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Nadadores criam motim para peitar TV e mudar Jogos
Chefiado por estrelas das piscinas e com adeptos no Brasil, movimento visa alterar programa estipulado para 2008
Atletas querem manter tradição e não disputar medalhas olímpicas de manhã, horário almejado pelas emissoras dos EUA
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Derrubar os interesses comerciais das TVs em prol das
performances esportivas. Mudar o programa da próxima
Olimpíada. Unir uma categoria
que sempre engoliu quieta os
abusos dos cartolas.
Os objetivos de um movimento raro nas modalidades
que integram o programa dos
Jogos até parecem inalcançáveis, não fosse o currículo dos
que integram a revolta.
Nadadores que brilham nos
campeonatos de elite e ex-campeões das piscinas são os descontentes que a cada dia arregimentam mais seguidores -inclusive no Brasil- para peitar
dirigentes da Federação Internacional de Natação e do Comitê Olímpico Internacional.
A principal meta do grupo,
puxado pelo holandês Pieter
van den Hoogenband, pelo australiano Michael Klim e pelo
austríaco Markus Rogan -juntos, somam 15 medalhas olímpicas-, é formalizar um protesto da classe contra o horário
previsto para a realização das
finais da natação nos Jogos de
Pequim, em 2008.
Torneios do gênero costumam ser disputados com provas eliminatórias pela manhã e
finais na parte da tarde.
Na China, para atender a interesses das emissoras de TV,
especialmente das norte-americanas, o projeto é inverter a
grade. Só assim o público dos
EUA conseguiria assistir às decisões em horário nobre.
"A questão é que a maioria
dos atletas se sente melhor para nadar à tarde. É uma tradição, e, para muitos, uma questão biológica. Romper tudo isso
em nome de interesses financeiros pode significar queda na
qualidade técnica do evento",
diz Gustavo Borges, interlocutor no Brasil dos insurgentes.
O ex-nadador, que se aposentou em 2004 após subir quatro
vezes ao pódio olímpico, integra a comissão de atletas da federação internacional e explica
que negociações estão em curso há pelo menos dois meses.
A estratégia é buscar apoio de
estrelas com bom trânsito no
COI, como os recordistas mundiais Alexander Popov (RUS) e
Janet Evans (EUA), que já prometeram auxílio. "Quem está
competindo precisa treinar,
não tem tempo para se reunir
com dirigentes. Neste ponto,
podemos ajudar", diz Borges.
Ele pretende conversar com
brasileiros que estão na ativa
para explicar a importância de
aderir ao movimento e de fortalecer a classe, que não possui
um sindicado e sempre vive à
mercê dos dirigentes.
Klim, seu colega australiano,
é mais ousado. O nadador declarou a um jornal de seu país
que deve viajar pelo mundo em
busca defensores do projeto. O
Brasil seria um de seus destinos. "Vou fazer o que for possível, porque somos os protagonistas da Olimpíada e não podemos nos curvar aos dólares
americanos", declarou.
O COI relata, por meio de sua
assessoria, que horários das
disputas de 2008 não foram definidos. A entidade pretende
debater com as emissoras que
transmitirão o campeonato.
O problema é que as TVs respondem pela maior parte da receita olímpica. Só a norte-americana NBC, principal interessada na inversão da grade chinesa, pagou 2,75 bilhões para
transmitir as Olimpíadas entre
2000 e 2008.
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