São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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TOSTÃO

Bela e atípica vitória


A bela atuação foi atípica, já que, no campo do adversário, a seleção brasileira jogou mal durante dois anos

NÃO HAVIA razão para falarem tanto, antes do jogo contra o Chile, que o Brasil, enfim, ia jogar com três atacantes (Ronaldinho, Robinho e Luis Fabiano), além de um meia ofensivo (Diego). Não existe também motivo para dizerem tanto que o Brasil venceu porque Dunga acordou e colocou o time no ataque.
Nos dois anos sob o comando de Dunga, a seleção jogou muitas vezes e mal com Kaká, Ronaldinho, Robinho e mais um centroavante. Com Kaká no lugar de Diego, a equipe fica mais ofensiva, já que Kaká tem mais característica de atacante.
Além da fragilidade técnica e física dos chilenos, a seleção venceu e convenceu porque não queria passar a vergonha de ir para o sexto lugar, Robinho e Luis Fabiano jogaram demais, e a equipe mostrou disciplina tática e uma nova maneira de atuar, com dois atacantes abertos, um de cada lado.
Em todas as partidas anteriores em que Kaká, Robinho e Ronaldinho jogaram juntos, além de um centroavante, os três ficaram embolados, um atrapalhando o outro.
Contra o Chile, faltou Ronaldinho fazer pela esquerda o que Robinho fez pela direita. Ele marcou mais atrás e chegou com velocidade e muitas vezes na frente, pelo meio e pela ponta.
Robinho ia para o centro no momento certo, para decidir a jogada, como no gol. Assim, Felipão queria vê-lo jogar no Chelsea. Pena que foi para o Manchester City.
Dunga deveria exigir, mesmo contra a fraquíssima Bolívia, mais disciplina tática. Os jogadores deveriam criar o hábito de jogar como fizeram contra o Chile.
É preciso acabar com o mito de que os talentos do meio para frente não podem nem devem ter obrigações táticas. É o contrário. Eles só se sentem seguros, criam e improvisam quando têm funções bem definidas. O conteúdo não sobrevive sem a forma.
É preciso ainda corrigir várias deficiências.
Um time bem treinado precisa saber marcar mais atrás para contra-atacar, como jogou o Brasil nessa partida e nos últimos dois anos, e também marcar por pressão, principalmente quando enfrenta equipes inferiores, como é a maioria.
O Brasil não sabe também o momento certo de tocar a bola sem pressa e o de chegar mais rápido ao gol. As duas posturas são importantes. Apesar dos pedidos de Dunga, uma das principais deficiências da seleção tem sido trocar poucos passes.
Outra dificuldade de Dunga, da maioria dos técnicos, de todos nós e de qualquer profissional, é enxergar e saber priorizar, sem perder tempo, sem dar muitas voltas, o que tem realmente mais importância.
Dunga demorou dois anos para trocar Vágner Love e Afonso por Luís Fabiano, que jogou muito bem no Sevilla durante esse período, e também para perceber a melhor posição de Robinho. Pela esquerda, ele ainda é melhor.
Depois de jogar mal, mesmo nas vitórias, a maioria das partidas durante dois anos, não podemos nos iludir por apenas um jogo nem por uma provável goleada contra a fraquíssima Bolívia.
O Brasil ainda não reencontrou o seu ótimo futebol. A bela atuação contra o Chile, no campo do adversário, foi surpreendente e atípica.


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