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Pequim-08 utiliza trabalho infantil, diz ONG
Segundo PlayFair, ao menos 4 fábricas de suvenires empregam crianças e realizam jornadas de até 12 horas, sem pagar adicional
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mochilas, bonés e outros
produtos licenciados da Olimpíada de Pequim-2008 são produzidos em fábricas que fazem
uso de trabalho infantil, contam com jornadas extenuantes
e distribuem salários irrisórios.
A denúncia foi feita ontem
pela PlayFair, uma aliança global de sindicatos, cuja sede fica
em Bruxelas, na Bélgica.
A entidade já havia feito, em
2004, denúncia semelhante
atingindo algumas das principais fabricantes de material esportivo, como Nike, Adidas,
Reebok, Puma, Fila e Mizuno.
No caso da China, a entidade
identificou quatro companhias
fabricantes de produtos olímpicos oficiais que cometeriam
diversas irregularidades: Lekit
Stationery Company, Yue
Wing Cheong Light Products,
Eagle Leather Products e Mainland Headwear Holdings.
Nessas empresas, as jornadas
de trabalho se estendem por
até 12 horas, as horas extras não
são pagas e há a utilização de
mão-de-obra de crianças de até
12 anos. Além disso, os salários
ficam abaixo do mínimo estabelecido até pela já branda legislação trabalhista chinesa.
O salário mínimo no sul da
China, onde ficam as quatro
empresas, é de apenas 700
yuans por mês (R$ 177).
Para Petr Kutilek, secretário-geral da Olympic Watch, ONG
de direitos humanos sediada na
República Tcheca, as condições
de trabalho denunciadas pela
PlayFair não causam surpresa.
"É uma situação geral encontrada nas fábricas chinesas. É
importante que haja novas denúncias para que outros países
façam pressão. Não é fácil obter
informações de lá por causa do
controle da imprensa na China", disse à Folha Kutilek, cuja
entidade se dedica a denunciar
violações de direitos humanos
na próxima sede olímpica.
"O COI [Comitê Olímpico
Internacional] tem responsabilidade nisso. Como defensor
dos ideais olímpicos, deve cobrar o governo chinês pelas
promessas feitas quando Pequim conquistou o direito ser
sede dos Jogos", completou.
Os desrespeitos aos direitos
trabalhistas são ainda mais
acintosos diante dos números
superlativos já divulgados pelo
Bocog (Comitê Organizador
dos Jogos de Pequim). De acordo com ele, é esperado um lucro de mais de US$ 300 milhões (R$ 589 milhões) só com a venda de produtos olímpicos.
Como comparação, a Olimpíada de Atenas, em 2004,
amealhou apenas US$ 61,5 milhões (R$ 120 milhões) com a
comercialização de mercadorias relativas aos Jogos, segundo dados divulgados pelo COI.
Procuradas, as empresas chinesas negaram as acusações.
"Não posso concordar com
esse relatório. Nossa fábrica faz
mochilas para a Olimpíada.
Trabalhamos das 8h às 18h.
Não há horas extras nem trabalho infantil", retrucou uma
funcionária da Eagle Leather,
que se identificou como Chang.
Já o Bocog se esquivou de comentar o assunto dizendo não
ter conhecimento sobre o exato teor do relatório da PlayFair.
O COI, por sua vez, divulgou
não ter controle sobre as fábricas de produtos oficiais, mas
que criou princípios que devem
ser seguidos pelas companhias
licenciadas. "O comitê está
comprometido com a liderança
responsável do movimento
olímpico e buscamos cuidar de
nossa marca da melhor forma
possível", informou Giselle Davies, porta-voz do comitê.
Segundo ela, o comitê recebe
relatórios regulares de fábricas
de cinco países, que têm permissão de usar o logo olímpico.
Com agências internacionais
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