São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2000

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JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Em depoimento ontem à CPI da CBF/Nike, instalada na Câmara, o ex-presidente da Fifa João Havelange negou ter qualquer conhecimento do teor do contrato que gerou a criação da comissão.
Indagado pelo relator Sílvio Torres (PSDB-SP), João Havelange foi curto: "Nunca o li, nunca o vi e não vejo razão para que ele tivesse chegado às minhas mãos. É um problema interno".
Com essa resposta, ele evitou, daí em diante, comentar ou responder qualquer questão que tivesse como alvo o contrato, objeto principal da investigação, praticamente anulando a importância de seu depoimento.
Torres, insatisfeito com a resposta, disse que o dirigente havia sido convocado para falar do contrato com base em uma reportagem publicada pela Folha, na qual Havelange tecia considerações sobre termos do contrato.
Os parlamentares também apresentaram uma cópia de reportagem do diário carioca "O Dia", na qual ele também comentava o documento.
Havelange, primeiro, negou que tivesse falado sobre o contrato na entrevista à Folha. Mais tarde, disse que não tinha concedido as entrevistas nem conhecia o jornalista que conversou com ele.
À Folha, no entanto, o dirigente afirmou, em seu escritório no centro do Rio, no último dia 18 de outubro, que não via irregularidades no contrato, o que pressupõe que ele o conhecesse, e o considerava importante para o futebol brasileiro.
"A Nike não tem poder de influência na comissão técnica nem na convocação de jogadores"; "Foi um contrato entre empresas soberanas para saber o que lhes convêm", foram algumas das frases proferidas pelo ex-dirigente, gravadas pela reportagem.
Foi mais longe. Chegou a comparar a Traffic, agência de marketing que intermediou o contrato da CBF com a Nike, à ISL, braço de marketing da Fifa.
Disse ainda que o único ponto que poderia gerar problema era o fórum para o qual eventuais divergências jurídicas seriam levadas: Zurique, caso o Brasil fosse processar a Nike. Salientou, no entanto, que essa cláusula já havia sido mudada.
"A resposta dele (Havelange) foi absolutamente surpreendente para mim. Ele foi chamado para falar do contrato, está no termo de convocação que enviamos, foi citado por ele na matéria da Folha de 23 de outubro último. Da forma como foi o depoimento, para efeito de relatório, quase nada acrescentou", disse Torres ao final da sessão de ontem da CPI.
O presidente de honra da Fifa não estava sob juramento durante seu depoimento.
No início da sessão, a proposta do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que pretendia submeter Havelange ao juramento de só dizer a verdade, foi rejeitada pela comissão, que tem muitos deputados ligados a clubes de futebol, federações e à CBF.
Insatisfeitos com as respostas de Havelange, alguns deputados -pelos menos 20 se inscreveram para falar-, tentavam formular questões que levassem o dirigente a comentar o acordo.
Em alguns momentos entrou em contradição, dizendo que não sabia de outras confederações que tenham feito um contrato tão bom como o da CBF, dando a entender que conhecia.


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