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POLIFONIA
Olímpico não honra trégua que assinou
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
O recorde olímpico da
distância entre teoria e
prática está perto de cair em
Atenas.
A teoria: os Jogos provocaram adesão inédita na história da ONU -190 países assinaram resolução pedindo que
fosse respeitada a Trégua
Olímpica (ou seja, parar todos
os conflitos do mundo durante
os 16 dias de disputa).
A prática: o Departamento
de Estado dos EUA já avisou
que nada vai mudar na vida
de seus militares no Iraque.
A teoria: o Olympic Truce
Centre, fundação grega que
mantém viva a idéia da trégua, publicou um gibi em sete
línguas e o distribuiu a crianças de cem países.
A prática: nem a própria
Grécia nem a vizinha Turquia
entenderam a proposta, já que
se estranharam há seis dias.
A teoria: 386 personalidades
(Clinton, Lula e o papa, entre
elas) assinaram a favor do cessar-fogo durante os Jogos.
A prática: 78 mil homens e
US$ 1,5 bilhão despejados no
esquema de segurança compõem o cenário da Olimpíada
mais preocupada com o terror.
Se está tão difícil assim, vale
a pena então pregar a paz?
"O que queremos é que a
mensagem seja reconhecida
em todo o mundo", explica
Stavros Lambrinidis, diretor
do Olympic Truce Centre.
"Somos muito realistas. A
Olimpíada não tem o poder de
parar conflitos."
É bem conhecida dos gregos
a idéia de deixar de guerrear
para competir. O conceito da
"Ekecheiria" existe desde os
primeiros Jogos antigos, em
776 a.C., embora pesquisadores discutam se era respeitado.
Do que não se duvida é que
os Jogos modernos só conheceram a fórmula invertida: por
três vezes, a guerra cancelou a
Olimpíada (1916, 1940 e 1944).
O COI decidiu retomar a
idéia da trégua nos anos 90.
Em 2000 criou um centro para
promover a iniciativa.
A fundação não conseguiu a
assinatura de George W. Bush,
mas acha que poderá atingir o
coração das crianças.
"Se a gente parar um único
conflito antes dos Jogos, já será
uma vitória importante", afirma um dos personagens da
história em quadrinhos enviada a escolas de todo o mundo.
Está no gibi, também, a resposta a outra dúvida óbvia: de
que serve parar a guerra por só
16 dias? "Se pudermos ter paz
por 16 dias, então pode ser,
apenas pode ser, que a tenhamos para sempre."
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