São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2006

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Nadadores criam motim para peitar TV e mudar Jogos

Chefiado por estrelas das piscinas e com adeptos no Brasil, movimento visa alterar programa estipulado para 2008

Atletas querem manter tradição e não disputar medalhas olímpicas de manhã, horário almejado pelas emissoras dos EUA


GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Derrubar os interesses comerciais das TVs em prol das performances esportivas. Mudar o programa da próxima Olimpíada. Unir uma categoria que sempre engoliu quieta os abusos dos cartolas.
Os objetivos de um movimento raro nas modalidades que integram o programa dos Jogos até parecem inalcançáveis, não fosse o currículo dos que integram a revolta.
Nadadores que brilham nos campeonatos de elite e ex-campeões das piscinas são os descontentes que a cada dia arregimentam mais seguidores -inclusive no Brasil- para peitar dirigentes da Federação Internacional de Natação e do Comitê Olímpico Internacional.
A principal meta do grupo, puxado pelo holandês Pieter van den Hoogenband, pelo australiano Michael Klim e pelo austríaco Markus Rogan -juntos, somam 15 medalhas olímpicas-, é formalizar um protesto da classe contra o horário previsto para a realização das finais da natação nos Jogos de Pequim, em 2008.
Torneios do gênero costumam ser disputados com provas eliminatórias pela manhã e finais na parte da tarde.
Na China, para atender a interesses das emissoras de TV, especialmente das norte-americanas, o projeto é inverter a grade. Só assim o público dos EUA conseguiria assistir às decisões em horário nobre.
"A questão é que a maioria dos atletas se sente melhor para nadar à tarde. É uma tradição, e, para muitos, uma questão biológica. Romper tudo isso em nome de interesses financeiros pode significar queda na qualidade técnica do evento", diz Gustavo Borges, interlocutor no Brasil dos insurgentes.
O ex-nadador, que se aposentou em 2004 após subir quatro vezes ao pódio olímpico, integra a comissão de atletas da federação internacional e explica que negociações estão em curso há pelo menos dois meses.
A estratégia é buscar apoio de estrelas com bom trânsito no COI, como os recordistas mundiais Alexander Popov (RUS) e Janet Evans (EUA), que já prometeram auxílio. "Quem está competindo precisa treinar, não tem tempo para se reunir com dirigentes. Neste ponto, podemos ajudar", diz Borges.
Ele pretende conversar com brasileiros que estão na ativa para explicar a importância de aderir ao movimento e de fortalecer a classe, que não possui um sindicado e sempre vive à mercê dos dirigentes.
Klim, seu colega australiano, é mais ousado. O nadador declarou a um jornal de seu país que deve viajar pelo mundo em busca defensores do projeto. O Brasil seria um de seus destinos. "Vou fazer o que for possível, porque somos os protagonistas da Olimpíada e não podemos nos curvar aos dólares americanos", declarou.
O COI relata, por meio de sua assessoria, que horários das disputas de 2008 não foram definidos. A entidade pretende debater com as emissoras que transmitirão o campeonato.
O problema é que as TVs respondem pela maior parte da receita olímpica. Só a norte-americana NBC, principal interessada na inversão da grade chinesa, pagou 2,75 bilhões para transmitir as Olimpíadas entre 2000 e 2008.


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