São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2007

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Pequim-08 utiliza trabalho infantil, diz ONG

Segundo PlayFair, ao menos 4 fábricas de suvenires empregam crianças e realizam jornadas de até 12 horas, sem pagar adicional

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mochilas, bonés e outros produtos licenciados da Olimpíada de Pequim-2008 são produzidos em fábricas que fazem uso de trabalho infantil, contam com jornadas extenuantes e distribuem salários irrisórios.
A denúncia foi feita ontem pela PlayFair, uma aliança global de sindicatos, cuja sede fica em Bruxelas, na Bélgica.
A entidade já havia feito, em 2004, denúncia semelhante atingindo algumas das principais fabricantes de material esportivo, como Nike, Adidas, Reebok, Puma, Fila e Mizuno.
No caso da China, a entidade identificou quatro companhias fabricantes de produtos olímpicos oficiais que cometeriam diversas irregularidades: Lekit Stationery Company, Yue Wing Cheong Light Products, Eagle Leather Products e Mainland Headwear Holdings.
Nessas empresas, as jornadas de trabalho se estendem por até 12 horas, as horas extras não são pagas e há a utilização de mão-de-obra de crianças de até 12 anos. Além disso, os salários ficam abaixo do mínimo estabelecido até pela já branda legislação trabalhista chinesa.
O salário mínimo no sul da China, onde ficam as quatro empresas, é de apenas 700 yuans por mês (R$ 177).
Para Petr Kutilek, secretário-geral da Olympic Watch, ONG de direitos humanos sediada na República Tcheca, as condições de trabalho denunciadas pela PlayFair não causam surpresa.
"É uma situação geral encontrada nas fábricas chinesas. É importante que haja novas denúncias para que outros países façam pressão. Não é fácil obter informações de lá por causa do controle da imprensa na China", disse à Folha Kutilek, cuja entidade se dedica a denunciar violações de direitos humanos na próxima sede olímpica.
"O COI [Comitê Olímpico Internacional] tem responsabilidade nisso. Como defensor dos ideais olímpicos, deve cobrar o governo chinês pelas promessas feitas quando Pequim conquistou o direito ser sede dos Jogos", completou.
Os desrespeitos aos direitos trabalhistas são ainda mais acintosos diante dos números superlativos já divulgados pelo Bocog (Comitê Organizador dos Jogos de Pequim). De acordo com ele, é esperado um lucro de mais de US$ 300 milhões (R$ 589 milhões) só com a venda de produtos olímpicos.
Como comparação, a Olimpíada de Atenas, em 2004, amealhou apenas US$ 61,5 milhões (R$ 120 milhões) com a comercialização de mercadorias relativas aos Jogos, segundo dados divulgados pelo COI.
Procuradas, as empresas chinesas negaram as acusações.
"Não posso concordar com esse relatório. Nossa fábrica faz mochilas para a Olimpíada. Trabalhamos das 8h às 18h. Não há horas extras nem trabalho infantil", retrucou uma funcionária da Eagle Leather, que se identificou como Chang.
Já o Bocog se esquivou de comentar o assunto dizendo não ter conhecimento sobre o exato teor do relatório da PlayFair.
O COI, por sua vez, divulgou não ter controle sobre as fábricas de produtos oficiais, mas que criou princípios que devem ser seguidos pelas companhias licenciadas. "O comitê está comprometido com a liderança responsável do movimento olímpico e buscamos cuidar de nossa marca da melhor forma possível", informou Giselle Davies, porta-voz do comitê.
Segundo ela, o comitê recebe relatórios regulares de fábricas de cinco países, que têm permissão de usar o logo olímpico.


Com agências internacionais


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