São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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XICO SÁ

O leitor que não lê


LQNL atira sempre a primeira pedra. Como um arrogante consumidor de código em riste, ele tem sempre razão


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, um dos mais interessantes e contraditórios fenômenos do momento é o leitor que não lê. Sim, ele existe e está solto na rua, como o leão da música do Erasmo e do Roberto.
A nova criatura é uma típica anomalia da era da virtualidade e se multiplica como uma praga de Gremlins. Ataca qualquer tipo de cronista, mas sobretudo o esportivo.
Foi gerado do cruzamento da paixão ludopédica com a internet.
O LQNL (leitor que não lê) atira sempre a primeira pedra e está pronto para o ataque. Como o arrogante consumidor de código em riste, ele tem sempre razão, não interessa o assunto. Ele espalha um texto de jornal, por exemplo, como esta crônica de sexta, entre torcedores do seu time e adverte: "Veja o que esse cara está falando do São Paulo, vamos mandar e-mails para o f.d.p. e provar que somos homens".
Calma, amigo tricolor, é só uma pequena mostra entre centenas que recolho. O efeito, porém, é maluco.
Você recebe meia hora depois milhares de xingamentos e ameaças por uma coisa que nunca escreveu.
O leitor que não lê nem sequer passa o olho no texto, simplesmente segue a boiada virtual liderada por um leitor que caiu de paraquedas e não entendeu o espírito da prosa.
No momento, o leitor que não lê alveja este cronista em desagravo ao "povo goiano". Eu teria escrito contra Goiás. O LQNL deve estar confundindo, creio, uma crítica feita ao comportamento do técnico Hélio dos Anjos, que dirige o time homônimo do Estado, no episódio em que atacou os torcedores do Flamengo que comparecem ao Serra Dourada.
Não falo do leitor que me xinga com razão, nem do sagrado "juris esperniandi", nem do rapaz atento que me corrige. Trato do LQNL que promete me pegar na esquina e mostra que sabe onde moro. Para com isso, amigo palmeirense, uma coisa é o corvo Edgar, el secador fracassado, outra é a pessoa física, afino, mirando covardemente os bíceps de campeão de palitinhos no espelho.
Embora seja um tipo raríssimo, o LQNL patriota também enche o saco. Desconfiava de Dunga da mesma forma que o cronista; agora já se sente hexacampeão do mundo.
O pior do leitor que não lê é que não tem humor nunca. Ao contrário do leitor "sussa", de sossegado, que promete só denunciar a criação ilegal do corvo ao Ibama ou fazê-lo churrasco, entre outros gracejos.
"La buena onda", como me diz aqui El Domador de Yacarés, feliz com o triunfo do seu Paraguai sobre "os curepas boludos" da Argentina.
Para os LQNLs violentos, a gente aplica a lição do Drummond: "Se o meu verso não deu certo foi o seu ouvido que entortou". Na gozação, óbvio, pois não temos cancha para amarrar as chuteiras do poeta, mineiro de Itabira e torcedor do Vasco.
Leitor que não lê, você é a mais linda lição na dialética da internet. Os gutenberguianos, viciados em um jornal de papel, agradecem.

Alguma poesia
Os dois grandes jogos do final de semana: Botafogo x Fluminense, pela poesia do desespero; ASA x América-MG, decisão da C, pela promessa de felicidade de dois times que estarão no faroeste da Segundona de 2010.

xico.folha@uol.com.br


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