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TOSTÃO
Quem tem talento joga bonito
Os brasileiros querem ver a seleção vencer e também dar espetáculo. Uma coisa não
é incompatível com a outra
NA VITÓRIA de Portugal sobre
o Brasil, a camisa estampada
do Dunga não agradou a ninguém, além de ser inoportuna para o
intenso frio de Londres.
O mundo ironizou. A melhor brincadeira foi a de que a camisa foi emprestada pelo Agostinho, personagem do seriado de televisão "A
Grande Família", dita por um assinante da ESPN Brasil, no programa
"Pontapé Inicial".
O estranho, como observou José
Trajano, é o fato do Dunga, uma pessoa discreta, usar uma camisa tão
exibida e fora de hora. É a contradição humana.
A camisa do Dunga não tem nada a
ver com o jogo. No primeiro tempo,
o Brasil foi um time organizado e teve mais chances de gols. Faltou mais
talento individual. Há muito tempo,
não gosto de dois volantes sem mobilidade, que raramente passam do
meio-campo, como Edmilson e Gilberto Silva. Deveria ser um ou outro.
Elano faz bem somente o que é básico. Isso é pouco para um armador da
seleção brasileira.
Alguns times da Europa, como a
seleção de Portugal, o Barcelona, o
Manchester United (líder na Inglaterra), jogam hoje com três no meio-campo (dois volantes e um meia) e
três atacantes (dois pelos lados e um
pelo centro). Essa não é a única boa
opção, mas o Brasil possui também
jogadores com características para
atuar mais pelos lados, como Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Robinho e Daniel Carvalho.
É preciso diferenciar os atacantes
que atuam pelos lados, como os pontas atuais da Holanda e como os antigos pontas estáticos, que atuavam
somente encostados à lateral do
campo. Os "pontas" de Portugal
atuam também pelo meio, trocam
de posição, passam, finalizam e ainda marcam o lateral. Por isso, Gilberto e Maicon tiveram poucas
chances para avançar.
Com qualquer esquema tático e
mesmo se Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Robinho e outros jogadores estiverem muito bem, o Brasil vai ter
dificuldade nos próximos anos, pela
falta de um grande craque artilheiro,
como foram Romário e Ronaldo.
Existem hoje bons atacantes, mas
nenhum chega próximo dos dois.
Não vou ser injusto, apressado, e
afirmar que o Dunga não tem condições para ser técnico da seleção brasileira por causa de sua camisa e de
uma derrota.
Mas espero que o treinador não fique apenas no discurso politicamente correto de que precisa ser
coerente, que a estrela é a seleção, e
não os atletas, que o jogador precisa
ter vontade de atuar pela seleção,
que todos têm de lutar por uma posição e outros lugares-comuns.
Dunga deveria também criar condições para os melhores atuarem
bem, não repetir os tradicionais esquemas europeus e buscar, além da
organização tática e da eficiência,
um estilo mais brasileiro, mais ousado e mais bonito de jogar.
Os brasileiros e todo o mundo
(quando a suas seleções não enfrentam o Brasil) querem ver o time brasileiro vencer e dar espetáculo. Uma
coisa não é incompatível com a outra. Quem tem talento tem a obrigação de sonhar com isso. A quem não
tem, só resta jogar feio.
Clássico paulista
Com três zagueiros, o Corinthians melhorou no ataque, porque
tem dois meias hábeis e velozes
(Elton e Rosinei) atuando de alas e
no campo adversário.
É o novo esquema dito pelo técnico Leão, com cinco marcadores e
cinco criativos (5-5). Por outro lado, a defesa ficou mais desprotegida pelas laterais, mesmo com três
zagueiros.
Mesmo se não for a melhor opção
para o São Paulo, gostaria, como
apreciador de futebol, de ver o time
jogando com dois zagueiros, para
que as duas equipes fiquem diferentes, e o clássico, mais agradável.
tostao.folha@uol.com.br
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