São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2000


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FUTEBOL
Órgão vê publicidade enganosa por omissão na estratégia de marketing
Procon pode multar clubes e atletas pela propaganda

DA REPORTAGEM LOCAL

Na avaliação do Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), os clubes e os jogadores que estão utilizando números de empresas telefônicas como estratégia de marketing velada na Copa João Havelange estão ferindo o artigo 36 do Código de Defesa do Consumidor e, por isso, podem ser multados pelo órgão.
""A publicidade deve ser assumida. Se está na camisa do jogador, isso tem que estar claro de alguma forma para o torcedor. Seria propaganda enganosa por omissão, já que a publicidade não é identificada. Clubes, jogadores, empresas, todos que fazem parte da cadeia podem ser multados", disse Elisete Miyazaki, assessora de direção do Procon de São Paulo.
Segundo Miyazaki, o fato de jogadores de destaques estarem atuando com números pouco comuns -os titulares costumam usar camisas de 1 a 11- deixa clara a estratégia de marketing.
""É uma falta de respeito para quem assiste. Às vezes, o número identifica o jogador. As pessoas sabem que o centroavante é o 9, o 10 está no meio-campo. As pessoas marcam o número, como o 10 do Pelé, o 9 do Ronaldinho. Um número 21 ou 23 jogando é muito estranho", disse Miyazaki.
Segundo ela, o Procon pode multar clubes, jogadores e empresas mesmo que não seja comprovada a existência de um contrato entre as três partes.
""Primeiro, precisamos saber se há um contrato. Mas, mesmo que ele não exista, podemos pegar fitas de vídeo dos jogos e verificar se está acontecendo uma utilização publicitária dos números nas camisas", disse Miyazaki.
No jogo de domingo passado, entre Grêmio e Palmeiras, no estádio Olímpico, por exemplo, o número 23 (Intelig), exposto nas camisas de Adão (Grêmio) e Jorginho (Palmeiras), foi exibido na televisão inúmeras vezes.
Curiosamente, as empresas telefônicas estão investindo pesado na Copa João Havelange. A Embratel é anunciante da Globo, emissora que possui direitos exclusivos sobre a competição. Já a Intelig tem explorado as placas de publicidade dos estádios -apareceu com destaque no jogo de domingo no Olímpico.
""O cérebro das pessoas vai registrando o número das empresas", disse Miyazaki, referindo-se à campanha publicitárias das principais empresas telefônicas do país, que apostam na fixação do número pelo usuários.
Flávio Calazans, 38, professor de comunicação da faculdade Cásper Líbero e especialista em publicidade subliminar, acredita que o uso dos números das empresas telefônicas nas camisas dos jogadores de futebol podem ser memorizados pelo torcedores.
""É um princípio de merchandising, como uma garrafa, uma Honda (moto) numa novela na televisão. Há o efeito de memorização, que leva o número ao produto", disse Calazans.
Segundo ele, as pessoas desconhecem a lei que trata da publicidade subliminar e, por isso, as empresas telefônicas poderiam estar aproveitando a pouca discussão sobre o tema para usar o expediente no futebol.
""A probabilidade de estarem fazendo propaganda subliminar é muito grande. Quantas pessoas sabem que existe merchandising em novela? Quase ninguém sabe. As pessoas são pegas desprevenidas, indefesas. São vítimas", disse.
Calazans diz que, além de crime, a publicidade subliminar é antiética. ""Todo merchandising não assumido é antiético. Fere o Código de Defesa do Consumidor e o artigo 22 do Código de Ética dos Publicitários. Por isso, é lógico que as empresas vão negar qualquer contato", disse. Ele entende ainda que o sucesso do jogador contribui diretamente para a fixação na memória do torcedor. Por isso, os jogadores com mais prestígio, como Roger do Fluminense, seriam os mais indicados para utilizar os números das empresas.
""Se o jogador tiver sucesso, o efeito dá mais resultado, como a camisa 10 do Pelé. Em contrapartida, pode haver rejeição. A torcida do Flamengo pode rejeitar a Embratel devido ao 21 na camisa do Roger", disse.


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