São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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TOSTÃO

A impotência do gênio


Messi é um ídolo. Joga e vive no silêncio. É seu jeito. Por isso, talvez nunca se torne um mito

QUASE NO fim do jogo, no empate por 0 a 0 entre Argentina e Colômbia, torcedores começaram a gritar o nome de Maradona. Como a maioria não deve ter saudades do confuso técnico, deduzo que parte dos gritos era para cutucar Messi e dizer que ele nunca será um Maradona.
As câmeras de televisão mostraram, em detalhes, Messi profundamente abatido, encobrindo o rosto com as mãos, impotente. Parecia querer chorar e pedir perdão aos torcedores.
Se Lavezzi tivesse feito o gol no primeiro tempo, quando Messi o deixou livre na frente do goleiro, a história do jogo e o tema de minha coluna poderiam ser outros.
Mesmo se jogar bem nos próximos jogos, fizer um gol espetacular e decisivo, na Copa América e no próximo Mundial, Messi nunca será, na seleção argentina, com regularidade, o supercraque que é no Barcelona.
Por ter ido menino para a Espanha, não ter brilhado em um time argentino, ter a cara e o jeito de homem tímido, sereno, sério, sem pose de estrela e sem atração pelos dramas da vida, Messi nunca será um mito, como Maradona. É um ídolo. Não será também um bom personagem para os biógrafos.
Carlos Bilardo, técnico campeão do mundo em 1986, quando Maradona fez o mais belo gol de todas as Copas, disse que o problema de Messi é ser muito humilde. Nelson Rodrigues, com seu delicioso exagero, repetiu umas mil vezes que a maior qualidade de Pelé era a imodéstia absoluta.
Messi não possui também a esperteza, a agressividade nem a ingenuidade de alguns grandes craques. Provavelmente, nunca vai tentar enganar o árbitro e fazer um gol com a mão, como Maradona, dar uma cotovelada em um rival que não lhe dá sossego, como Pelé, nem dizer que a Copa do Mundo é uma copinha de seis jogos, como Garrincha.
Só podemos definir a importância de um grande craque no final de sua carreira. Todos eles têm péssimos momentos. Maradona nunca foi campeão de uma Copa América, embora tenha disputado três edições.
Como a alma tem muitos mistérios, Messi poderá ainda nos surpreender, dentro e fora de campo. Quem sabe um dia vai pintar o cabelo de azul e branco, aprender a cantar o hino nacional argentino, até de trás para frente, e passar a dar trombadas e correr atrás de bolas perdidas. O torcedor iria gostar. Talvez falte a Messi, para se tornar um mito, e não apenas um ídolo, um pouco de loucura, de exibicionismo e de fanfarronice. Messi joga e vive no silêncio. É seu jeito. Cada um tem o seu.


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