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FUTEBOL
O século do futebol e de Pelé
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
A overdose de melhores do
século já está enchendo a cabeça de muita gente, mas não tenho como fugir do assunto. E, já
que é assim, vou me afundar nele.
Já pensei muito sobre quem seria melhor, Pelé ou Maradona. Só
acompanhei a carreira de Maradona. Do Pelé, vi alguns vídeos,
lances e ouvi histórias.
Não tenho dúvida de que Maradona é o melhor jogador que vi
atuar. Ele tem vários pontos a favor na disputa com Pelé, por
questões técnicas (foi mais habilidoso), por razões históricas (jogou
numa época em que o futebol era
mais competitivo), geográficas
(brilhou em países da Europa, onde o futebol é mais duro e visado)
e genéticas (superou a baixa estatura e, por um tempo, a tendência
para engordar).
Mas não tenho dúvida de que
Pelé foi o melhor jogador da história. Ele tem vários pontos a favor numa disputa com qualquer
jogador, alguns por questões matemáticas (ganhar três Copas e
marcar mais de 1.200 gols são
duas coisas muito difíceis), genéticas (sua condição física lhe permitiu ser exemplo de atleta e chegar aos 60 anos em ótimo estado)
e de marketing (poucos conseguiram criar, propagar e manter a
própria imagem tão bem pelo
mundo afora).
Maradona teve sim a chance de
destronar Pelé. Por um pouquinho, não ganhou quatro Copas.
Foi barrado em 78 por Menotti
por ser garoto, mas poderia ter levado a Argentina a um título
mais honroso. Perdeu em 82, mas,
com o time que o Brasil tinha e a
aura com que a Itália estava, não
venceria nunca. Ganhou sozinho
em 86. Guiou a Argentina até a final em 90, mas engoliu um pênalti ""mandrake" contra a Alemanha. Em 94, apareceu com uma
das melhores seleções de seu país,
mas caiu no antidoping.
Foram três ""ses" que tiraram o
melhor do século de Maradona.
Pelé assistiu a todos os Mundiais
desde 74 certo de que não teria
concorrente. Só após a Copa de 86
levou um susto, depois superado.
Hoje, enquanto você está lendo
esta coluna, Pelé deve estar a caminho de Roma para a premiação da Fifa ao melhor jogador de
futebol do século. O resultado
ninguém sabe, nem a Fifa mais.
Mas Pelé está certo do que fez, do
que os outros não fizeram e do
que Maradona quase fez.
Ele sabe, como a maioria do
planeta, que ele foi o melhor. E
por isso, mesmo que a Fifa lhe reserve amanhã a desfeita do século, pode estar mesmo tranquilo.
Não estou escrevendo isso de
forma ufanista, como alguns podem acreditar (quem me conhece
bem, sabe que estou longe do ufanismo). Também não estou puxando o saco do Pelé para conseguir entrevistá-lo (continuará
sendo algo quase impossível).
Prova do que escrevi acima é
que não considero Pelé o atleta do
século (não tenho dúvida de que
Michael Jordan, pelo que vi, no
mínimo se iguala a ele).
Mas defendo a tese de que o futebol é o grande vencedor do século. Nenhuma outra atividade
conseguiu crescimento tão espantoso nos últimos cem anos. Pelé,
Maradona e outros tantos deram
sua contribuição.
O futebol, porém, terminará o
século mais triste e menor se o seu
melhor praticante sofrer a derrota do século.
O jogo do século
O Canal Plus espanhol fez um
programa, intitulado ""El Partido de Siglo", que está fazendo sucesso na Europa. São 22
episódios, cada um com a
história detalhada dos supostos 22 melhores jogadores do
século. No total, foram 130
horas de gravação.
O horário do século
A Copa dos Campeões está
sofrendo pesadas críticas, especialmente de Beckenbauer,
devido à mudança do horário
das partidas. Os jogos começavam às 20h30. Agora, são
disputados às 20h45. Segundo o ex-craque alemão, os jogos começam tarde demais
para as crianças assistirem.
O ausente do século
Nem Maradona nem Ricardo
Teixeira são esperados no último encontro da Fifa neste
século. O primeiro não vai
porque não quer. O segundo
não vai porque não pode. O
segundo leva o título.
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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