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BASQUETE
One man show
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
O jogador está mais alto,
ágil, forte e, sobretudo, resistente. Apodera-se de um espaço
cada vez maior em uma quadra
cujas dimensões permaneceram
praticamente inalteradas. Por isso, nada evoluiu tanto no basquete (no futebol?) como a defesa.
A pontuação escasseia. Na
América e na Europa. Entre homens e mulheres. Profissionais e
amadores. A ponto de a NBA, desesperada com a esterilidade dos
placares, ter concordado em derrubar a obrigatoriedade da marcação individual, aquilo que a
distinguia do basquete global.
De fato, o jogo andava burocrático, às vezes insuportável. É que,
na tentativa de viabilizar as cestas, os técnicos desenhavam todo
o fluxo do ataque para as mãos
dos seus cestinhas. Vivia-se a ditadura dos isolamentos, tão bem
representada pelo Houston Rockets do pivô Hakeem Olajuwon.
A defesa por zona, imaginavam
os teóricos, iria quebrar essa estrutura, fazer a bola girar e o jogo
ganhar ritmo e inteligência.
Muito bem, passados três anos,
qual o resultado da "revolução"?
A média de pontos segue em declínio: de 95,5, em 01/02, para
94,7. Somente 10 dos 29 times
atingem a precisão nos arremessos do torneio passado -a média
desceu de 44,5% para 43,9%.
Mas, mais importante do que o
placar, a dinâmica de jogo não
mudou. Nunca o mano a mano, o
isolamento, o egoísmo estiveram
tão prestigiados na liga.
Há dez anos, apenas seis equipes respiravam -e sufocavam-
pelas mãos de um cestinha.
Hoje, são 22 agremiações que
confiam mais de 20% de seus arremessos a um só atirador.
Lembra-se do Chicago Bulls dos
anos 90, da impressão de que só
Michael Jordan chutava?
Lembra-se de Larry Bird, um
dos atletas mais famintos da história da liga norte-americana?
Ao longo do hexacampeonato
dos Bulls, Jordan acumulou 27%
dos arremessos do time.
No último título do Boston Celtics (85/86), Bird respondia por
21,9% dos chutes.
Pois esses percentuais viraram
poeira nas mãos da nova geração.
Kobe Bryant, que fechou fevereiro com mais de 40 pontos por
partida, façanha inédita em quatro décadas, atira 28,8% das bolas
dos Los Angeles Lakers.
E ainda perde para Allen Iverson, que concentra 29,2% das
ações ofensivas do Philadelphia.
Tracy McGrady, 26,4% do Orlando, é outro que parece se inspirar no lendário apetite de Jordan.
Até o próprio Jordan, agora na
versão 40 anos e no Washington,
surge entre os "top 10" no ranking
dos fominhas, com 23,6%.
No Boston, a ração de Bird não
saciaria os companheiros de mesa
Antoine Walker e Paul Pierce,
ambos com 24,3%.
Não se trata, aqui, de desmerecer esses novos craques. É mesmo
somente nos ombros de Iverson
que um time borocoxô como o
Philadelphia pode avançar.
Mas de atentar para os sinais de
desequilíbrio do basquete mais
competitivo do mundo -culpa
em boa parte da apologia ao individualismo que, com a anuência
da NBA, alimenta a indústria do
entretenimento, dos videogames
aos Sportscenters da vida.
Fome 1
Kevin Garnett (Minnesota), o melhor da temporada na avaliação
desta coluna, aparece só em 13º no ranking dos fominhas. Tim Duncan (San Antonio), outro artífice do basquete total, vem em décimo.
Fome 2
Garnett não tira o equilíbrio do ataque de seu time. Mas é, de longe,
quem mais desequilibra partidas na NBA. Seu "point differential" (o
placar do Minnesota quando ele está em quadra) é de +24,4. Os gulosos Kobe Bryant e Tracy McGrady param em +11,1 e +10,7.
Fome 3
O pisca-alerta da NBA acendeu porque 75,8% dos times limitam seu
ataque. No Brasileiro, trilham esse caminho 14 das 17 equipes: 82,3%.
E-mail melk@uol.com.br
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