|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Parreira gostou
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No primeiro jogo da seleção
pré-olímpica contra a Venezuela, o posicionamento dos jogadores estava confuso e bem diferente dos seus clubes. Elano não
sabia se era volante ou meia-direita, Dagoberto parecia um ponta e Robinho, um centroavante.
Querem transformar o Robinho
num típico atacante, que atua
próximo da área. Ele precisa de
mais espaço e liberdade para utilizar sua habilidade e velocidade.
No segundo tempo contra a Venezuela, quando o jogo já estava
três a zero, Rochemback entrou
no lugar de Daniel Carvalho, que
era o melhor jogador da equipe. O
time passou a atuar como o Santos, com Rochemback na posição
de Renato e Elano na meia-direita. Elogiaram tanto Rochemback
que parecia até que ele é um craque e que tinha mudado a história da partida.
Contra o Paraguai, Ricardo Gomes manteve o esquema do final
do jogo contra a Venezuela. Com
a contusão de Elano no primeiro
tempo e a entrada de Wendell,
pela esquerda, o desenho tático ficou igual ao da seleção principal.
Parreira gostou.
No primeiro tempo, o Brasil só
jogou bem durante dez minutos.
No segundo, foi fácil. Robinho fez
uma bela jogada pela esquerda,
onde atua melhor, sofreu pênalti
e cobrou. O gol de Maicon foi magistral, tão bonito quanto o do
Maradona na Copa de 86. Os Perrelas e os empresários já distribuíram imagens pelo mundo com os
dizeres: "Melhor que Maradona".
O Brasil ganhou fácil os dois
primeiros jogos e mostrou o talento de seus jogadores, mas o time
ainda está muito inferior ao da
Copa Ouro, na qual venceu as
equipes principais dos Estados
Unidos e da Colômbia e só perdeu
na final para o time titular do
México, que atuava em casa. Na
época, Robinho era o terceiro armador, pela esquerda, numa função diferente, mas próxima a de
Wendell. Kaká, Diego e Nilmar
eram os três mais adiantados.
Hoje o Brasil, favorito ao título,
enfrenta o Uruguai, dirigido por
Carrasco, que é o técnico da seleção principal. Lembra dele no recente amistoso pelas eliminatórias da Copa do Mundo, com gravata e terno bregas e coloridos?
No primeiro jogo do pré-olímpico, o Uruguai perdeu de 3 a 0 para
o Chile. Carrasco é um treinador
excêntrico, excessivamente ousado, que gosta de aventuras, de
grandes fracassos e de grandes sucessos. Isso é perigoso.
O craque não parece
Abel, respeitado técnico do Flamengo, foi infeliz ao dizer que Felipe é melhor do que Alex, do Cruzeiro. Felipe parece craque. Alex é
craque. A diferença é grande.
Abel confunde habilidade com
talento. Felipe é um excelente jogador, dribla melhor que Alex em
pequenos espaços, mas não tem a
técnica (passe, cruzamento, finalização), a criatividade (fantasia
e antevisão da jogada), o raciocínio rápido, a ampla visão do jogo
nem a disciplina, a determinação
e a participação coletiva de Alex.
O talento é a reunião de todas essas qualidades.
Os dois ainda jogam em posições diferentes. Alex atua do meio
para a frente. Está sempre perto
da área para dar o passe decisivo
ou fazer o gol. Felipe atua mais
recuado e chega pouco à frente. Se
hoje ele fosse o jogador que imaginei que seria no início de sua carreira, estaria no lugar do Zé Roberto na seleção brasileira.
Para ser um craque como Alex,
Felipe deveria ter humildade em
reconhecer os seus defeitos, treinar muito para corrigi-los, preparar-se melhor fisicamente e ter
mais disciplina, determinação e
ambição.
Abel talvez tenha tido a intenção de aumentar a auto-estima
do meia do Flamengo. É outro engano. Deveria fazer o contrário.
Felipe já se acha melhor do que é.
Centraliza demais as jogadas,
quer a bola sempre no pé e ocupa
uma pequena faixa do campo.
Ao contrário de Felipe, Alex tinha baixa auto-estima antes de
jogar no Cruzeiro. Não assumia a
responsabilidade de ser um craque, embora já fosse. Contentava-se em ser um excelente coadjuvante. No Cruzeiro, ele é diferente. Entra em todas as partidas para ser a estrela do espetáculo.
Receio que a presença de Rivaldo, titular da seleção e um dos
grandes jogadores da história do
futebol brasileiro, iniba um pouco
o Alex. Ao dividir a responsabilidade de ser o craque do time, temo que Alex perca a confiança e a
obsessão em decidir os jogos, como no ano passado. Essa é apenas
uma preocupação, uma hipótese,
uma divagação. Não dá para prever os fatos. Mas Luxemburgo
precisa ficar atento.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Petrobras abastece caminho rumo a Atenas Próximo Texto: Panorâmica - Futebol: Corinthians se classifica na Copa SP Índice
|