São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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STJD pode punir doping que CBF liberou

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Por um erro na cartilha antidoping da CBF, Ricardo Lopes, jogador do Paulista, foi flagrado em teste feito no Brasileiro da Série B a partir de prescrição do médico do clube, que pode ser punido.
Carlos Eduardo Damasceno receitou neosaldina ao lateral-direito, que havia se queixado de dor de cabeça.
Antes, o médico consultou o "Regulamento de Controle de Dopagem" da CBF, que lista a substância entre os fármacos permitidos.
O problema é que o remédio contém o estimulante isometepteno, banido pelo Código Mundial Antidoping.
Por conta desse erro na lista da CBF, Ricardo Lopes foi flagrado no controle realizado na partida contra o Marília, realizada em 6 de julho.
Em sua defesa, o Paulista alegou que o clube foi induzido ao erro a partir da lista errada. O equívoco ainda consta no documento, disponível para consulta no site da CBF.
"Nossa estratégia de defesa foi isentar o atleta de culpa. E, por outro lado, de acordo com a lista de substâncias proibidas, que os clubes recebem no início do ano, a neosaldina é permitida", afirma Marcel Belfiore Santos, advogado do Paulista.
O estratagema deu resultado, e a procuradoria do STJD não ofereceu denúncia contra o clube ou o jogador. Ou seja, Ricardo Lopes é inocente de acusação de doping.
Mas, segundo especialistas ouvidos pela Folha, exames como o do jogador do Paulista podem gerar desde simples advertência e anulação do resultado da partida -não é o caso, já que o Paulista perdeu o jogo- até a suspensão por um ano.
No entanto, o único que pode sofrer sanção -e rigorosa- do STJD é o médico.
Damasceno foi citado no artigo 107 do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que trata de exclusão do futebol. "Espero que prevaleça o bom senso e isso não aconteça. A coisa foi feita tão às claras que, no papel do exame do jogador, escrevi que ele tinha tomado a neosaldina", conta o médico.
Procurado, Tanus Jorge Nagem, presidente da Comissão Nacional de Controle de Dopagem da CBF, declarou que os clubes foram avisados do veto ao medicamento através de suas federações. Segundo ele, a circular foi enviada em maio.
"Isso tudo está no processo. As federações receberam comunicado com antecedência alertando da proibição", disse Nagem, que afirmou que a lista do site não foi corrigida porque essas modificações só são feitas "ano a ano", a partir da lista divulgada pela Wada (Agência Mundial Antidoping).
O caso do futebol pode respingar em outros esportes. O Comitê Olímpico Brasileiro corre risco semelhante. Sua "Lista de Substâncias e Métodos Proibidos" também libera a neosaldina. Antes do Pan, o comitê alertou as confederações do problema. Mas também não corrigiu o erro em seu site.
"Faz tempo que detectei a falha. Vou alertá-los de novo", disse Eduardo de Rose, responsável pelo antidoping no COB, ao ser informado pela Folha sobre o tema.
No futebol, a interpretação enviesada do código antidoping pode gerar novo recurso da Fifa na CAS (Corte de Arbitragem do Esporte).


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