São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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ESGRIMA

Transparente, artefato muda técnica de combate e preparação psicológica de atleta

Espadachim é forçado a trocar de máscara e enfrentar olho no olho

DOS ENVIADOS A ATENAS

A arma é nova e deixou todos meio atordoados. Não é de metal, não espeta os rivais, mas pode ser crucial em um duelo na esgrima.
O diferencial, agora, é o olhar.
Esta será a primeira Olimpíada em que os espadachins das provas de sabre utilizarão máscaras transparentes. O modelo é bem diferente do tradicional, formado por um entrelaçamento de fios que cobre totalmente o rosto.
A implantação da máscara nos Jogos de Atenas foi proposta pela Federação Internacional de Esgrima em maio, após a entidade ser pressionada por agências de notícias e redes de TV, em especial as européias, que costumam comprar direitos das competições.
A idéia era só tornar o formato da disputa mais atraente. Na prática, contudo, a mudança afetou a técnica de combate e, principalmente, a preparação psicológica dos atletas. Com os brasileiros, o baque não foi diferente.
"A esgrima é como o pôquer. Você não pode demonstrar para o adversário o que pretende fazer. É por isso que essa nova máscara acrescenta um elemento importante nas disputas. A expressão pode dizer muita coisa", explica Miakotnykh Guennadi, chefe de equipe do Brasil em Atenas.
Dois de seus três atletas na Grécia disputam provas com o sabre. Renzo Agresta será o primeiro a competir com a novidade, já no sábado. Além do efeito psicológico, ele frisou que a máscara traz também uma mudança prática nos combates. "Quando se toca nela com a arma, não conta ponto. Na antiga, contava", explica o esgrimista de 19 anos.
Até o dirigente máximo da FIE conta que o confronto "olho por olho" não vai mudar apenas a fisionomia dos atletas na televisão. "Isso pode até causar mudança de estratégia durante um combate", comenta Jochen Faerber, em entrevista concedida à Folha.
Guennadi sabe bem como funciona essa transformação. "Um adversário pode perceber, pela sua face, se você vai atacar, defender, se está cansado ou com medo. Quem treina com a máscara transparente há mais tempo pode levar vantagem."
O Brasil faz parte de um seleto grupo de no máximo 30 países que já conhecem o artefato desde o ano passado. A federação internacional vai entregar gratuitamente novas máscaras para as outras nações que ainda não a conhecem em Atenas.
Mas nem os treinos fazem o corpo se acostumar com a novidade. É assim ao menos para Élora Ugo Pattaro, outra representante brasileira nos Jogos Olímpicos. "Primeiro, eu a achei feia. Depois, ela incomoda um pouco. Mas precisamos treinar. Esse lado psicológico é importante", diz Élora, que deve estrear em Atenas no dia 16.
No sabre, os russos, atuais campeões mundiais e líderes do ranking mundial, são favoritos por equipes. O ucraniano Vladimir Lukashenko e a americana Sada Jacobson são os mais cotados nas disputas individuais. (GUILHERME ROSEGUINI E LUÍS CURRO)


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