São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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FUTEBOL

Lições da Eurocopa

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Eurocopa já ficou para trás, mas é necessário, além de muito legal, dar uma pincelada no melhor torneio de 2004.
Surpresas não faltaram, boas e ruins, como as divindades gregas. A Grécia roubou a cena desde a abertura. Na verdade, sua epopéia começou mesmo nas eliminatórias, quando teve início trágico e depois superou a Espanha.
Pelo menos um leitor me escreveu revoltado com o desdém que foi dado ao time grego. Como os especialistas não profetizaram o seu sucesso? O retrospecto e a concorrência não permitiam apostar na equipe de Otto Rehhagel. A própria chave da Grécia não contribuía -além dos anfitriões, os gregos enfrentariam uma ""Fúria" sedenta por revanche e apoiada por uma multidão em Portugal.
Tirando as seleções tradicionais e com craques mais renomados, as apostas foram acertadamente feitas na República Tcheca, ótima equipe que teve a infelicidade de perder Nedved no começo da semifinal e de desperdiçar algumas boas oportunidades. Os franceses não seriam os favoritos contra os tchecos na semifinal, assim como os portugueses não seriam os mais cotados contra os comandados de Karel Brückner na decisão.
Os portugueses também sempre estiveram bem na fita. Não foi surpresa nenhuma a equipe de Luiz Felipe Scolari chegar à final. O técnico brasileiro, que não é nenhum ""burro", como ele mesmo ressalta, assumiu a equipe lusa sabendo que só tinha a ganhar com ela. No final de tudo, saiu por cima, mas o gaúcho, em seu íntimo, sabe que foi a maior derrota de toda a sua vitoriosa carreira. Dificilmente haverá outra chance como essa para ele ou para qualquer outro técnico brasileiro ser campeão europeu de seleções.
Holanda e República Tcheca fizeram o melhor jogo da primeira fase e poderiam muito bem, pelos seus talentos, disputar a final. Porém carregam a pecha de ""cavalos paraguaios". Já os países com as ligas mais ricas, além de sofrerem com o excesso de atletas estrangeiros, também penaram com o esgotamento de algumas estrelas após dura temporada.
Com 15 jogadores que atuam ""em casa" e um técnico ""de fora", a Grécia fez jogo tão tosco quanto eficiente. Vontade e aplicação tática deram o tom. A façanha marca tanto o país que será raro ver a Grécia jogando ""bonito". O futebol grego era tão sem passado que não tinha uma cara. Agora, carregará essa aura retranqueira.
Portugal, por sua vez, parece mesmo satisfeito no clube dos perdedores. O Brasil ganhou muito depois do Maracanazo, mas vai chorar para sempre aquela derrota. Diferentemente disso, muitos portugueses até celebraram seu ""Maracanazo". Dificilmente terão outra boa chance de título.
Fazer prognóstico depois do título grego ficou algo mais temeroso, mas tudo bem. Em 2008, na Áustria e na Suíça, espero mesmo que as coisas não voltem tanto ao normal. Como um brasileiro que curte a Eurocopa mesmo quando esta não acontece em Portugal e não tem técnico brasileiro, torço para que a mídia nacional tenha aprendido de vez o quanto é legal e o quanto vale a pena investir na sensacional competição européia.

Copa América
A Eurocopa, mesmo não tendo Brasil e Argentina, é muito mais charmosa e legal do que o torneio sul-americano, que, para melhorar, deveria ser disputado a cada quatro anos (esse plano já está aprovado e pode vigorar a partir de 2008) e ser fundido com a Copa Ouro (com os países mais fortes da Concacaf, daria para fazer uma competição com 16 seleções bem mais interessante). Dá até para fazer a Copa América paralelamente à Euro, pois o fuso horário ajuda.

Leitores
Poucas vezes recebi tantos e-mails como na Eurocopa deste ano. Agradeço as mensagens, especialmente as de apoio na ""cruzada em defesa da Euro", e peço desculpas por não ter respondido a todos. Seja como for, estaremos juntos, de alguma forma, em 2008.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br


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