São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2000

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FUTEBOL
Renata Alves faz comissão ir atrás de supostas contas do treinador
Senado investiga remessas de Luxemburgo ao exterior

Alan Marques/Folha Imagem
A ex-assessora Renata Alves mostra documento ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR) em depoimento à CPI do Futebol, ontem


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI do Futebol, instalada no Senado, decidiu ontem investigar supostas remessas de dinheiro feitas pelo ex-técnico da seleção brasileira Wanderley Luxemburgo para o exterior.
Na reunião secreta em que Renata Alves, ex-assessora de Luxemburgo, prestou depoimento, os senadores aprovaram um requerimento para que o Banco Central quebre o sigilo de supostas contas CC-5 do treinador.
Esse tipo de conta é regulamentado por lei e normalmente utilizado por empresas que têm matriz no exterior e pessoas com familiares vivendo fora do país. O mesmo tipo de conta, no entanto, têm servido para lavagem de dinheiro e envio para o exterior de recursos obtidos de forma ilegal.
Luxemburgo já teve os sigilos bancário e fiscal quebrados.
Foi aprovada também a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Renata Alves, de Sérgio Malucelli, de Eduardo Sakamoto e da empresa Luxemburgo Veículos, que, segundo a ex-procuradora, pertence ao técnico. Os sigilos serão quebrados no período entre 1993, ano em que Renata Alves disse ter começado a trabalhar para Luxemburgo, e 1999.
A CPI aprovou ainda o pedido que será feito para a Receita Federal de uma investigação nas contas da empresa Traffic, que participou da assinatura do contrato de patrocínio da Confederação Brasileira de Futebol com a Nike.
Também foi aprovada a quebra do sigilo telefônico de números que, de acordo com Renata Alves, eram usados pelo técnico. Ela forneceu à CPI números e telefones convencionais e celulares em seu nome e no do próprio Luxemburgo para quebra de sigilo.
Todos os requerimentos foram feitos pelo relator da CPI, Geraldo Althoff (PFL-SC), e aprovados durante a sessão secreta.

Outro lado
Marcos Malucelli, advogado de Wanderley Luxemburgo, disse que "não há um centavo de remessas" de dinheiro do ex-técnico da seleção para fora do país.
O advogado é irmão de Sérgio Malucelli, presidente do Irati, do Paraná, e citado por Renata como suposto sócio de Luxemburgo.
Marcos disse que seu irmão foi procurador de Luxemburgo na compra de automóveis no Paraná, sócio do técnico em um bar em Curitiba e que os dois tinham um projeto para a criação de uma fábrica de isotônicos em Irati.
Segundo Marcos, ele não é atualmente sócio de Luxemburgo nem participou de operações com o ex-técnico da seleção envolvendo a venda de jogadores.
Em seu depoimento de ontem, Renata Alves chegou a citar a existência de suposta conta de Luxemburgo nas Ilhas Cayman, conhecido paraíso fiscal. Marcos negou conhecer a suposta conta.
De qualquer forma, garantiu que Luxemburgo "nunca levou comissão" na venda de jogadores nem participou de negócios desse tipo. Segundo o advogado, Luxemburgo e seu irmão só se conheceram no final de 1996, quando Renata Alves não trabalhava mais para o técnico. Isso, afirma, a impediria de ter visto Sérgio Malucelli nas supostas reuniões na Barra da Tijuca, como ela declarou. O advogado disse que Renata Alves mente, não prova o que afirma e busca "notoriedade".
Para o advogado, o objetivo de Renata é aparecer na mídia. "Ela vai editar um livro", lembrou, referindo-se a uma declaração da ex-assessora, que quer reunir o caso em uma publicação.


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