São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010

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Casa vazia

À véspera da final da Copa, sede da Fifa , em Zurique, está às moscas

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

Dias antes da abertura da Copa, os moradores de Zurique que gostam de futebol estavam apreensivos. A prefeitura queria proibir que bares e restaurantes exibissem as partidas do Mundial em telões ou mesmo em TVs.
É uma imposição da Fifa, que detém os direitos do torneio e exige uma licença especial dos estabelecimentos. Uma exigência para a qual o mundo todo dá de ombros.
Em Zurique, é mais difícil.
A cidade abriga a sede da entidade. Que, na véspera do seu fim de semana mais importante nos últimos quatro anos, foi a 29ª parada da série "Um Mundo Que Torce".
O amplo saguão do prédio envidraçado, inaugurado em 2007, poderia ser a recepção de um grande banco suíço ou de uma fábrica de relógios. Ou não. Lugares assim teriam bem mais movimento.
"Até domingo vai ser deste jeito, pouco trabalho. Depois, todo mundo volta da África do Sul e a correria recomeça", comenta Jose Arosemena. Há tão pouca gente ali que ele se divide nas funções de recepcionista e de vendedor da lojinha de produtos com a marca da Fifa.
Lojinha cara. Um chaveiro custa R$ 40. Uma camiseta, R$ 53. Uma gravata, R$ 100.
Na decoração pré-Copa, o Brasil está em baixa. Há enormes fotos de Messi, Xavi, Drogba, Cannavaro, Cristiano Ronaldo. Nenhum jogador brasileiro. E três apostas furadas: desses, só os dois primeiros estão na lista dos dez melhores do torneio.
Fora, nos jardins, as referências ao futebol são mais fortes. Há quatro campos em volta do prédio. Um deles simula o palco de um jogo do Mundial: placas dos patrocinadores na África do Sul cercam o gramado sintético.
E há gente brincando por lá. Direto de Santo André, na Grande São Paulo, uma família de turistas aproveitou o dia de baixo movimento, chegou até o campo e ainda conseguiu, com um segurança, uma bola emprestada.
"Achei vazio... Imaginei que fosse haver mais gente por aqui", afirma Raquel Bember. Seu marido, Eliezer, repete a história que ouviu de um amigo suíço: "Ele trabalha em um banco aqui e disse que o expediente foi normal nos dias de jogos da Suíça. No máximo, ele olhava o placar do jogo na internet".
A impressão de uma certa fleuma dos suíços em relação ao futebol fica ainda mais sólida quando se conversa com os próprios.
"Não somos exatamente uma nação do futebol. Quem faz mais festa são os estrangeiros que vivem aqui", explica Adrian Müller, chocolatier da casa Läderach, no centro da cidade.
"Ninguém espera muito da seleção", declara o estudante Mark Griesmaier, para logo ser cortado pelo amigo Siro Müller. "Como assim? Ganhamos da Espanha!"
Na abertura da Copa, a Suíça fez 1 a 0 nos espanhóis, finalistas. O que leva o rapaz a uma conclusão peculiar: "Se a Espanha triunfar no domingo, seremos nós os verdadeiros campeões".
Ambos devem assistir ao jogo em suas casas. Os bares, dizem, devem estar tomados por imigrantes espanhóis e holandeses amanhã.
Sim, porque os bares acabaram dando um jeitinho de mostrar os jogos. Afinal, aqueles que deveriam fiscalizar estão longe. A Fifa, até segunda, continuará vazia.


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