São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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"Adotados" por treinador, dopados se defendem à CBAt

Em depoimento, envolvidos no maior esquema de doping do atletismo nacional aliviam Jayme Netto Jr., que, além de gerenciar suas carreiras, segue na ativa

JOSÉ EDUARDO MARTINS
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A promessa de uma nova equipe, com patrocinadores e a supervisão de Jayme Netto Jr., pode alterar o futuro dos envolvidos no maior escândalo de doping do atletismo brasileiro.
Recém-desempregados após a extinção da equipe de velocidade da Rede Atletismo, os atletas já traçam seus planos para o futuro com o técnico, que vem se movimentando nos bastidores para manter seus pupilos em atividade.
Apesar de ter afirmado logo após o estouro do escândalo que abandonaria o atletismo e de estar preventivamente suspenso por dois anos, Jayme ainda orienta seus atletas, tanto nas pistas quanto fora delas.
"Seria muita burrice um treinador consagrado, como o Netto, querer encerrar a carreira dele assim. Tudo precisa ser bem investigado", afirmou Bruno Lins, um dos cinco atletas que depuseram ontem em São Paulo para a comissão de inquérito da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
Flagrados no exame antidoping com EPO (eritropoietina), todos cumprem suspensão preventiva por dois anos.
Lucimara Silvestre segue os conselhos do treinador. Atualmente sem outro empresário, foi indicada por Jayme para fazer fotos para uma agência que gerencia a carreira de celebridades, com o objetivo de tentar diversificar seus recursos.
"Ele é como um pai para nós. Já conseguiu um patrocinador [empresa de suplemento alimentar] e sei que pode arranjar mais coisas para a gente. Vou seguir com ele", disse Lucimara, que recebe R$ 1.000 mensais do novo patrocinador.
Após o depoimento, ela tentou minimizar a culpa do técnico. "Ele [Jayme] sabia que a substância era doping, mas tinha a garantia do [Pedro] Balikian [fisiologista] de que não seríamos flagrados no exame."
A atleta afirmou que não foi informada de que as quatro injeções que recebeu eram de substância proibida. Disse que só fez o antidoping porque não sabia que estava dopada.
Ela ainda disse, sem revelar nomes, que outros atletas que disputaram o Mundial de Berlim, no mês passado, e eram treinados por Jayme também receberam a mesma injeção.
De acordo com a primeira versão apresentada por Jayme e pelo outro técnico envolvido, Inaldo Sena, a utilização de EPO foi indicada por Balikian.
Bruno Lins, que também vai treinar sob a coordenação de Jayme e é patrocinado pela empresa de suplemento alimentar, fez coro com Lucimara e eximiu o treinador de culpa.
"Falei para ele [Jayme] que a gente vai voltar e provar para o Brasil inteiro que nunca fizemos nada ilícito", afirmou Lins.
Apesar das possíveis punições, independentemente do veredicto da comissão, pouca coisa pode mudar na vida dos principais envolvidos.
"Se não houver punição do Conselho [Regional de Educação Física e de Fisioterapia], não podemos impedi-los de trabalhar", disse Thomaz Paiva, presidente da comissão.


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