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FUTEBOL
Lições da Eurocopa
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Eurocopa já ficou para
trás, mas é necessário, além
de muito legal, dar uma pincelada no melhor torneio de 2004.
Surpresas não faltaram, boas e
ruins, como as divindades gregas.
A Grécia roubou a cena desde a
abertura. Na verdade, sua epopéia começou mesmo nas eliminatórias, quando teve início trágico e depois superou a Espanha.
Pelo menos um leitor me escreveu revoltado com o desdém que
foi dado ao time grego. Como os
especialistas não profetizaram o
seu sucesso? O retrospecto e a concorrência não permitiam apostar
na equipe de Otto Rehhagel. A
própria chave da Grécia não contribuía -além dos anfitriões, os
gregos enfrentariam uma ""Fúria"
sedenta por revanche e apoiada
por uma multidão em Portugal.
Tirando as seleções tradicionais
e com craques mais renomados,
as apostas foram acertadamente
feitas na República Tcheca, ótima
equipe que teve a infelicidade de
perder Nedved no começo da semifinal e de desperdiçar algumas
boas oportunidades. Os franceses
não seriam os favoritos contra os
tchecos na semifinal, assim como
os portugueses não seriam os
mais cotados contra os comandados de Karel Brückner na decisão.
Os portugueses também sempre
estiveram bem na fita. Não foi
surpresa nenhuma a equipe de
Luiz Felipe Scolari chegar à final.
O técnico brasileiro, que não é nenhum ""burro", como ele mesmo
ressalta, assumiu a equipe lusa
sabendo que só tinha a ganhar
com ela. No final de tudo, saiu por
cima, mas o gaúcho, em seu íntimo, sabe que foi a maior derrota
de toda a sua vitoriosa carreira.
Dificilmente haverá outra chance
como essa para ele ou para qualquer outro técnico brasileiro ser
campeão europeu de seleções.
Holanda e República Tcheca fizeram o melhor jogo da primeira
fase e poderiam muito bem, pelos
seus talentos, disputar a final. Porém carregam a pecha de ""cavalos paraguaios". Já os países com
as ligas mais ricas, além de sofrerem com o excesso de atletas estrangeiros, também penaram
com o esgotamento de algumas
estrelas após dura temporada.
Com 15 jogadores que atuam
""em casa" e um técnico ""de fora",
a Grécia fez jogo tão tosco quanto
eficiente. Vontade e aplicação tática deram o tom. A façanha marca tanto o país que será raro ver a
Grécia jogando ""bonito". O futebol grego era tão sem passado que
não tinha uma cara. Agora, carregará essa aura retranqueira.
Portugal, por sua vez, parece
mesmo satisfeito no clube dos perdedores. O Brasil ganhou muito
depois do Maracanazo, mas vai
chorar para sempre aquela derrota. Diferentemente disso, muitos
portugueses até celebraram seu
""Maracanazo". Dificilmente terão outra boa chance de título.
Fazer prognóstico depois do título grego ficou algo mais temeroso, mas tudo bem. Em 2008, na
Áustria e na Suíça, espero mesmo
que as coisas não voltem tanto ao
normal. Como um brasileiro que
curte a Eurocopa mesmo quando
esta não acontece em Portugal e
não tem técnico brasileiro, torço
para que a mídia nacional tenha
aprendido de vez o quanto é legal
e o quanto vale a pena investir na
sensacional competição européia.
Copa América
A Eurocopa, mesmo não tendo Brasil e Argentina, é muito mais
charmosa e legal do que o torneio sul-americano, que, para melhorar, deveria ser disputado a cada quatro anos (esse plano já está aprovado e pode vigorar a partir de 2008) e ser fundido com a Copa Ouro
(com os países mais fortes da Concacaf, daria para fazer uma competição com 16 seleções bem mais interessante). Dá até para fazer a Copa América paralelamente à Euro, pois o fuso horário ajuda.
Leitores
Poucas vezes recebi tantos e-mails como na Eurocopa deste ano.
Agradeço as mensagens, especialmente as de apoio na ""cruzada em
defesa da Euro", e peço desculpas por não ter respondido a todos. Seja como for, estaremos juntos, de alguma forma, em 2008.
E-mail: rbueno@folhasp.com.br
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