São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Obsessão pela marcação

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Nos últimos anos, melhorou bastante o comportamento dos técnicos brasileiros durante as partidas e nas entrevistas.
Hoje, a maioria trata bem os repórteres (é uma obrigação profissional) e explica as suas condutas. O torcedor tem o direito de saber. Antes, muitos treinadores não diziam nada ou sofismavam e ainda tratavam os jornalistas com prepotência.
Alguns treinadores ainda não perderam o hábito de enganar, de dizer uma coisa aos repórteres e outra para os jogadores. Muitos desses agem assim porque pensam que os torcedores e a imprensa esportiva não entendem nada de futebol.
Há muitos técnicos transparentes, como Tite, que tentam explicar tudo com teorias táticas, mas é difícil entender os seus discursos rebuscados e formais.
Durante as partidas, houve também uma evolução no comportamento dos técnicos. Antes, era comum eles pressionarem e ofenderem árbitros e auxiliares. Hoje, isso é raro. Alguns ainda reclamam demais, como Leão, Luxemburgo e Levir Culpi.
Vários técnicos adoram "cantar o jogo" e gritar na lateral do campo. Falam que jogam com os atletas. Isso agrada a um grande número de torcedores, que prefere os treinadores teatrais e menos competentes aos silenciosos que enxergam bem o jogo e dão instruções no momento certo, quando pára a partida.
Os técnicos não precisam ser tão insensíveis e posudos como os europeus (é também um teatro) nem tão agitados e ansiosos como os brasileiros. Nenhum treinador vai mudar a história do jogo com gritos e palavrões. Atrapalha mais do que ajuda.
Na partida entre Cruzeiro e Coritiba, Antonio Lopes e Marco Aurélio gritaram o tempo todo "aperta, aperta". Evidentemente que era para apertar na marcação. Interessante é que o Marco Aurélio e o Antonio Lopes nunca gritavam ao mesmo tempo. Será que combinaram?
Antes, a ordem era "pega, pega". Faz pouca diferença. Será que o Geninho, famoso por gritar durante uma partida, berra hoje "pega" ou "aperta"?
Os times brasileiros são os que mais marcam e fazem faltas no mundo. Os técnicos se tornaram obsessivos pela marcação. Só pensam nisso. Virou uma epidemia, uma neurose coletiva.

Quem é o melhor?
No ano passado, antes de o Cruzeiro disparar, discutia-se muito qual era o melhor time brasileiro. Agora, a dúvida é entre Santos e Atlético-PR.
As duas equipes se destacam pela velocidade, habilidade e ofensividade. Mas há importantes diferenças. O Santos não tem um centroavante fixo, artilheiro absoluto e que atue de pivô, como Washington. Todos os atacantes do Santos se movimentam bastante e fazem gols.
Em casa, o Santos pressiona, marca a saída de bola, cria muitas chances de gol, mas deixa muitos espaços na defesa.
Fora, o time muda a maneira de jogar. O Atlético-PR, dentro e fora de casa, prefere recuar um pouco, atrair o adversário e tomar a bola no meio-campo para contra-atacar, a sua principal qualidade.
Os desenhos táticos são diferentes. O Atlético-PR joga com três autênticos zagueiros e é bastante ofensivo. Os dois alas avançam como meias e fazem gols.
Outras equipes já começam a fazer a mesma coisa. Com três zagueiros, não é necessário também ter dois volantes somente marcadores.
O Santos joga com dois zagueiros e dois laterais, que avançam bastante. O time corre muitos riscos na defesa, o que não acontecia com o Cruzeiro no ano passado, quando era dirigido pelo Luxemburgo e jogava da mesma forma. Falta ao Santos um volante eficiente como Maldonado. Ricardinho também tem dificuldades para defender e atacar.
Individualmente, Santos e Atlético-PR estão no mesmo nível do meio para a frente. O Santos tem melhor lateral-esquerdo, porém o goleiro e os dois zagueiros do Atlético-PR são superiores. Marinho voltou a jogar bem, sem inventar e fazer firulas, como acontecia na época do Grêmio.
No balanço das virtudes e deficiências, acho o Atlético-PR um pouco melhor. Isso e mais a diferença de três pontos dá ao time paranaense razoável vantagem para conquistar o título. Porém muita coisa pode acontecer. Levir Culpi, mesmo com vários títulos na carreira, costuma se perder diante do sucesso.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br

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