São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

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Marion apaga sonho de recorde

Americana, que admitiu usar doping, foi quem mais ameaçou marcas suspeitas dos 100 m e dos 200 m

COI e Iaaf agem rápido para expulsá-la de Olimpíada, cassar medalhas, banir seus tempos e obrigá-la a devolver dinheiro de prêmios

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Florence Griffith-Joyner viu seus recordes serem postos em xeque por uma jovem velocista dez anos após obtê-los.
Em Johannesburgo, em 11 de setembro de 1998, Marion Jones cravou 21s62 nos 200 m. No dia seguinte, venceu os 100 m em 10s65. Nunca antes os tempos do principal nome da Olimpíada de Seul-88 tinham sido tão ameaçados. Nove dias depois, Florence, 38, morreu, gerando ainda mais suspeita sobre suas performances.
Com musculatura avantajada e visual chamativo, ela cravou o recorde dos 200 m (21,34) em Seul -já era dona da marca dos 100 m (10s49).
Se o mistério sepultado com a atleta ainda não foi desvendado, as marcas de Marion Jones, 31, estão perto de serem cassadas. O Comitê Olímpico Internacional e a Associação Internacional das Federações de Atletismo se apressam em concluir o processo que irá tirar as glórias do currículo da atleta.
Após a confissão, na quinta, de que usou doping, a velocista terá suas melhores marcas anuladas. Na prática, quem chegou mais perto dos suspeitos recordes de Florence terá o nome apagado dos registros.
Marion Jones confessou o uso de THG, esteróide anabólico criado só para burlar o antidoping. A droga era fornecida pelo técnico Trevor Graham, que dizia ser "óleo de linhaça".
Anteontem, Marion Jones começou a sair pela porta dos fundos da história olímpica ao devolver as cinco medalhas obtidas em Sydney-2000. Mesmo destino terão os pódios em Mundiais. Para COI e Iaaf, porém, isso não basta. As entidades querem que a atleta devolva as premiações. Não é pouca quantia. Entre outras receitas, ela dividiu prêmio de US$ 2 milhões (R$ 3,6 milhões) referente aos títulos das seis etapas da Liga de Ouro em 2001 e 2002.
O comitê quer banir seu nome da Olimpíada, o que não seria problema, já que Marion Jones encerrou a carreira. Porém ela não poderia participar dos Jogos em nenhuma função.
Além das medalhas conquistadas por Marion Jones nas provas individuais, os EUA podem perder os pódios olímpicos nos revezamentos. Mas há controvérsia quanto a isso.
Em caso semelhante, Jerome Young, que teve doping encoberto em 1999, viu ser cassado seu ouro no 4 x 400 m em Sydney. Mas a sentença conservou o título para os EUA.
Ontem, no entanto, o presidente do Comitê Olímpico dos EUA, Peter Ueberroth, disse que a simples presença de Marion Jones na equipe "manchou" aquelas conquistas. Segundo o COI, a decisão será feita de acordo com as regras da Iaaf, que divulgou que elas prevêem a exclusão da equipe toda.
Afora Marion Jones, Chryste Gaines e Torri Edwards, integrantes do time bronze no 4 x 100 m em 2000, também cumprem pena por doping.
O processo todo deve ser concluído até o fim do ano. Diante de tanta sujeira irradiada pela maior estrela de uma Olimpíada até então avaliada como bem-sucedida, o comitê quer reescrever logo a história.
A melhor definição da saia justa criada com a fraude de Marion Jones foi de Dick Pound, chefe da Agência Mundial Antidoping: "Quando alguma coisa parece muito boa para ser verdade, provavelmente é".


Com agências internacionais

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