São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006

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XICO SÁ

Futebol, teu nome é soberba

O São Paulo mereceu e, além de ter um cidade inteira no seca-seca, caiu no conto do "eu me acho", "eu sou o tal"...

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, aqui na terra vão jogando futebol, tem muito samba e muito choro tricolor. Na semana passada, falei de inveja, mas o que matou o São Paulo na noite de anteontem foi a soberba. O tricolor caiu no conto do "eu me acho", "eu sou o bom", "eu sou o tal!". Fora o Muricy, que esconde a empáfia, andava todo mundo muito, mas muito mesmo, metido a besta. Rogério, o mais emblemático do time, craque, brigando com Deus e o mundo. E o pior: maltratando as moças. Ora, brigar com o Milton Neves tudo bem, é de lei, mas não com a Milly Lacombe. Feio. Deus castiga quem maltrata as mulheres. Estava escrito nas tábuas de Moisés. Mas o São Paulo perdeu, principalmente, porque chegou a hora. Simples. Acontecia até com o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, o Santa Cruz de Fumanchu e o Flamengo de Zico. Tem dia que de noite a bola míngua como a lua de hoje. O São Paulo perdeu também porque havia uma cidade inteira no seca-seca. Ninguém agüentava mais o orgulho dos tricolores. Sequei longe da TV, ao lado de meu amigo Peréio, colorado de mancheia, jogando sinuca e conversa fora, e de olho nos céus para ver possíveis fogos. Tem jogo que é melhor secar de longe. Ué, dizíamos, mas que silêncio, será que o supertime do Morumbi não se achou em campo?! Até que o garçom disse: "Doutor, 2 a 0!". "Para eles." Claro que o tricolor pode triunfar às margens do Guaíba. Acontece. Mas o castigo foi mais que merecido. O time caiu no conto da imprensa, que viu em atletas normalíssimos supercraques. Eles são bons, mas nada excepcionais. O pior mesmo era ouvir e ler sobre o tal do planejamento. De como o São Paulo fez tudo certo. De como o São Paulo joga com reservas no Brasileiro e, mesmo assim, é um espetáculo. Mesmo tomando 4 a 0 do Santos. Bom para descer um pouco à terra e esquecer de Tóquio. Bom para a torcida deixar os corintianos em paz. Bom, simplesmente, para que a gente diga: "Menas, menas!". Bom para baixar a bola. Claro, repito, que esse mesmo time pode chegar lá em Porto Alegre e voltar com o triunfo. E é bom que consiga, porque se perde... Pode ser um desastre. Aí será deprimente, e isso contamina a equipe para o Brasileiro, contamina a torcida, que já é mal-acostumada, que só lota estádio quando joga pela Libertadores e esquece do time nas más fases. Pode ser um desastre. Aí quero ver a imprensa falando do "superplanejamento", dos cartolas "supercompetentes", da estrutura de Primeiro Mundo. Futebol é lindo por isso, nego queima a língua em 90 minutos, como se fosse uma casca de banana jogada aleatoriamente por um ser supremo na calçada da existência. Futebol é lindo porque o "supertime" que esnobou o Brasileiro terá que voltar a comer a grama dos mortais, a vida na marca da cal de um domingo qualquer na Ressacada.

VIDA REAL 1
Enquanto isso a Série C do Campeonato Brasileiro pega fogo. Lá eu sou Icasa, de Juazeiro do Norte, que foi o primeiraço de seu grupo e agora vai pegar o Coruripe, o Incrível Hulk das Alagoas, como é conhecido, por causa de sua camisa clorofilada.

VIDA REAL 2
Bom mesmo foi Amparo 0 x 2 Linense, pela Segundona do Campeonato Paulista. Meninos, eu vi!

VIDA REAL 3
Uma partida de sub-20 da segunda divisão do Campeonato Paulista, aí já é demais, né? Mas que nada. São Bernardo 0 x 2 Jabaquara foi um jogaço, contam-me aqui, com fotografias e tudo mais, os amigos do "Jogos Perdidos", o mais incrível blog do esporte bretão do mundo.

xico.folha@uol.com.br


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