São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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AUTOMOBILISMO

Engenheira italiana e torcedora da Ferrari é a responsável pelo bico que promete mudar a cara da F-1

Novo Williams não tem pai, tem "mamma"

Raul Diaz/Associated Press
Juan Pablo Montoya conduz o novo carro da Williams em Jerez de la Frontera, na Espanha


FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo modelo da Williams não é revolucionário apenas no desenho. Caso consiga bons resultados nas pistas a partir do GP da Austrália, em março, o FW26 vai quebrar um tabu dos mais duradouros, invioláveis e discriminatórios: consagrará a primeira mulher projetista de um carro de F-1.
Por trás do inovador bico do carro lançado na segunda-feira está uma italiana, Antonia Terzi.
Chefe do departamento de aerodinâmica da equipe inglesa desde abril do ano passado, foi ela que desenvolveu a peça. É a "mamma della rivoluzione", festeja a imprensa de seu país.
Nascida em San Felice sul Panaro, uma vila de 9.500 habitantes na Província de Modena e a 46 km de Maranello, sede da Ferrari, Antonia virou celebridade mundial nos últimos dias. Há 13 anos, desde o Benetton "tubarão", a principal categoria do automobilismo não via um carro tão inovador.
"Ela é capaz de passar 24 horas seguidas analisando o desempenho de um componente no túnel do vento", diz Ralf Schumacher.
"No ano passado, ela me fez enxergar quanto trabalho há por trás de cada peça de um carro", completou o piloto alemão, pouco afeito a elogios espontâneos.
Solteira, engenheira formada pela Universidade de Modena e com especialização na Inglaterra, Antonia torce pela Ferrari, onde começou sua carreira. Transferiu-se para a Williams em 2002 e logo de cara enfrentou um problema. Foi acusada de ter levado segredos de Maranello para Grove.
Nada foi provado e, no início do ano passado, com a saída de Geoff Willis para a BAR, ela foi promovida e passou a comandar o setor.
Em meio ao espólio deixado por Willis, Antonia encontrou esboços do novo bico. A idéia havia surgido anos atrás, mas fora abandonada. "Na época, achávamos que o ganho aerodinâmico seria mínimo. Mas a Williams tem equipamentos e softwares de ponta e com certeza encontrou alguma solução para que ele funcionasse melhor", afirmou o inglês.
O trabalho de Antonia, porém, não foi fácil. Depois de modificar o bico, ela teve que convencer toda a cúpula técnica do time de sua eficiência. Nos bastidores, a Williams viveu uma acirrada queda de braço nos últimos meses.
"Foi complicado estar no meio das discussões entre esses dois", admitiu Patrick Head, sócio e diretor técnico da escuderia. Ele se refere ao duelo entre Antonia e o projetista chefe, Gavin Fisher, que no começo se opôs à inovação.
"O novo bico implicou várias mudanças de conceito. Tivemos que elaborar um carro virtual para ver se realmente valeria a pena mexer em tanta coisa por causa de uma única peça. A resposta foi positiva", declarou Head.
"Este carro nos desafiou durante todo seu projeto e construção. Há um sentimento de que esse é o lançamento mais importante dos últimos anos", foi tudo o que disse Antonia, avessa aos holofotes.
Nos primeiros testes, em Jerez de la Frontera, na Espanha, o resultado se confirmou. Na quarta e na quinta, o FW26 bateu com folga a concorrência, Ferrari e McLaren inclusive. Na sexta, ficou em segundo, só atrás da versão híbrida do Williams de 2003.
O sucesso imediato chamou a atenção de outras equipes. A Renault já anunciou que pode copiar o bico da Williams no seu carro.
Seria um marco em uma categoria que até pouco tempo só imaginava mulheres circulando pelos boxes usando shorts apertados e segurando sombrinhas.


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