São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Clube amarga dívidas aproximadas de R$ 60 milhões, enquanto herdeira do HMTF anuncia capital de R$ 82 milhões

"Falido", Corinthians vê ex-parceiro rico

EDUARDO ARRUDA
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, dívidas que podem chegar a R$ 60 milhões. Do outro, uma empresa com capital de quase R$ 82 milhões, controlada por sócias criadas num paraíso fiscal pelo fundo americano HMTF.
A primeira situação é vivida pelo Corinthians, e a segunda pela Panamerican Sports Teams Licenciamento, herdeira da parceria do clube com o HMTF, que durou de 1999 a 2002.
Com sede em São Paulo, a empresa tem todo o seu capital dividido entre a Corinthians Sports Licensing Company e Pan American Team Sports Co.
As duas "offshore" (empresa que normalmente tem o objetivo de colocar dinheiro e corporações a salvo do controle dos Estados nacionais) foram abertas em George Town, nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal.
O status é o mesmo das Ilhas Virgens, onde foi criada a MSI (Media Sports Investments), com a qual uma parceria é vista pelo clube como solução para as dívidas. A Panamerican Sports Team Licenciamento passou a ter esse nome após o fim da parceria. Antes, se chamava Corinthians Licenciamentos, criada para administrar os negócios dos parceiros.
Dados da Junta Comercial de São Paulo registram uma história de milionários aportes de capital feitos na empresa. São números que contrastam com a penúria vivida hoje pelos corintianos. Freqüentemente, o clube recorre a empréstimos para pagar os salários de seus jogadores.
A sucessora da Corinthians Licenciamentos tem agora um capital de R$ 81.969.768. "Esse dinheiro entrou no país pelo Banco Central na época em que a parceria estava em vigor. Veio para que pudéssemos cumprir nossos compromissos", disse Adhemar Magon, da PST, que saiu da parceria alegando que a empresa tinha prejuízo mensalmente.
"Esse capital não significa que temos todo o valor em dinheiro. O que temos hoje são jogadores." No time profissional do Corinthians, o único atleta que é 100% da empresa é o volante Fabinho. O ex-parceiro tem também participação em revelações no clube.
A empresa responsável pelos negócios entre Corinthians e HMTF sempre teve o seu capital sob o controle de sócios estabelecidos em paraíso fiscal.
A Corinthians Licenciamentos foi registrada na Junta Comercial em julho de 1999 como terceiro nome da Logus Comércio e Comunicações, criada em abril de 1998. Em maio de 1999, ela passou a se chamar Futebol Licenciamentos e começou a ser controlada pelas sócias nas Ilhas Cayman.
"Todas as grandes empresas se estabelecem em paraísos fiscais para pagar menos impostos. Não é ilegal", disse Magon.
A entrada do HMTF fez o capital da empresa pular de R$ 1.000 para R$ 8,6 milhões. Três meses depois, o valor já tinha passado para R$ 44,8 milhões.
O auge da injeção de dinheiro na parceria ocorreu em dezembro de 2001, quase dois anos após o Corinthians conquistar o Mundial de Clubes da Fifa.
Na ocasião, o capital era de 107,4 milhões. Em abril de 2002, com a parceria ainda em funcionamento, esse valor caiu para R$ 85,7 milhões, próximo ao capital de hoje.
Segundo Magon, o fato de o capital ser controlado por empresas nas Ilhas Cayman não fará com que seus patrões deixem de ser solidários com o Corinthians nos processos trabalhistas gerados no período da parceria.
"Respondemos com cerca de R$ 80 milhões, mesmo com as empresas fora do país."
Somente o atacante Luizão cobra R$ 6 milhões em vencimentos atrasados do clube. Conseguiu a penhora de um dos terrenos do Parque São Jorge. A diretoria corintiana afirma que quem deve a Luizão é o ex-parceiro.
De acordo com o presidente Alberto Dualib, os salários do atleta, que eram de responsabilidade do Corinthians, estavam em dia. Mas o restante, referente a direitos de imagem, que era pago pelo HMTF, não foi liquidado.
O contrato com o HMTF, que deveria durar até 2009, foi interrompido em 2002. O Corinthians até tentou ser indenizado pelo fundo, mas o contrato não previa multa rescisória.

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