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Bola rola, às 11h, na Copa do contraste
Antes do 1º Mundial na África, receitas da Fifa chegam a US$ 1 bi
FÁBIO ZANINI
RODRIGO MATTOS
ENVIADOS ESPECIAIS A JOHANNESBURGO
Começa hoje a primeira
Copa da África. Começa hoje
a 19ª Copa da Fifa. Por 31
dias, o futebol viverá a contradição entre as peculiaridades africanas e o modelo padrão da dona do Mundial.
O ponto de partida é a estreia da África do Sul diante
do México, às 11h, no Soccer
City, não por acaso localizado em Soweto, foco maior da
resistência ao apartheid.
A Copa da África é dominada pelo público local: responderá por 80% dos torcedores, a maioria com ingressos baratos. Muitos obtidos
após a Fifa render-se à realidade do país, com 50% da
população abaixo da linha
de pobreza, e reduzir preços.
Outra barbeiragem, tardiamente corrigida, foi confiar
demais nas vendas on-line,
como se a África do Sul, com
8% da população conectada
à internet, fosse a Alemanha.
A Copa da Fifa era planejada para ter 500 mil estrangeiros, boa parte em pacotes luxuosos. A crise financeira, o
medo da violência e os preços altos reduziram o número a menos de 400 mil.
A Copa da África é a renovação da paixão do torcedor
local pela sua desmoralizada
seleção. Um mar de camisas
amarelas saudou os Bafana
Bafana (apelido da seleção)
no bairro rico (e majoritariamente branco) de Sandton.
Para receber o evento, o
país teve de se submeter a
uma série de regras que desagradaram a muitos sul-africanos. Um preço que aceitou
pagar para mostrar ao mundo uma África do Sul madura
e com democracia racial.
Nada foi mais polêmico do
que a aceitação da primazia
dos patrocinadores da promotora do evento. A Copa da
Fifa é, por exemplo, a ocupação da praça de um shopping
pelo estande da Sony, que dificulta a circulação do povo.
Mais barulhenta ainda foi
a proibição de que trabalhadores informais continuassem vendendo seus produtos
em "zonas de exclusão",
num país em que esse setor
representa 15% da economia.
A Copa representa gasto
de R$ 8 bilhões do governo
para estádios, alguns fortes
candidatos a elefantes brancos. Representa ainda a entrega de arenas de primeira
linha a tempo do evento.
A Copa da África são seus
cantores que participaram
do concerto de abertura após
protesto por terem ficado de
fora. A da Fifa iria pouco
além da popstar Shakira.
A Copa da África é Muntari, Mokoena, Drogba (ainda),
é Eto'o. É também Maradona,
que não se enquadra no
script da Fifa e volta ao Mundial 16 anos depois.
A Copa da Fifa é Messi, Kaká e Cristiano Ronaldo, estrelas que a ajudam a se expandir pelo mundo. E que contribuíram para que ela tenha
um aumento de 50% de suas
receitas neste Mundial em relação à Alemanha -ganhou
US$ 1 bilhão só em 2009.
Com a ajuda da África pobre, a Fifa é bilionária.
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