|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
STJD pode punir doping que CBF liberou
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Por um erro na cartilha antidoping da CBF, Ricardo Lopes, jogador do Paulista, foi
flagrado em teste feito no
Brasileiro da Série B a partir
de prescrição do médico do
clube, que pode ser punido.
Carlos Eduardo Damasceno receitou neosaldina ao lateral-direito, que havia se
queixado de dor de cabeça.
Antes, o médico consultou
o "Regulamento de Controle
de Dopagem" da CBF, que
lista a substância entre os
fármacos permitidos.
O problema é que o remédio contém o estimulante
isometepteno, banido pelo
Código Mundial Antidoping.
Por conta desse erro na lista da CBF, Ricardo Lopes foi
flagrado no controle realizado na partida contra o Marília, realizada em 6 de julho.
Em sua defesa, o Paulista
alegou que o clube foi induzido ao erro a partir da lista errada. O equívoco ainda consta no documento, disponível
para consulta no site da CBF.
"Nossa estratégia de defesa foi isentar o atleta de culpa. E, por outro lado, de acordo com a lista de substâncias
proibidas, que os clubes recebem no início do ano, a
neosaldina é permitida",
afirma Marcel Belfiore Santos, advogado do Paulista.
O estratagema deu resultado, e a procuradoria do
STJD não ofereceu denúncia
contra o clube ou o jogador.
Ou seja, Ricardo Lopes é inocente de acusação de doping.
Mas, segundo especialistas
ouvidos pela Folha, exames
como o do jogador do Paulista podem gerar desde simples advertência e anulação
do resultado da partida
-não é o caso, já que o Paulista perdeu o jogo- até a
suspensão por um ano.
No entanto, o único que
pode sofrer sanção -e rigorosa- do STJD é o médico.
Damasceno foi citado no
artigo 107 do CBJD (Código
Brasileiro de Justiça Desportiva), que trata de exclusão do futebol. "Espero que
prevaleça o bom senso e isso
não aconteça. A coisa foi feita tão às claras que, no papel
do exame do jogador, escrevi
que ele tinha tomado a neosaldina", conta o médico.
Procurado, Tanus Jorge
Nagem, presidente da Comissão Nacional de Controle
de Dopagem da CBF, declarou que os clubes foram avisados do veto ao medicamento através de suas federações. Segundo ele, a circular foi enviada em maio.
"Isso tudo está no processo. As federações receberam
comunicado com antecedência alertando da proibição", disse Nagem, que afirmou que a lista do site não
foi corrigida porque essas
modificações só são feitas
"ano a ano", a partir da lista
divulgada pela Wada (Agência Mundial Antidoping).
O caso do futebol pode
respingar em outros esportes. O Comitê Olímpico Brasileiro corre risco semelhante. Sua "Lista de Substâncias
e Métodos Proibidos" também libera a neosaldina. Antes do Pan, o comitê alertou
as confederações do problema. Mas também não corrigiu o erro em seu site.
"Faz tempo que detectei a
falha. Vou alertá-los de novo", disse Eduardo de Rose,
responsável pelo antidoping
no COB, ao ser informado
pela Folha sobre o tema.
No futebol, a interpretação enviesada do código antidoping pode gerar novo recurso da Fifa na CAS (Corte
de Arbitragem do Esporte).
Texto Anterior: Lesão de Ronaldo e seu tratamento tumultuam Milan Próximo Texto: Doping: Decisão de STJD já gerou recurso em tribunal internacional Índice
|