São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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BASQUETE

Pelas barbas do Barbosa

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Antonio Carlos Barbosa, 59, não ocupará em 2005 o cargo de técnico da seleção feminina. Paulo Bassul, 36, assistente dele e vice-campeão mundial com as juvenis, será o substituto.
O plano da Confederação Brasileira de Basquete não foi divulgado -nem deve ser. Mas está traçado. "Ninguém é eterno", já confidenciou aos mais próximos o presidente Gerasime Bozikis.
O resultado nos Jogos de Atenas definirá os termos da mudança.
Se o time ficar longe do pódio, ela levará o rótulo de "correção de rumo". Bassul será exaltado por oferecer ao mesmo tempo o vigor da juventude e a vivência de anos de serviços prestados à seleção. Exatamente como ocorreu no masculino em 2002, na troca de Hélio Rubens pelo auxiliar Lula.
Se o Brasil beliscar um bronze ou uma prata, o pacote será anunciado como uma "passagem natural" de bastão entre gerações. Barbosa fechará por cima, condecorado, o ciclo de oito anos.
O dominó seguirá curso mesmo que um milagre adorne o peito das meninas com o ouro olímpico. Será apenas retardado um pouco, para não atrapalhar a sucessão de justas homenagens.
Em todos os cenários, Barbosa não ficará na mão. A confederação resolveu criar para ele o posto de coordenador de seleções.
De certa forma, a estratégia da CBB explica a repentina aspiração política do treinador. Para quem não sabe, há algumas semanas ele deu sinal verde a amigos para que trabalhem sua candidatura à Prefeitura de Bauru.
O técnico afirmou não ver problemas em conciliar a extenuante rotina de treinos e partidas de um ano olímpico com os numerosos compromissos eleitorais (plataforma de campanha, plano de governo, alianças partidárias, programas de rádio e TV etc).
A declaração, estapafúrdia, arranha o currículo de uma pessoa habitualmente sensata. Os bauruenses devem ter se assustado com o pára-quedismo. Os basqueteiros, com a prova de desapego.
Por um lado, ótimo!, o projeto pessoal de Barbosa desautoriza a febre nacionalista, essa bienal conversa fiada de que somente a "amarelinha" importa. Legitima, por exemplo, a hesitação da ala Iziane, titular no Pré-Olímpico, que cogita perder até cinco semanas de treinamentos da seleção a fim de não correr o risco de fechar seu mercado na WNBA.
Por outro, péssimo!, desmoraliza a CBB, que hoje anuncia a lista de convocadas. Fica difícil os dirigentes falarem na melhor preparação da história se o próprio técnico admite não mergulhar de corpo e alma na empreitada.
O leitor fiel (você está aí?) sabe. Sempre defendi que Barbosa tivesse a oportunidade de ser "julgado" em Atenas-04. Afinal, vários fatores extraquadra determinaram a desastrosa sétima colocação no Mundial da China-02.
Mas talvez seja o caso de a CBB adiantar a agenda e lançar o "cover" de Zagallo antes da Olimpíada. Não haveria crueldade, dada a "crise existencial" de Barbosa.
O gesto poria fogo nas garotas. E o basquete aprendeu, chamuscado pelo tropeço do novo masculino, que pode ser mais proveitoso testar o sucessor logo na fogueira.

Navalha 1
Na semana passada, a CBB tirou Bassul da seleção juvenil, o primeiro lance do xadrez come-come. Só o pbf.blogspot.com atentou para a fumaça. Parabéns ao Bert, que não perde a forma na direção do blog.

Navalha 2
Outro site guerrilheiro -e obrigatório para o basqueteiro-, o www.diariodobasquete.com passa por reconstrução, depois de ter sido atacado por piratas laranjas do ciberespaço. Força ao Bruno.

Navalha 3
O www.basketbrasil.com.br tem proposta diferente, menos incendiária. Mas também merece a visita do internauta. Em português, é o melhor compêndio das notícias da NBA. Boa sorte ao Paulo Roberto.

E-mail melk@uol.com.br


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