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Casa vazia
À véspera da final da Copa, sede da Fifa , em Zurique, está às moscas
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
Dias antes da abertura da
Copa, os moradores de Zurique que gostam de futebol
estavam apreensivos. A prefeitura queria proibir que bares e restaurantes exibissem
as partidas do Mundial em telões ou mesmo em TVs.
É uma imposição da Fifa,
que detém os direitos do torneio e exige uma licença especial dos estabelecimentos.
Uma exigência para a qual o
mundo todo dá de ombros.
Em Zurique, é mais difícil.
A cidade abriga a sede da
entidade. Que, na véspera do
seu fim de semana mais importante nos últimos quatro
anos, foi a 29ª parada da série
"Um Mundo Que Torce".
O amplo saguão do prédio
envidraçado, inaugurado em
2007, poderia ser a recepção
de um grande banco suíço ou
de uma fábrica de relógios.
Ou não. Lugares assim teriam bem mais movimento.
"Até domingo vai ser deste
jeito, pouco trabalho. Depois, todo mundo volta da
África do Sul e a correria recomeça", comenta Jose Arosemena. Há tão pouca gente
ali que ele se divide nas funções de recepcionista e de
vendedor da lojinha de produtos com a marca da Fifa.
Lojinha cara. Um chaveiro
custa R$ 40. Uma camiseta,
R$ 53. Uma gravata, R$ 100.
Na decoração pré-Copa, o
Brasil está em baixa. Há
enormes fotos de Messi, Xavi, Drogba, Cannavaro, Cristiano Ronaldo. Nenhum jogador brasileiro. E três apostas furadas: desses, só os
dois primeiros estão na lista
dos dez melhores do torneio.
Fora, nos jardins, as referências ao futebol são mais
fortes. Há quatro campos em
volta do prédio. Um deles simula o palco de um jogo do
Mundial: placas dos patrocinadores na África do Sul cercam o gramado sintético.
E há gente brincando por
lá. Direto de Santo André, na
Grande São Paulo, uma família de turistas aproveitou o
dia de baixo movimento,
chegou até o campo e ainda
conseguiu, com um segurança, uma bola emprestada.
"Achei vazio... Imaginei
que fosse haver mais gente
por aqui", afirma Raquel
Bember. Seu marido, Eliezer,
repete a história que ouviu de
um amigo suíço: "Ele trabalha em um banco aqui e disse
que o expediente foi normal
nos dias de jogos da Suíça.
No máximo, ele olhava o placar do jogo na internet".
A impressão de uma certa
fleuma dos suíços em relação
ao futebol fica ainda mais sólida quando se conversa com
os próprios.
"Não somos exatamente
uma nação do futebol. Quem
faz mais festa são os estrangeiros que vivem aqui", explica Adrian Müller, chocolatier da casa Läderach, no centro da cidade.
"Ninguém espera muito
da seleção", declara o estudante Mark Griesmaier, para
logo ser cortado pelo amigo
Siro Müller. "Como assim?
Ganhamos da Espanha!"
Na abertura da Copa, a
Suíça fez 1 a 0 nos espanhóis,
finalistas. O que leva o rapaz
a uma conclusão peculiar:
"Se a Espanha triunfar no domingo, seremos nós os verdadeiros campeões".
Ambos devem assistir ao
jogo em suas casas. Os bares,
dizem, devem estar tomados
por imigrantes espanhóis e
holandeses amanhã.
Sim, porque os bares acabaram dando um jeitinho de
mostrar os jogos. Afinal,
aqueles que deveriam fiscalizar estão longe. A Fifa, até segunda, continuará vazia.
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