São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2010

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XICO SÁ

O homem anticopa


Ainda bem que o Nordestão nos permite ver o velho e bom futebol de times de verdade


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, ainda bem que o Nordestão, torneio regional iniciado nesta semana, nos permite ver o velho e bom futebol de times de verdade e fugir da histeria da Copa.
É o que me diz o Rinaldo, chapa das antigas, bom baiano em visita à garoa, radical, fundamentalista mesmo na matéria. "Homem que é homem não perde tempo com essas baboseiras", afirma, sério. "O que vale para mim é o Bahêa, bora Bahêa", ensaia o coro da torcida do seu tricolor soteropolitano.
Não fosse o início da disputa que reúne 18 dos principais clubes do Nordeste, a maioria jogando com seus reservas, meu amigo já estaria exilado no seu sítio em Juazeiro, onde pode se isolar da farra da Copa, entretido com caça e pesca, suas aventuras prediletas na margem do rio São Francisco. "Que burrice torcer por um time que o país inteiro torce. Além do mais, é tudo armação da Fifa."
Rinaldo é um daqueles milhares de brasileiros que acreditam que a CBF vendeu a Copa de 1998, na França, para o país-sede. Impressionante como ainda hoje sobrevive a suposta lenda. Entre os taxistas -mais conspiradores que o cineasta Michael Moore- , não há dúvida. Entregamos a rapadura. A convulsão do Ronaldo teria sido só o segundo ato da tragicomédia.
Enquanto ainda discutimos a teimosia do Dunga e a sua sociedade esportiva secreta, o amigo Rinaldo simplesmente ignora. "Dunga? Quem é esse sujeito?", zomba.
Nem a farra que as moças fazem durante o torneio mundial, a pátria em shortinhos e miniblusas, atrai o nosso inflexível baiano.
"Copa do Mundo é futebol para otários", sapeca o desalmado brasileiro, tosco no último. "Homem que é homem só aprecia o time do peito. Pergunte a qualquer corintiano se trocaria um título da Libertadores pelo hexa do escrete canarinho."
Autêntico macho-jurubeba, o típico macho de raiz que vem a ser o contrário do metrossexual, Rinaldo tem como ídolo eterno o primo Beijoca, grande atacante do seu Bahia glorioso.

P.S.
Nem o corvo Edgar é tão radical. Respeita a posição do amigo Chico Bacon, outro jurubeba-man, de torcer pelo Brasil, apesar do dunguismo. Os dois juntos, aliás, babaram com o show da Shakira.

xico.folha@uol.com.br


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