São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Parreira gostou

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

No primeiro jogo da seleção pré-olímpica contra a Venezuela, o posicionamento dos jogadores estava confuso e bem diferente dos seus clubes. Elano não sabia se era volante ou meia-direita, Dagoberto parecia um ponta e Robinho, um centroavante. Querem transformar o Robinho num típico atacante, que atua próximo da área. Ele precisa de mais espaço e liberdade para utilizar sua habilidade e velocidade.
No segundo tempo contra a Venezuela, quando o jogo já estava três a zero, Rochemback entrou no lugar de Daniel Carvalho, que era o melhor jogador da equipe. O time passou a atuar como o Santos, com Rochemback na posição de Renato e Elano na meia-direita. Elogiaram tanto Rochemback que parecia até que ele é um craque e que tinha mudado a história da partida.
Contra o Paraguai, Ricardo Gomes manteve o esquema do final do jogo contra a Venezuela. Com a contusão de Elano no primeiro tempo e a entrada de Wendell, pela esquerda, o desenho tático ficou igual ao da seleção principal. Parreira gostou.
No primeiro tempo, o Brasil só jogou bem durante dez minutos. No segundo, foi fácil. Robinho fez uma bela jogada pela esquerda, onde atua melhor, sofreu pênalti e cobrou. O gol de Maicon foi magistral, tão bonito quanto o do Maradona na Copa de 86. Os Perrelas e os empresários já distribuíram imagens pelo mundo com os dizeres: "Melhor que Maradona".
O Brasil ganhou fácil os dois primeiros jogos e mostrou o talento de seus jogadores, mas o time ainda está muito inferior ao da Copa Ouro, na qual venceu as equipes principais dos Estados Unidos e da Colômbia e só perdeu na final para o time titular do México, que atuava em casa. Na época, Robinho era o terceiro armador, pela esquerda, numa função diferente, mas próxima a de Wendell. Kaká, Diego e Nilmar eram os três mais adiantados.
Hoje o Brasil, favorito ao título, enfrenta o Uruguai, dirigido por Carrasco, que é o técnico da seleção principal. Lembra dele no recente amistoso pelas eliminatórias da Copa do Mundo, com gravata e terno bregas e coloridos?
No primeiro jogo do pré-olímpico, o Uruguai perdeu de 3 a 0 para o Chile. Carrasco é um treinador excêntrico, excessivamente ousado, que gosta de aventuras, de grandes fracassos e de grandes sucessos. Isso é perigoso.

O craque não parece
Abel, respeitado técnico do Flamengo, foi infeliz ao dizer que Felipe é melhor do que Alex, do Cruzeiro. Felipe parece craque. Alex é craque. A diferença é grande.
Abel confunde habilidade com talento. Felipe é um excelente jogador, dribla melhor que Alex em pequenos espaços, mas não tem a técnica (passe, cruzamento, finalização), a criatividade (fantasia e antevisão da jogada), o raciocínio rápido, a ampla visão do jogo nem a disciplina, a determinação e a participação coletiva de Alex. O talento é a reunião de todas essas qualidades.
Os dois ainda jogam em posições diferentes. Alex atua do meio para a frente. Está sempre perto da área para dar o passe decisivo ou fazer o gol. Felipe atua mais recuado e chega pouco à frente. Se hoje ele fosse o jogador que imaginei que seria no início de sua carreira, estaria no lugar do Zé Roberto na seleção brasileira.
Para ser um craque como Alex, Felipe deveria ter humildade em reconhecer os seus defeitos, treinar muito para corrigi-los, preparar-se melhor fisicamente e ter mais disciplina, determinação e ambição.
Abel talvez tenha tido a intenção de aumentar a auto-estima do meia do Flamengo. É outro engano. Deveria fazer o contrário. Felipe já se acha melhor do que é. Centraliza demais as jogadas, quer a bola sempre no pé e ocupa uma pequena faixa do campo.
Ao contrário de Felipe, Alex tinha baixa auto-estima antes de jogar no Cruzeiro. Não assumia a responsabilidade de ser um craque, embora já fosse. Contentava-se em ser um excelente coadjuvante. No Cruzeiro, ele é diferente. Entra em todas as partidas para ser a estrela do espetáculo.
Receio que a presença de Rivaldo, titular da seleção e um dos grandes jogadores da história do futebol brasileiro, iniba um pouco o Alex. Ao dividir a responsabilidade de ser o craque do time, temo que Alex perca a confiança e a obsessão em decidir os jogos, como no ano passado. Essa é apenas uma preocupação, uma hipótese, uma divagação. Não dá para prever os fatos. Mas Luxemburgo precisa ficar atento.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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