São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2007

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TOSTÃO

Quem tem talento joga bonito

Os brasileiros querem ver a seleção vencer e também dar espetáculo. Uma coisa não é incompatível com a outra

NA VITÓRIA de Portugal sobre o Brasil, a camisa estampada do Dunga não agradou a ninguém, além de ser inoportuna para o intenso frio de Londres. O mundo ironizou. A melhor brincadeira foi a de que a camisa foi emprestada pelo Agostinho, personagem do seriado de televisão "A Grande Família", dita por um assinante da ESPN Brasil, no programa "Pontapé Inicial".
O estranho, como observou José Trajano, é o fato do Dunga, uma pessoa discreta, usar uma camisa tão exibida e fora de hora. É a contradição humana. A camisa do Dunga não tem nada a ver com o jogo. No primeiro tempo, o Brasil foi um time organizado e teve mais chances de gols. Faltou mais talento individual. Há muito tempo, não gosto de dois volantes sem mobilidade, que raramente passam do meio-campo, como Edmilson e Gilberto Silva. Deveria ser um ou outro.
Elano faz bem somente o que é básico. Isso é pouco para um armador da seleção brasileira.
Alguns times da Europa, como a seleção de Portugal, o Barcelona, o Manchester United (líder na Inglaterra), jogam hoje com três no meio-campo (dois volantes e um meia) e três atacantes (dois pelos lados e um pelo centro). Essa não é a única boa opção, mas o Brasil possui também jogadores com características para atuar mais pelos lados, como Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Robinho e Daniel Carvalho.
É preciso diferenciar os atacantes que atuam pelos lados, como os pontas atuais da Holanda e como os antigos pontas estáticos, que atuavam somente encostados à lateral do campo. Os "pontas" de Portugal atuam também pelo meio, trocam de posição, passam, finalizam e ainda marcam o lateral. Por isso, Gilberto e Maicon tiveram poucas chances para avançar.
Com qualquer esquema tático e mesmo se Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Robinho e outros jogadores estiverem muito bem, o Brasil vai ter dificuldade nos próximos anos, pela falta de um grande craque artilheiro, como foram Romário e Ronaldo.
Existem hoje bons atacantes, mas nenhum chega próximo dos dois.
Não vou ser injusto, apressado, e afirmar que o Dunga não tem condições para ser técnico da seleção brasileira por causa de sua camisa e de uma derrota.
Mas espero que o treinador não fique apenas no discurso politicamente correto de que precisa ser coerente, que a estrela é a seleção, e não os atletas, que o jogador precisa ter vontade de atuar pela seleção, que todos têm de lutar por uma posição e outros lugares-comuns.
Dunga deveria também criar condições para os melhores atuarem bem, não repetir os tradicionais esquemas europeus e buscar, além da organização tática e da eficiência, um estilo mais brasileiro, mais ousado e mais bonito de jogar.
Os brasileiros e todo o mundo (quando a suas seleções não enfrentam o Brasil) querem ver o time brasileiro vencer e dar espetáculo. Uma coisa não é incompatível com a outra. Quem tem talento tem a obrigação de sonhar com isso. A quem não tem, só resta jogar feio.

Clássico paulista
Com três zagueiros, o Corinthians melhorou no ataque, porque tem dois meias hábeis e velozes (Elton e Rosinei) atuando de alas e no campo adversário. É o novo esquema dito pelo técnico Leão, com cinco marcadores e cinco criativos (5-5). Por outro lado, a defesa ficou mais desprotegida pelas laterais, mesmo com três zagueiros. Mesmo se não for a melhor opção para o São Paulo, gostaria, como apreciador de futebol, de ver o time jogando com dois zagueiros, para que as duas equipes fiquem diferentes, e o clássico, mais agradável.


tostao.folha@uol.com.br

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