|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sonífera, Argentina ganha na estréia
Graças a duas jogadas de Riquelme, equipe marca com Crespo e Saviola, mas não empolga nem evita pressão do rival
Depois de sofrer 2 a 0, Costa do Marfim ameaça o débil coração de Maradona e vê Drogba fazer o primeiro gol do país em Copas do Mundo
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAMBURGO
A Argentina que venceu a
Costa do Marfim (2 a 1) parecia
ter tomado a poção supostamente sonífera dada por seu
massagista, na Copa de 90, aos
brasileiros, eliminados pelo gol
de Caniggia. Lembra-se?
O resultado, ontem, só não
foi o mesmo, agora contra os argentinos, por dois motivos. Primeiro, a Costa do Marfim está
longe de ser, mesmo nos melhores momentos, um Brasil ou
uma Argentina (quando acordada). Segundo, um atleta de
nível, como Juan Roman Riquelme, é capaz de decidir o jogo mesmo quando faz só duas
boas jogadas em 90 minutos.
Foi uma delas que determinou o resultado: aos 38min,
meteu a bola no vazio, entre
dois zagueiros, para a entrada
de Saviola, que, livre diante do
goleiro, não podia perder o gol.
Mas, se o juiz belga Frank de
Bleeckere anulasse o gol, acertaria, como acertou ao não anulá-lo, porque é questão de interpretação. Saviola não estava
impedido, mas Hernán Crespo
estava e, ao se deslocar no mesmo buraco em que Riquelme
pôs a bola, o juiz poderia interpretar que desviou a atenção da
zaga e deu liberdade a Saviola.
Seja como for, o fato é que a
Argentina jogou a bola na direção do gol só quatro vezes (tantas quantas a Costa do Marfim).
Duas entraram, e o juiz não viu
uma que parece ter feito o mesmo: após escanteio, Ayala deu
um coice de cabeça na bola, o
goleiro Tizié pegou, largou, foi
largando, a bola foi entrando,
mas o juiz não podia ver. Pelo
telão do Estádio de Hamburgo,
a bola pareceu ter entrado.
Das quatro finalizações, duas
surgiram de bola parada (o escanteio cabeceado por Ayala e o
gol de Crespo, aos 24min, após
cobrança de falta por Riquelme). Houve ainda um chute de
Riquelme de fora da área, o único que exigiu a intervenção de
Tizié na segunda etapa.
É difícil entender a atuação
da seleção argentina. Amarrada, atrapalhada, não exibiu as
características usualmente a
ela atribuídas. Nem a decantada garra e o hábil toque de bola
nem atuações individuais de
qualidade. Sobrou -e fora do
campo- tocar dos bumbos, o
instrumento habitual da torcida argentina, assim mesmo
mais por tradição do que por
entusiasmo com a equipe.
Talvez a explicação esteja na
escalação. Em vez de usar Lionel Messi, titular do Barcelona,
hoje o melhor time da Europa,
Pekerman preferiu um jogador
(Saviola) do modesto Sevilla,
além de deixar no banco o ídolo
corintiano Carlos Tevez. Saviola fez, como Riquelme, duas jogadas: o gol, livre diante do arqueiro, e um drible entre as
pernas do beque. Pouco, mas o
suficiente para que, surpreendentemente, a equipe da Fifa o
elegesse o "homem do jogo".
O paradoxo é que foi a Costa
do Marfim que veio a campo
com formação aparentemente
defensiva: o técnico francês
Henri Michel, que dirige a terceira seleção africana diferente
em Copas, deixou no banco o
segundo artilheiro do time,
Aruna Dindane, o que pressupunha que só Didier Drogba, do
Chelsea, ficaria na frente.
Engano. Como a Argentina
não acordava, nem após ter feito 2 a 0, a Costa do Marfim foi,
aos trancos, lançando-se ao
ataque, a ponto de ameaçar o
débil coração de Maradona, nas
tribunas, com uma sucessão de
quatro chances perdidas entre
os minutos 29 e 34 de jogo.
No segundo tempo, não foi
diferente. A Costa do Marfim
ameaçou mais, até conseguir o
gol, a oito minutos do fim. Gol
que serviu de prova final do soporífero desempenho argentino: a bola foi cruzada da direita,
Drogba não a alcançou, sobrou
para outro cruzamento, da esquerda, que encontrou o atacante no meio da área, sem que
um só argentino interviesse.
O técnico Pekerman admitiu
que seu time "teve pontos altos
e teve problemas" e, como é natural, prometeu ficar com "as
coisas boas para melhorá-lo,
aproveitando a confiança que
dá o triunfo na estréia".
Texto Anterior: Filhos da guerra Próximo Texto: Togo: Seleção perde o técnico a quatro dias da estréia Índice
|