São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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POLIFONIA

Olímpico não honra trégua que assinou

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

O recorde olímpico da distância entre teoria e prática está perto de cair em Atenas.
A teoria: os Jogos provocaram adesão inédita na história da ONU -190 países assinaram resolução pedindo que fosse respeitada a Trégua Olímpica (ou seja, parar todos os conflitos do mundo durante os 16 dias de disputa).
A prática: o Departamento de Estado dos EUA já avisou que nada vai mudar na vida de seus militares no Iraque.
A teoria: o Olympic Truce Centre, fundação grega que mantém viva a idéia da trégua, publicou um gibi em sete línguas e o distribuiu a crianças de cem países.
A prática: nem a própria Grécia nem a vizinha Turquia entenderam a proposta, já que se estranharam há seis dias.
A teoria: 386 personalidades (Clinton, Lula e o papa, entre elas) assinaram a favor do cessar-fogo durante os Jogos.
A prática: 78 mil homens e US$ 1,5 bilhão despejados no esquema de segurança compõem o cenário da Olimpíada mais preocupada com o terror.
Se está tão difícil assim, vale a pena então pregar a paz?
"O que queremos é que a mensagem seja reconhecida em todo o mundo", explica Stavros Lambrinidis, diretor do Olympic Truce Centre.
"Somos muito realistas. A Olimpíada não tem o poder de parar conflitos."
É bem conhecida dos gregos a idéia de deixar de guerrear para competir. O conceito da "Ekecheiria" existe desde os primeiros Jogos antigos, em 776 a.C., embora pesquisadores discutam se era respeitado.
Do que não se duvida é que os Jogos modernos só conheceram a fórmula invertida: por três vezes, a guerra cancelou a Olimpíada (1916, 1940 e 1944).
O COI decidiu retomar a idéia da trégua nos anos 90. Em 2000 criou um centro para promover a iniciativa.
A fundação não conseguiu a assinatura de George W. Bush, mas acha que poderá atingir o coração das crianças.
"Se a gente parar um único conflito antes dos Jogos, já será uma vitória importante", afirma um dos personagens da história em quadrinhos enviada a escolas de todo o mundo.
Está no gibi, também, a resposta a outra dúvida óbvia: de que serve parar a guerra por só 16 dias? "Se pudermos ter paz por 16 dias, então pode ser, apenas pode ser, que a tenhamos para sempre."


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