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FUTEBOL
Órgão vê publicidade enganosa por omissão na estratégia de marketing
Procon pode multar clubes
e atletas pela propaganda
DA REPORTAGEM LOCAL
Na avaliação do Procon (Fundação de Proteção e Defesa do
Consumidor), os clubes e os jogadores que estão utilizando números de empresas telefônicas como
estratégia de marketing velada na
Copa João Havelange estão ferindo o artigo 36 do Código de Defesa do Consumidor e, por isso, podem ser multados pelo órgão.
""A publicidade deve ser assumida. Se está na camisa do jogador,
isso tem que estar claro de alguma
forma para o torcedor. Seria propaganda enganosa por omissão,
já que a publicidade não é identificada. Clubes, jogadores, empresas, todos que fazem parte da cadeia podem ser multados", disse
Elisete Miyazaki, assessora de direção do Procon de São Paulo.
Segundo Miyazaki, o fato de jogadores de destaques estarem
atuando com números pouco comuns -os titulares costumam
usar camisas de 1 a 11- deixa clara a estratégia de marketing.
""É uma falta de respeito para
quem assiste. Às vezes, o número
identifica o jogador. As pessoas
sabem que o centroavante é o 9, o
10 está no meio-campo. As pessoas marcam o número, como o
10 do Pelé, o 9 do Ronaldinho.
Um número 21 ou 23 jogando é
muito estranho", disse Miyazaki.
Segundo ela, o Procon pode
multar clubes, jogadores e empresas mesmo que não seja comprovada a existência de um contrato
entre as três partes.
""Primeiro, precisamos saber se
há um contrato. Mas, mesmo que
ele não exista, podemos pegar fitas de vídeo dos jogos e verificar
se está acontecendo uma utilização publicitária dos números nas
camisas", disse Miyazaki.
No jogo de domingo passado,
entre Grêmio e Palmeiras, no estádio Olímpico, por exemplo, o
número 23 (Intelig), exposto nas
camisas de Adão (Grêmio) e Jorginho (Palmeiras), foi exibido na
televisão inúmeras vezes.
Curiosamente, as empresas telefônicas estão investindo pesado
na Copa João Havelange. A Embratel é anunciante da Globo,
emissora que possui direitos exclusivos sobre a competição. Já a
Intelig tem explorado as placas de
publicidade dos estádios -apareceu com destaque no jogo de
domingo no Olímpico.
""O cérebro das pessoas vai registrando o número das empresas", disse Miyazaki, referindo-se
à campanha publicitárias das
principais empresas telefônicas
do país, que apostam na fixação
do número pelo usuários.
Flávio Calazans, 38, professor
de comunicação da faculdade
Cásper Líbero e especialista em
publicidade subliminar, acredita
que o uso dos números das empresas telefônicas nas camisas dos
jogadores de futebol podem ser
memorizados pelo torcedores.
""É um princípio de merchandising, como uma garrafa, uma
Honda (moto) numa novela na
televisão. Há o efeito de memorização, que leva o número ao produto", disse Calazans.
Segundo ele, as pessoas desconhecem a lei que trata da publicidade subliminar e, por isso, as
empresas telefônicas poderiam
estar aproveitando a pouca discussão sobre o tema para usar o
expediente no futebol.
""A probabilidade de estarem fazendo propaganda subliminar é
muito grande. Quantas pessoas
sabem que existe merchandising
em novela? Quase ninguém sabe.
As pessoas são pegas desprevenidas, indefesas. São vítimas", disse.
Calazans diz que, além de crime,
a publicidade subliminar é antiética. ""Todo merchandising não
assumido é antiético. Fere o Código de Defesa do Consumidor e o
artigo 22 do Código de Ética dos
Publicitários. Por isso, é lógico
que as empresas vão negar qualquer contato", disse. Ele entende
ainda que o sucesso do jogador
contribui diretamente para a fixação na memória do torcedor. Por
isso, os jogadores com mais prestígio, como Roger do Fluminense,
seriam os mais indicados para
utilizar os números das empresas.
""Se o jogador tiver sucesso, o
efeito dá mais resultado, como a
camisa 10 do Pelé. Em contrapartida, pode haver rejeição. A torcida do Flamengo pode rejeitar a
Embratel devido ao 21 na camisa
do Roger", disse.
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