São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Pelé eterno

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Quando uma pessoa quer me elogiar para outra, que não entende nada de futebol, diz que joguei ao lado do Pelé na Copa de 70. Tenho orgulho disso e de ter atuado com tantos outros craques na seleção e no Cruzeiro.
O filme "Pelé Eterno" é uma aula sobre futebol. Pelé tinha, no mais alto nível, todas as qualidades técnicas, físicas e emocionais de um gênio da posição. Ele só não foi tão malabarista quanto Maradona e Ronaldinho. Maradona foi o segundo dos supercraques, e Ronaldinho já é um dos maiores de todos os tempos.
Na infância, Pelé não freqüentou escolinha nem teve nas categorias de base dos clubes a científica preparação técnica e física dos atuais jovens. Será que hoje ele seria melhor ou os professores iriam atrapalhá-lo?
Pouco tempo depois de chegar ao Santos, o menino Pelé já era titular, viajava pelo mundo e jogava duas ou três vezes por semana. Não havia tempo para treinar. Pelé não precisou aprender nem aperfeiçoar nada. Nasceu rei.
Antes dos jogos, Pelé ia ao vestiário, deitava num canto e fechava os olhos. Era proibido incomodá-lo. Não sei se pensava no rival, se dormia e sonhava com as maravilhas que iria fazer ou se fazia planos para a folga após o jogo.
Antes de a bola chegar aos seus pés, numa fração de segundos, Pelé mapeava tudo que estava à sua volta. Com o olhar, ele me dizia o que iria fazer. Era difícil acompanhá-lo. A comunicação analógica, sem palavras, é menos precisa, mas é mais rica.
Além das extraordinárias qualidades técnicas, Pelé era veloz e forte. Quando era muito marcado e não conseguia partir com a bola dominada, ia jogar de centroavante, de costas e perto do zagueiro. Quando a bola chegava, imobilizava o defensor com o corpo e os braços, girava e fazia o gol.
Pelé era um ambicioso guerreiro. Quanto mais difícil a partida, mais se agigantava. Se jogasse mal (isso ocorreu muitas vezes, não estou mentindo), no outro jogo se tornava um possesso.
Ele queria brilhar sempre, para não deixar dúvidas de que era o maior de todos. A ambição é uma característica dos grandes vencedores.
Pelé fazia tudo o que era preciso fazer. Unia o talento com a simplicidade e a eficiência total. A perfeição não é humana. O craque Pelé é exceção.

Razoável estréia
O Brasil teve uma razoável estréia contra o Chile. Era o esperado. A altitude atrapalhou, a maioria dos atletas estava de férias, não houve tempo para eles se prepararem bem e faltaram os grandes craques. O Chile também estava bastante desfalcado. O empate seria o resultado mais justo.
Como era previsto, os três volantes ficaram muito atrás, e os dois centroavantes estavam muito à frente. Alex ficou sobrecarregado. Com a entrada de Diego, não houve mudança no desenho tático. Ele fez a função do Renato. Como Diego tem características de um meia, o time ficou mais rápido e ofensivo.
Se Kleberson e Júlio Baptista não estivessem contundidos, Diego não entraria nessa posição. Parreira não vai escalar dois volantes e dois meias de ligação (Kaká e Alex) perto dos dois atacantes. Vai contra seus conceitos.
Não se pode confundir esse esquema com o tradicional 4-4-2 europeu, utilizado na Copa-94, preferido pelo técnico, com dois volantes e um armador de cada lado -com funções defensivas e ofensivas-, formando uma linha de quatro no meio-de-campo. A equipe titular não joga assim porque Parreira quer aproveitar o talento dos meias ofensivos Kaká e Ronaldinho. Isso mostra que ele prefere o craque ao esquema tático.
Todos esperavam a entrada de Vágner. Mas Parreira não gosta de queimar etapas. Ricardo Oliveira já tinha sido convocado e é mais experiente. Ele se movimentou mais do que o atacante Adriano. Fez pouca diferença.
Mancini e Gustavo Nery atuaram de laterais, e não de alas ou meias, como fazem nos seus clubes. Na lateral, eles se tornam jogadores comuns porque fazem pouco o que mais sabem, que são as tabelas, as entradas pelo meio e as finalizações.
O gol do Brasil foi a soma do talento de Alex nas bolas paradas e a eficiência de Luis Fabiano pelo alto. O time reserva é melhor do que o titular nas jogadas aéreas.
Os destaques foram Júlio César e o zagueiro Luisão. Não cometeram erros, e o goleiro fez ótimas defesas. Hoje, contra a Costa Rica, deve ser mais fácil.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Pingue-pongue: Atleta crê em 3º pódio olímpico seguido do país
Próximo Texto: Atenas 2004: O velho (velho?) e o mar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.