São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Sob pressão da Bolívia e sem conexão ao ataque, seleção marca de falta, empata em 1 a 1 e encerra série de derrotas

No sufoco, Brasil lucra na temida La Paz

RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Aizar Raldes/France Presse
Robinho, que teve atuação discreta, tenta escapar do boliviano Luiz Cristaldo durante empate entre as seleções ontem, em La Paz


Ofegante, o técnico Carlos Alberto Parreira pediu para não falar no campo, ao fim do 1 a 1 com a Bolívia. Se, sentado no banco, ele sentiu os efeitos da altitude de La Paz, com os jogadores da seleção reserva não foi diferente, ontem, ante à pressão rival.
Com Robinho extremamente discreto e Adriano marcado à exaustão, a cobrança de falta de Juninho Pernambucano, aos 25min do primeiro tempo, deu tranqüilidade no jogo para o pouco entrosado time de Parreira.
Após o gol, a estratégia era deixar o tempo passar com passes laterais. A equipe vinha de duas derrotas em eliminatórias nos 3.600 m da capital boliviana.
Desde o início, o time tinha dificuldades de sair jogando, devido à marcação exercida pela Bolívia já na intermediária. Quando a bola passava do meio, a troca de passes curtos e rasteiros entre Ricardinho e Juninho com os atacantes Adriano e Robinho não era eficiente. Tanto era assim que Parreira saiu de campo dizendo que a seleção deveria ""melhorar o toque de bola e parar de dar chutão da defesa" no segundo tempo.
Pelo que se viu em campo, o técnico Ovidio Messa orientou os bolivianos a atacar principalmente pela esquerda, imaginando que Cicinho teria uma atuação mais ofensiva, o que não ocorreu.
Mais adaptados ao jogo no ar rarefeito, os andinos arriscavam chutes de média distância, apostando na velocidade da bola para vencer Júlio César -que fez difíceis defesas- e em cruzamentos para a área, atrás de Botero e Gutiérrez. "O Júlio César foi fundamental", analisou Parreira.
Só no primeiro tempo, a Bolívia executou 15 cruzamentos contra apenas seis do Brasil, que, mesmo sem ser tão ofensivo, cadenciava o jogo e detinha mais a bola: 52% contra 48%, segundo o Datafolha.
A estratégia boliviana deu certo aos 5min do segundo tempo, mas com nomes novos. Pachi, que substituiu Gutiérrez, levantou bola na área para Botero, nas costas de Cicinho. Livre de marcação, ele escorou de cabeça para Castillo, que substituiu Hoyos, empatar. Roque Júnior, que o marcava, só assistiu à jogada adversária.
A verdade é que o Brasil voltou para o segundo ainda menos agressivo, talvez pelo cansaço. Com os erros de passe de ambas as equipes e as faltas duras -que castigaram especialmente Cicinho- , o jogo entediava.
Pusilânime, o árbitro uruguaio Jorge Larrionda deixava a partida correr, o que enervou os brasileiros. Ainda mais num jogo que só cumpria tabela -a Bolívia não tinha chances de classificação.
Dez minutos após o gol, Parreira optou por tirar Renato e o lateral-esquerdo Gilberto, colocando Alex, do Fenerbahce (Turquia), e o corintiano Gustavo Nery.
Pouco mudou. O Brasil só assustou Arias em chute de Adriano, dentro da área, aos 30min.
A última cartada de Parreira foi o vigor físico de Júlio Baptista no lugar de Juninho Pernambucano. O jogo continuou com claro desinteresse do Brasil e com o automatismo boliviano em cruzamentos na área. "Eles apostaram nessa jogada porque, com essa altitude, a bola ganha velocidade, complica para o goleiro", disse Parreira.
Quando anunciados, os três minutos de acréscimo dados por Larrionda soaram como um castigo para os torcedores presentes no estádio Hernando Siles.
No fim do jogo, muitos jogadores saíram exaustos. Tranqüilos com a declaração de Parreira, que dissera que o jogo não seria um teste efetivo, muitos viram o empate como lucro em La Paz. "Foi bom, pelo trabalho, pela altitude", afirmou Gustavo Nery.
Bem mais cansado, Robinho saiu de campo menos satisfeito. "Queríamos sair com um resultado um pouquinho melhor, mas infelizmente não deu", disse o atacante, mais esperançoso para a rodada final das eliminatórias, quando o Brasil encara a Venezuela, na quarta, em Belém.
"Resultado bom seria a vitória, mas podemos dizer que foi satisfatório", resumiu Parreira.

Texto Anterior: Técnicos brasileiros igualam recorde
Próximo Texto: Atletas chegam a pé e reclamam de viagem
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.