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ESGRIMA
Transparente, artefato muda técnica de combate e preparação psicológica de
atleta
Espadachim é forçado a trocar de máscara e enfrentar olho no olho
DOS ENVIADOS A ATENAS
A arma é nova e deixou todos
meio atordoados. Não é de metal,
não espeta os rivais, mas pode ser
crucial em um duelo na esgrima.
O diferencial, agora, é o olhar.
Esta será a primeira Olimpíada
em que os espadachins das provas
de sabre utilizarão máscaras
transparentes. O modelo é bem
diferente do tradicional, formado
por um entrelaçamento de fios
que cobre totalmente o rosto.
A implantação da máscara nos
Jogos de Atenas foi proposta pela
Federação Internacional de Esgrima em maio, após a entidade ser
pressionada por agências de notícias e redes de TV, em especial as
européias, que costumam comprar direitos das competições.
A idéia era só tornar o formato
da disputa mais atraente. Na prática, contudo, a mudança afetou a
técnica de combate e, principalmente, a preparação psicológica
dos atletas. Com os brasileiros, o
baque não foi diferente.
"A esgrima é como o pôquer.
Você não pode demonstrar para o
adversário o que pretende fazer. É
por isso que essa nova máscara
acrescenta um elemento importante nas disputas. A expressão
pode dizer muita coisa", explica
Miakotnykh Guennadi, chefe de
equipe do Brasil em Atenas.
Dois de seus três atletas na Grécia disputam provas com o sabre.
Renzo Agresta será o primeiro a
competir com a novidade, já no
sábado. Além do efeito psicológico, ele frisou que a máscara traz
também uma mudança prática
nos combates. "Quando se toca
nela com a arma, não conta ponto. Na antiga, contava", explica o
esgrimista de 19 anos.
Até o dirigente máximo da FIE
conta que o confronto "olho por
olho" não vai mudar apenas a fisionomia dos atletas na televisão.
"Isso pode até causar mudança de
estratégia durante um combate",
comenta Jochen Faerber, em entrevista concedida à Folha.
Guennadi sabe bem como funciona essa transformação. "Um
adversário pode perceber, pela
sua face, se você vai atacar, defender, se está cansado ou com medo. Quem treina com a máscara
transparente há mais tempo pode
levar vantagem."
O Brasil faz parte de um seleto
grupo de no máximo 30 países
que já conhecem o artefato desde
o ano passado. A federação internacional vai entregar gratuitamente novas máscaras para as outras nações que ainda não a conhecem em Atenas.
Mas nem os treinos fazem o corpo se acostumar com a novidade.
É assim ao menos para Élora Ugo
Pattaro, outra representante brasileira nos Jogos Olímpicos. "Primeiro, eu a achei feia. Depois, ela
incomoda um pouco. Mas precisamos treinar. Esse lado psicológico é importante", diz Élora, que
deve estrear em Atenas no dia 16.
No sabre, os russos, atuais campeões mundiais e líderes do ranking mundial, são favoritos por
equipes. O ucraniano Vladimir
Lukashenko e a americana Sada
Jacobson são os mais cotados nas
disputas individuais.
(GUILHERME ROSEGUINI E LUÍS CURRO)
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