São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2007

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TOSTÃO

Duas almas diferentes

Romário e Edmundo passam por um mesmo momento na vida, com proximidade do fim da carreira e temor do vazio

APÓS A PARTIDA de domingo, Edmundo chorou e disse que estava triste porque o Palmeiras concordou em liberá-lo para jogar nos Estados Unidos, sendo que foi o próprio jogador que levou essa possibilidade ao clube. Estranho!
Ninguém precisa ter diploma de psicólogo para perceber a carência afetiva e a insegurança de Edmundo para lidar com seus sentimentos e os dos outros. O frágil e sensível Edmundo só queria ouvir da diretoria do Palmeiras que ele é imprescindível e amado. Todos nós queremos ser amados. Isso é uma coisa. Outra é ele achar sempre que não é querido nem compreendido, como já demonstrou em tantas outras ocasiões. Por causa de sua fragilidade emocional, de sua incapacidade de lidar com frustrações e por outros motivos, Edmundo, brilhante jogador, não teve o sucesso que seu futebol merecia.
Romário também quis sempre ser amado, mas, diferentemente de Edmundo, não dá a mesma importância sobre o que acham dele. Em vez de ficar magoado, Romário sempre alfineta quem o critica e/ou demonstra não gostar dele. Ele sempre falou e fez o que quis, apesar de dizer e fazer muitas vezes coisas que não devia. Por ser mais inteligente, mais esperto, mais calculista, mais adaptado à realidade e, principalmente, por ter muito mais talento do que Edmundo, Romário se tornou um dos maiores jogadores do futebol mundial. O que não se deve é tentar canonizá-lo, como escreveu muito bem José Geraldo Couto.
Uma coisa é ter profunda admiração pelo futebol de Romário. Outra é elogiá-lo pelo que ele não é nem nunca foi. Grandes personagens da história, em todas as profissões, são especiais por suas obras. Nenhum é santo nem Deus, como pensa ser Maradona, segundo seu médico. Edmundo e Romário, duas almas diferentes, passam por momentos idênticos em suas vidas com a proximidade do final de suas carreiras e com o temor do vazio, da falta. Isso é difícil para todos, mais ainda para os dois, que passaram as suas carreiras rodeados de secretários, empresários, bajuladores, aproveitadores e também de pessoas queridas.

Clássico carioca
Será que hoje o Botafogo repete a belíssima atuação do último jogo contra o Vasco, quando jogou com um esquema inovador, com três zagueiros, três no meio-campo e mais Lúcio Flávio próximo dos três atacantes (Zé Roberto pela direita, Dodô pelo centro e Jorge Henrique pela esquerda)?
Quase todos os jogadores do Botafogo tinham mais de uma função em campo. Por outro lado, como não havia laterais nem alas fixos, esses espaços na defesa poderão ser explorados pelo Vasco.

Bom é o que dá certo
O São Paulo joga bem com dois ou três zagueiros. Prefiro com dois, desde que laterais e volantes avancem alternadamente, que os dois meias joguem mais abertos, formando dupla com os laterais na marcação e no ataque, e que esses meias entrem pelo centro na hora certa para decidir o lance, como fazem muito bem Souza e Hugo.
Diferentemente da maioria dos meias brasileiros, que só sabem jogar embolados pelo centro, perto dos dois atacantes e que não participam da marcação, Souza e Hugo têm características para atuar pelos lados. Assim, fica melhor para a defesa e para o ataque. Um filósofo do futebol já disse que esquema bom é o que dá certo. Acrescentaria que é o que tem bons jogadores, com características adequadas para executá-lo. O restante é perfumaria para preencher o longo tempo da maioria dos programas sobre futebol na televisão.

tostao.folha@uol.com.br


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