São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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confusão

Lesão de Ronaldo e seu tratamento tumultuam Milan

Time italiano, que avaliou mal a contusão do atacante, vê autoridades do país até investigarem um suposto doping

José Luiz Runco, médico da seleção, diz não ter aplicado "terapia genética" no atleta, que ficará sem jogar pelo menos até o próximo mês

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Itália recebeu Ronaldo de novo neste ano e experimenta agora outra grande polêmica sobre uma contusão do ""Fenômeno" e o seu tratamento.
O jogador está no Brasil com uma lesão mais grave do que o Milan detectara inicialmente, fato que já gerou mal-estar no clube italiano. Mais que isso, Ronaldo passou pelas mãos de José Luiz Runco, médico da seleção brasileira que faz uso de técnica inovadora e questionada na Itália para tratar lesões.
""Trata-se de uma técnica ainda embrionária. Poucos sabem a respeito dela e de suas conseqüências. É ainda experimental, por isso o pessoal tem dúvidas", diz Bernardino Santi, especialista em medicina esportiva ligado às confederações brasileiras de boxe e futebol.
A técnica em questão é chamada Fator de Crescimento. Segundo Runco, trata-se de uma ""terapia genética". Uma certa quantidade de sangue é extraída de área próxima da lesão do atleta. Alguns componentes, como cálcio, são acrescentados no material extraído. Depois, esse produto final é injetado na mesma área lesionada do atleta com fins curativos.
Ettore Torri, procurador-chefe do Coni (Comitê Olímpico Italiano), falou sobre a possibilidade de esse tipo de tratamento ser visto como doping mesmo sem saber ao certo se Ronaldo fizera o tratamento -segundo Runco, não fez.
""Quero saber com certeza do que se trata, se era preciso uma autorização [para o tratamento] e se essa foi pedida. Vou pedir um parecer ao departamento médico do Coni sobre isso", afirmou Torri na Itália.
Runco, porém, diz não ter tratado Ronaldo dessa forma. ""Ele não precisava [do Fator de Crescimento]. Fiz isso no Maxi [jogador do Flamengo]. O Ronaldo fez uma ecografia. Tem um estiramento de grau um para grau dois. Precisa de uns 15 dias para se recuperar. Quando ele volta para a Itália, não é problema meu", falou ele à Folha.
Luigi Frati, presidente da Comissão Antidoping do Coni, considera a tal técnica doping.
""O tratamento com fatores de crescimento também é doping. Essa prática é considerada ilícita na Itália porque a Wada [Agência Mundial Antidoping] entende que tudo aquilo que possibilite obter uma vantagem esportiva é doping", disse ele ontem, segundo a Ansa, agência italiana de notícias.
Runco não concorda com ele. ""Isso nunca será doping."
O Milan esperava ter Ronaldo já no dia 18, contra o Benfica, pela Copa dos Campeões. Porém deverá ficar sem ele por pelo menos um mês -o Milan falava inicialmente em estiramento de grau um e esperava por ele em treinos na última segunda. O brasileiro sofre com o problema desde 31 de julho.
O clube italiano, porém, admitiu o erro de avaliação médica e espera pelo brasileiro só na outra semana -ele até voltaria à Itália antes, mas para ficar em repouso. ""Confio no corpo médico do Milan", disse Adriano Galliani, dirigente do Milan.
Jean Pierre Meersseman, do departamento médico do clube, acompanhou Ronaldo fora da Itália nos últimos dias.
Antes de viajar para o Brasil para se tratar com Runco, Ronaldo já havia passado pelo cirurgião Marc Martens na Bélgica. O Milan destacou também outro médico, Massimiliano Sala, para ver Ronaldo no Rio.
Runco tem mantido contatos com o departamento médico do Milan. A imprensa italiana destacou que ele teria sugerido a técnica do Fator de Crescimento para Ronaldo, o que ele negou. O jogador vem trabalhando com seu fisioterapeuta pessoal, Bruno Mazziotti.
A técnica que Runco usa só é possível na Itália com autorização e para fins curativos. O esgrimista Aldo Montano, ouro em Atenas-04, se curou de pubalgia com tal técnica, que reduziria em até 70% o tempo de recuperação do atleta e não seria doping por lidar com substância do próprio paciente.


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