São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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Para Nuzman, Rio-07 não teve estouro

Dirigente afirma saber que estará exposto até a Rio-16, mas deixa claro que obras e infraesturutura são com o governo

Presidente do comitê diz acreditar que Copa-14 não vai ser obstáculo para a Olimpíada carioca, a 1ª da história na América do Sul

DO ENVIADO A COPENHAGUE

Menos de uma semana após ter atingido o ápice na carreira de dirigente, o presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, se disse aliviado. Mas ciente de que estará exposto por sete anos.
Diante da tarefa de reajustar o plano dos Jogos e traçar a rota para tornar o país potência olímpica, ele nega com veemência que houve estouro de orçamento no Pan-2007 e afirma que o governo irá responder pelas obras de infraestrutura e instalações esportivas da Olimpíada. (RODRIGO MATTOS)

 

FOLHA - Gilbert Felli [diretor de Olimpíadas do COI] diz que o primeiro encontro [COI e comitê organizador] deve ser em janeiro...
CARLOS ARTHUR NUZMAN -
Vai ser antes. Porque pedi para ser antes. Não quero soltar. Já sei as datas, mas ele deve divulgar até amanhã [quinta-feira passada].

FOLHA - Ele afirma ter o masterplan do COI. O plano do Rio será encaixado nesse modelo?
NUZMAN -
Ele tem que adaptar o masterplan do COI de acordo com a cidade. A cidade apresenta seu projeto dentro da sua ótica. Ele vai trabalhar com a cidade que ganhou. É um ajuste.
Por exemplo, um dos problemas que se tem... No Pan, teve... Quer dizer, não é problema, é situação: você tem os gerentes da sede, são os donos das instalações. Quando eles são incorporados ao comitê organizador cedo, começa a ter aumento da despesa. O masterplan trará a realidade que você economiza.

FOLHA - Então pode-se esperar alguma adaptação do plano inicial?
NUZMAN -
Vai ter que ser feito. Mas em todos [os Jogos Olímpicos] são feitas adaptações.

FOLHA - E o cronograma?
NUZMAN -
Nas apresentações [da prestação de contas das cidades-sedes dos Jogos ao COI], Sochi [na Rússia, sede da Olimpíada de Inverno de 2014] exibiu reajuste do orçamento. Você faz o orçamento, ele é aprovado, mas, ao encaixá-lo no masterplan e desenvolvê-lo, você tem que ajustar.

FOLHA - Há margem para ajustes?
NUZMAN -
Não. Londres tem dois esportes que ainda não têm instalações. Já é problema para eles. Com a aprovação do rúgbi de 7 e do golfe, teremos que rever a estratégia de orçamento e de organização. A vantagem é que nada será deixado de se colocar publicamente.

FOLHA - O relacionamento do COI será direto com o governo? Em certas áreas o senhor não atua?
NUZMAN -
Não necessariamente. O que for falado, vamos saber. O que for falado, vamos saber estando ou não estando lá.

FOLHA - Como está a formação da estrutura do governo?
NUZMAN -
Vai ter que ser feita.

FOLHA - O senhor vai participar disso? E como isso vai funcionar?
NUZMAN -
A escolha é dos governos, graças a Deus. Vou dar uma festa. Sabe por quê? O Pan foi assim, sem a titulação dessa Autoridade Olímpica. O que é do governo, é do governo. Não pode botar na conta do comitê organizador. O comitê vai organizar os Jogos. Quem fará infraestrutura e obra é o governo.

FOLHA - Mas, no final das contas, não são os senhores [comitê organizador] quem respondem ao COI?
NUZMAN -
De forma nenhuma. As responsabilidades de cada um são cobradas de cada um, o que é feito em todos os Jogos. Tanto que na apresentação tem gente do governo e gente que é do comitê para responder.

FOLHA - Quanto ao governo, preocupa a enxurrada de processos no Tribunal de Contas da União cobrando Ricardo Leyser [principal executivo do governo nessa área]?
NUZMAN -
O Leyser não está condenado a nada. Há decisão que pede esclarecimentos, e ele vai se defender. É um profissional que fez trabalho excepcional no Pan e agora. Não tem por que não continuar.

FOLHA - Se era o governo que era responsável pelas obras do Pan e atrasou, como a gente sabe...
NUZMAN -
A gente está falando de Pan ou Olimpíada? Para falar de Pan, tem que corrigir toda a estrutura de opinião que a Folha tem. Dizer que a gente estourou orçamento fica difícil.

FOLHA - Houve problemas em obras e de orçamento...
NUZMAN -
Os Jogos não se comparam ao Pan. Não há a menor condição. É só pegar o que foi o projeto de um e o projeto de outro. São línguas diferentes. É o grego contra o chinês. É impossível comparar.

FOLHA - O orçamento feito para a Olimpíada é mais perto da realidade do que foi o do Pan?
NUZMAN -
Agora, você falou certo: mais perto. Porque ele terá que ser reajustado. Agora, o COI vai se debruçar sobre ele. Teremos a questão de instalações, de as federações internacionais mudarem a opinião sobre as instalações. A contratação de pessoas. É muita coisa.

FOLHA - Vocês pretendem publicar o contrato olímpico [entre a cidade e o COI]? É decisão de cada cidade...
NUZMAN -
Não está decidido. Nunca vi esse contrato publicado em nenhum lugar.

FOLHA - E quanto às duas vilas, que envolvem 20 mil pessoas?
NUZMAN -
Isso terá que ser gerenciado da melhor forma possível. Você não tem condições, com antecedência, de fixar valores. Há coisas que só entram na execução e análise da Olimpíada daqui a quatro anos.

FOLHA - Quando teremos masterplan e orçamento mais definitivos?
NUZMAN -
Não posso dizer nada porque a primeira instrução do COI para a gente foi: "Saiam do ar". Quando tiver o primeiro seminário, eles vão explicar, e aí vamos analisar. Participei da comissão de coordenação dos Jogos de Pequim e vi que é impossível dar panorama do que será a sete anos [dos Jogos].

FOLHA - Mas e a prestação de contas com o público?
NUZMAN -
Problema nenhum da prestação de contas. Nunca deixamos de prestar contas de nada. Prestaremos conta de ações que vão ser feitas, de acordo com o que diz o comitê.

FOLHA - Quem será a pessoa mais responsável pelos Jogos? Será essa figura da Autoridade Olímpica, que responderá aos gastos públicos?
NUZMAN -
Comitê organizador organiza os Jogos. A Autoridade Pública Olímpica trata das obras de infraestrutura e das instalações esportivas. Cada um responde no que lhe diz respeito. Como no Pan. Só que ninguém quis publicar assim.
No Pan, tinha a matriz de responsabilidade acordada pelos governos, no gabinete da ministra Dilma [Rousseff]. Mas quiseram colocar tudo na conta do comitê organizador.

FOLHA - O ministério também foi cobrado pelas contas do Pan.
NUZMAN -
Não, vocês botavam comitê organizador. Parecia que sou responsável por todas as obras, e eu não sou. Nem eu nem ninguém. Por isso a Autoridade Olímpica tem que funcionar no Rio, para ficar perto. Cada um vai ter que responder pelo seu patrimônio.

FOLHA - Há o compromisso dos senhores e do governo de fazer concorrência ao contratar serviços?
NUZMAN -
Temos o Ato Olímpico [lei que prevê garantia financeira do Brasil aos Jogos de 2016]. Vamos fazer o que for melhor. Em alguns casos temos obrigações e vamos seguir. Montei a melhor equipe de consultores dos Jogos Olímpicos [quase todos contratados sem concorrência]. E, se não tivesse feito isso, tínhamos perdido. Vou fazer o melhor com o que há de melhor para ser feito.

FOLHA - O cenário de crise pesa na expectativa de receitas?
NUZMAN -
Acho que Londres não está tendo tanto prejuízo. Pode demorar. Mas já tem gente que quer patrocinar. É coisa de doido. Estou surpreso.

FOLHA - Na questão da potência olímpica [melhorar desempenho esportivo do Brasil]...
NUZMAN -
Temos que identificar a realidade brasileira com o que precisamos. Presidi entidade [vôlei] que eu peguei como a 14ª do mundo e a fiz campeã mundial. Conheço a receita do bolo. Não vamos trabalhar para todo mundo ter medalha. Nem a China teve medalha em tudo. Quem dirige deve estar na linha de frente. Estou aqui para dizer que pessoas estarão expostas.

FOLHA - E os problemas de infraestrutura da cidade?
NUZMAN -
A infraestrutura é trabalhada no que está no dossiê da candidatura e dentro do que não está. Queria dizer que, no transporte, o projeto não tem metrô, por exemplo.

FOLHA - O do Pan tinha metrô?
NUZMAN -
Não tinha. Não tinha nada. Proposta de infraestrutura zero. O que o COI diz para você fazer é isso. Mas é natural que uma obra puxe a outra.

FOLHA - Para o brasileiro que não é carioca, qual é o benefício?
NUZMAN -
Os países que vêm para treinar são 205. Chegará a hora em que o Rio não comportará todo mundo. Terão que fazer aclimatação. Os Estados que se estruturarem ganharão.

FOLHA - E o domínio do futebol?
NUZMAN -
O Pan foi extraordinário. Batemos recordes de bilheteria. Tem modalidades que a gente vai ter que preparar para poder difundir a cultura do esporte na população.

FOLHA - Quanto à Copa...
NUZMAN -
Não vejo a Copa do Mundo como problema. A Copa terá seus patrocinadores, e a Olimpíada, os dela. O mercado do Brasil permite isso. Uma empresa vai para a Copa, e outra, para a Olimpíada.

FOLHA - Não será necessário acordo então entre os comitês locais?
NUZMAN -
Nem cabe.

FOLHA - Qual o impacto para a indústria esportiva brasileira?
NUZMAN -
É imensurável. Não tem como ser mensurável.

FOLHA - Há coisas a serem corrigidas no que foi feito no Pan?
NUZMAN -
Fiz uma porção de Mundiais. De um para o outro a gente mudava. Não vamos tratar pelos erros, mas pela melhoria. Essa melhoria vamos fazer. Quatro anos para [organizar] um Pan é pouco. A Odepa [Organização Desportiva Pan-Americana] passou para seis.

FOLHA - Foi esse peso?
NUZMAN -
Falei isso para o presidente [da Odepa, Mario] Vasquez Raña. Para fazer melhor, é preciso tempo. Para ter mais calma, sem pressão.

FOLHA - Nesses erros, não está o do orçamento?
NUZMAN -
De jeito nenhum.

FOLHA - A percepção do tribunal de contas então é errada?
NUZMAN -
Vou discutir quando for chamado.

FOLHA - Não aconteceu ainda?
NUZMAN -
Graça a Deus, não. Ganhamos com um projeto e o transformamos em outro. São dois projetos. Se as autoridades toparam, não dá para falar que houve estouro de orçamento.

FOLHA - Mas o orçamento inicial foi ultrapassado, e muito...
NUZMAN -
Mudou o projeto. Tinha estádio de 10 mil lugares para o atletismo, que passou para 40 mil e vai para 60 mil, e foi um dos motivos pelos quais ganhamos a Olimpíada. Porque a federação internacional disse que o Rio era o único que tinha estádio para o atletismo.

FOLHA - Mudança desse nível não vai acontecer na Olimpíada?
NUZMAN -
Se o governo quiser transformar a instalação temporária em definitiva, isso não é estouro de orçamento.


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