São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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Em ano de prejuízo, CBF doou R$ 5,1 mi

Beto Barata/Folha Imagem
Presidente da CBF, Ricardo Teixeira, mostra cartaz comparando dados do patrocínio da seleção brasileira com os de outros países


Na CPI, Ricardo Teixeira admite doações até para criadores de cavalos

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A CBF fez doações, inclusive para campanhas eleitorais, que, segundo a CPI da Câmara, totalizaram R$ 5,1 milhões em 1998, ano em que a entidade teria apresentado problemas financeiros.
A afirmação foi feita ontem, durante depoimento do presidente da entidade, Ricardo Teixeira, à CPI da CBF/Nike, no interrogatório mais ríspido que a comissão já realizou em mais de seis meses.
As doações não são irregulares no entendimento da entidade e de alguns membros da própria CPI, mas contrastam com o que Teixeira disse em depoimento à CPI do Futebol, no Senado, em dezembro do ano passado.
Na ocasião, o dirigente da CBF disse que precisou recorrer a empréstimos no exterior para cobrir o déficit da entidade.
Os empréstimos são um dos principais alvos das investigações, iniciadas em outubro.
Em um deles, no valor de US$ 7 milhões, a CBF pagaria juros de 43% ao ano ao banco Delta, com sede nos EUA.
De acordo com o Senado, a CBF apresentou informações de que seu patrimônio líquido negativo em 1998 foi de aproximadamente R$ 24 milhões.
Teixeira havia afirmado também aos senadores que não se recordava de ter auxiliado as campanhas de mais de dois candidatos em fase eleitoral.
Os dirigente não explicou as doações ontem. Disse que precisava consultar os auditores da entidade que preside para se certificar das afirmações da CPI.
Pelo levantamento da comissão, a CBF fez doações para pelo menos 11 candidatos em 1998.
Entre os nomes citados pelo deputado Pedro Celso (PT-DF) estão o do ex-ministro e deputado federal Delfim Netto (PPB-SP) e o do senador Hugo Napoleão (PFL-PI), além dos deputados Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Eurico Miranda (PPB-RJ), que fazem parte da comissão que ontem interrogou Teixeira.
O deputado petista apresentou também os seguintes nomes: Antônio Carlos Amorim Jr., Paulo Cardoso de Almeida, Antônio Aquino Lopes, Maurício Magalhães, Carlos Augusto Santana, José Agripino Maia e Arthur Henrique Ferreira.
Amorim Jr., segundo Celso, é filho do ex-desembargador do Rio de Janeiro Antônio Carlos Amorim, que teria viajado para a Copa do Mundo de 1994 por conta da confederação. Teixeira disse desconhecer a afirmação.
As doações a políticos, que variam entre R$ 5.000 e 50 mil, totalizaram, em 1998, R$ 562,5 mil.
Os demais recursos doados pela CBF em 1998, segundo a CPI, foram para federações estaduais e associações como a de policias militares e federais e até de criadores de cavalos.
O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) disse que em pelo menos dois casos as verbas repassadas pela CBF às federações foram parar em contas de terceiros, uma indústria têxtil e uma concessionária de automóveis, que teria recebido cerca de R$ 40 mil.
Novamente Teixeira disse que iria checar as informações. O dirigente se comprometeu a enviá-las em 48 horas.
Segundo Celso, a entidade estaria impedida pela lei de realizar as doações de campanha por não ter ela fins lucrativos.
Teixeira rebateu a afirmação. "Desde 1998 a CBF é uma entidade de fins lucrativos. É perfeitamente legal pela lei o auxílio oficial às campanhas, com cheques nominativos, declarados dentro da entidade", disse Teixeira.
Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da CPI, ponderou: "A CBF não é regida pelas mesmas leis das empresas privadas."
Já Celso mudou de estratégia. "Para mim a questão é muito mais moral e ética", disse. O deputado quis saber os critérios para a escolha dos contemplados.
Os critérios, segundo o dirigente, são pessoas que têm ligação com o esporte.
Em outro ponto do depoimento, o deputado Jurandil Juarez (PMDB-AP) disse que as doações feriram os estatutos da entidade e contrariaram a lei em dois pontos: prazos e limites. "Essas doações são ilegais, pois alguns pagamentos foram feitos após as eleições, e a CBF, no total, destinou mais de 2% da sua receita para os beneficiados", afirmou.
Rosinha mostrou notas fiscais segundo as quais a CBF realizou eventos, e pagou por isso, no restaurante El Turf, no Rio de Janeiro, de propriedade do próprio presidente da entidade.
Antes dos debates sobre as doações, Teixeira já havia sido questionado pelo relator da CPI, Sílvio Torres (PSDB-SP), sobre o déficit da entidade mesmo após o contrato dela com a multinacional Nike, em 1996.
Pelo contrato de patrocínio, a CBF passou a receber, em média, US$ 16 milhões por ano.
O presidente da CBF argumentou que, apesar do incremento da Nike, a entidade perdeu receitas ao abrir mão de direitos relativos às transmissões e às bilheterias de jogos de clubes. Disse ainda o dirigente que a carga de impostos cresceu em 1998.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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