São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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FUTEBOL
O século do futebol e de Pelé

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A overdose de melhores do século já está enchendo a cabeça de muita gente, mas não tenho como fugir do assunto. E, já que é assim, vou me afundar nele.
Já pensei muito sobre quem seria melhor, Pelé ou Maradona. Só acompanhei a carreira de Maradona. Do Pelé, vi alguns vídeos, lances e ouvi histórias.
Não tenho dúvida de que Maradona é o melhor jogador que vi atuar. Ele tem vários pontos a favor na disputa com Pelé, por questões técnicas (foi mais habilidoso), por razões históricas (jogou numa época em que o futebol era mais competitivo), geográficas (brilhou em países da Europa, onde o futebol é mais duro e visado) e genéticas (superou a baixa estatura e, por um tempo, a tendência para engordar).
Mas não tenho dúvida de que Pelé foi o melhor jogador da história. Ele tem vários pontos a favor numa disputa com qualquer jogador, alguns por questões matemáticas (ganhar três Copas e marcar mais de 1.200 gols são duas coisas muito difíceis), genéticas (sua condição física lhe permitiu ser exemplo de atleta e chegar aos 60 anos em ótimo estado) e de marketing (poucos conseguiram criar, propagar e manter a própria imagem tão bem pelo mundo afora).
Maradona teve sim a chance de destronar Pelé. Por um pouquinho, não ganhou quatro Copas. Foi barrado em 78 por Menotti por ser garoto, mas poderia ter levado a Argentina a um título mais honroso. Perdeu em 82, mas, com o time que o Brasil tinha e a aura com que a Itália estava, não venceria nunca. Ganhou sozinho em 86. Guiou a Argentina até a final em 90, mas engoliu um pênalti ""mandrake" contra a Alemanha. Em 94, apareceu com uma das melhores seleções de seu país, mas caiu no antidoping.
Foram três ""ses" que tiraram o melhor do século de Maradona. Pelé assistiu a todos os Mundiais desde 74 certo de que não teria concorrente. Só após a Copa de 86 levou um susto, depois superado.
Hoje, enquanto você está lendo esta coluna, Pelé deve estar a caminho de Roma para a premiação da Fifa ao melhor jogador de futebol do século. O resultado ninguém sabe, nem a Fifa mais. Mas Pelé está certo do que fez, do que os outros não fizeram e do que Maradona quase fez.
Ele sabe, como a maioria do planeta, que ele foi o melhor. E por isso, mesmo que a Fifa lhe reserve amanhã a desfeita do século, pode estar mesmo tranquilo.
Não estou escrevendo isso de forma ufanista, como alguns podem acreditar (quem me conhece bem, sabe que estou longe do ufanismo). Também não estou puxando o saco do Pelé para conseguir entrevistá-lo (continuará sendo algo quase impossível).
Prova do que escrevi acima é que não considero Pelé o atleta do século (não tenho dúvida de que Michael Jordan, pelo que vi, no mínimo se iguala a ele).
Mas defendo a tese de que o futebol é o grande vencedor do século. Nenhuma outra atividade conseguiu crescimento tão espantoso nos últimos cem anos. Pelé, Maradona e outros tantos deram sua contribuição.
O futebol, porém, terminará o século mais triste e menor se o seu melhor praticante sofrer a derrota do século.

O jogo do século
O Canal Plus espanhol fez um programa, intitulado ""El Partido de Siglo", que está fazendo sucesso na Europa. São 22 episódios, cada um com a história detalhada dos supostos 22 melhores jogadores do século. No total, foram 130 horas de gravação.

O horário do século
A Copa dos Campeões está sofrendo pesadas críticas, especialmente de Beckenbauer, devido à mudança do horário das partidas. Os jogos começavam às 20h30. Agora, são disputados às 20h45. Segundo o ex-craque alemão, os jogos começam tarde demais para as crianças assistirem.

O ausente do século
Nem Maradona nem Ricardo Teixeira são esperados no último encontro da Fifa neste século. O primeiro não vai porque não quer. O segundo não vai porque não pode. O segundo leva o título.

E-mail rbueno@folhasp.com.br



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