição jogadores com características defensivas. Ganhou também quem tem não tem o mesmo vigor, mas que soube controlar a bola, caso notório de Zidane.

O futebol prega o jogo feio
As frases "Show é vencer", "Quem jogou lindo já está em casa" e "Se vencer a Copa significa jogar mal futebol, ok" saíram das bocas de Parreira, Scolari e Eriksson e entraram para o rol das coisas mais emblemáticas desta Copa. Não por acaso, as jogadas memoráveis desse torneio dificilmente serão lembradas, o grande craque é motivo de enorme discussão e as melhores partidas certamente não figurarão entre as "mais mais" da história. Isso para desgosto de Nike e Adidas, que fizeram campanhas milionárias exaltando o jogo bonito dos times que patrocinam

O futebol europeu dá mesmo as cartas na organização
Numa Copa sem grandes problemas de segurança, nenhum dos fantasmas que foram manchetes por meses deu as caras. A "ameaça iraniana", o medo da gripe aviária e a explosão da prostituição viraram lembranças distantes. Nenhum caso de doping foi divulgado até agora. As festas organizadas em grandes praças e parques foram um sucesso. Brigas de torcedores foram raras. O esquema de trânsito e transporte público foram eficientes

O futebol global ainda é um sonho
A África não conseguiu confirmar nenhuma das previsões que apareceram após o desfile de Camarões na Copa de 90 -em campos alemães, a única seleção que ao menos não deu vexame foi Gana, eliminada nas oitavas. A América mais uma vez sentiu como em solo europeu é bem mais difícil e não chegou nem mesmo à semifinal. Os asiáticos não conseguiram manter o pique do torneio anterior, quando eram anfitriões. A Copa na Europa acabou da maneira mais européia possível -a última vez que os quatro semifinalistas eram todos europeus foi em 1982.

O futebol da Copa não tem nada a ver com o futebol do resto do ano
Em campo, que o digam Ronaldinho, estrela do Espanhol, da Copa dos Campeões e dos publicitários no Carnaval pré-Copa, e Zidane, antes dado como aposentado em atividade -mais uma vez, o Mundial provou que tem um poder quase mágico de promover heróis e desmanchar mitos. Fora, também: prepare-se para o choque térmico em relação à qualidade das imagens dos jogos de quarta-feira à noite. A alta definição usada para filmar esta Copa vai deixar saudade.

O futebol perdeu a guerra para os cambistas
A mão invisível do mercado negro mostrou-se mais forte do que os ingressos nominais, o sistema de vendas pela internet e a políticas de preços acessíveis a todas os bolsos. No fim, os organizadores tiveram que reconhecer a derrota para os cambistas. Isso num clima de troca de acusações -a Fifa denunciou os alemães pela praga dos cambistas.

O futebol não cabe nos estádios
Dentro dos estádios, lotação quase total; fora, milhões de pessoas assistindo à Copa em telões espalhados pelas ruas da Alemanha. O torneio mostrou que, mais do que apenas um evento pop ou pura manifestação de nacionalismo, o futebol é hoje um fenômeno de mobilização de massa.


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