São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Futebol boliviano reproduz caos do país

Jogadores ameaçam entrar em greve se o presidente Evo Morales não retirar taxação de 15,5% nos salários dos atletas

Ex-aliado do governo exige que acordo seja cumprido e não descarta paralisação de boleiros, que não pagaram imposto nos últimos 30 anos


DO ENVIADO AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

O futebol da Bolívia vive uma crise com muitos dos ingredientes que mergulharam o país como um todo no caos.
Greves, desobediência fiscal e atritos com o presidente Evo Morales, um cenário comum em quase toda a Bolívia atualmente, também estão na pauta dos jogadores do país andino.
Na semana anterior ao jogo de hoje contra o Brasil, os jogadores convocados pelo técnico Erwin Sanchez ameaçavam nem entrar em campo. Cobravam do governo e dos cartolas o cumprimento de vários acordos anteriores, como respeito a decisões judiciais e o pagamento de um plano de saúde.
A insurgência mais grave aconteceu no primeiro semestre, quando os jogadores convocaram uma greve geral.
O motivo: o mesmo que paralisou recentemente outros setores da economia boliviana, como o de transportes.
Os atletas não admitiam pagar uma taxa de 15,5% de seus salários, o que seria o equivalente ao Imposto de Renda da maioria das nações -em mais de 30 anos de liga profissional boliviana, os jogadores de futebol não pagavam imposto.
Só que no caso dos jogadores o governo Molares não teve a mesma dureza que tem contra o governo das Províncias mais ricas que formam o país e de empresários de vários setores.
Cinco dias depois da greve decretada, um acordo entre clubes e jogadores foi avalizado pelo governo boliviano, e a paralisação foi suspensa.
O principal "piqueteiro" do futebol boliviano é justamente um antigo colaborador do governo de Morales.
Presidente do sindicato dos jogadores da Bolívia, Milton Melgar, que foi um atleta da seleção local, era até há pouco tempo vice-ministro de Esportes de Morales e teve papel essencial na resistência ao veto da Fifa a jogos na altitude, causa transformada em prioridade no governo boliviano. Isso também porque Morales é fanático por futebol -já foi até jogador de clubes profissionais.
Melgar saiu atirando. Afirmou que apresentou 12 projetos ao presidente e não obteve resposta para nenhum deles.
"Saio decepcionado", afirmou Melgar na ocasião.
Agora, ele promete endurecer se os novos acordos com os cartolas e governo não forem cumpridos, citando até a possibilidade de mais uma greve.
Com um cenário desses, a Bolívia faz sua pior campanha nas eliminatórias com a atual fórmula e mesma ordem de jogos, o que acontece pela terceira vez. São apenas quatro pontos ganhos, o que faz do time o lanterna do qualificatório para o Mundial de 2010.
Desempenho que coloca o time em último lugar. Ainda assim, Dunga pede respeito máximo ao adversário na partida de hoje à noite, no Engenhão.
"A primeira coisa que vou falar para os meus jogadores é para não utilizarem a palavra lanterna. Sabemos que eles estão em situação ruim, mas também têm pontos positivos", falou o treinador do Brasil, sobre seu rival de hoje no Rio de Janeiro. (PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


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