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Para Nuzman, Rio-07 não teve estouro
Dirigente afirma saber que estará exposto até a Rio-16, mas deixa claro que obras e infraesturutura são com o governo
Presidente do comitê diz acreditar que Copa-14 não vai ser obstáculo para a Olimpíada carioca, a 1ª da história na América do Sul
DO ENVIADO A COPENHAGUE
Menos de uma semana após
ter atingido o ápice na carreira
de dirigente, o presidente do
Comitê Organizador Rio-2016,
Carlos Arthur Nuzman, se disse aliviado. Mas ciente de que
estará exposto por sete anos.
Diante da tarefa de reajustar
o plano dos Jogos e traçar a rota
para tornar o país potência
olímpica, ele nega com veemência que houve estouro de
orçamento no Pan-2007 e afirma que o governo irá responder
pelas obras de infraestrutura e
instalações esportivas da Olimpíada.
(RODRIGO MATTOS)
FOLHA - Gilbert Felli [diretor de
Olimpíadas do COI] diz que o primeiro encontro [COI e comitê organizador] deve ser em janeiro...
CARLOS ARTHUR NUZMAN - Vai ser
antes. Porque pedi para ser antes. Não quero soltar. Já sei as
datas, mas ele deve divulgar até
amanhã [quinta-feira passada].
FOLHA - Ele afirma ter o masterplan do COI. O plano do Rio será encaixado nesse modelo?
NUZMAN - Ele tem que adaptar
o masterplan do COI de acordo
com a cidade. A cidade apresenta seu projeto dentro da sua ótica. Ele vai trabalhar com a cidade que ganhou. É um ajuste.
Por exemplo, um dos problemas que se tem... No Pan, teve...
Quer dizer, não é problema, é
situação: você tem os gerentes
da sede, são os donos das instalações. Quando eles são incorporados ao comitê organizador
cedo, começa a ter aumento da
despesa. O masterplan trará a
realidade que você economiza.
FOLHA - Então pode-se esperar alguma adaptação do plano inicial?
NUZMAN - Vai ter que ser feito.
Mas em todos [os Jogos Olímpicos] são feitas adaptações.
FOLHA - E o cronograma?
NUZMAN - Nas apresentações
[da prestação de contas das cidades-sedes dos Jogos ao COI],
Sochi [na Rússia, sede da Olimpíada de Inverno de 2014] exibiu reajuste do orçamento. Você faz o orçamento, ele é aprovado, mas, ao encaixá-lo no
masterplan e desenvolvê-lo,
você tem que ajustar.
FOLHA - Há margem para ajustes?
NUZMAN - Não. Londres tem
dois esportes que ainda não
têm instalações. Já é problema
para eles. Com a aprovação do
rúgbi de 7 e do golfe, teremos
que rever a estratégia de orçamento e de organização. A vantagem é que nada será deixado
de se colocar publicamente.
FOLHA - O relacionamento do COI
será direto com o governo? Em certas áreas o senhor não atua?
NUZMAN - Não necessariamente. O que for falado, vamos saber. O que for falado, vamos saber estando ou não estando lá.
FOLHA - Como está a formação da
estrutura do governo?
NUZMAN - Vai ter que ser feita.
FOLHA - O senhor vai participar disso? E como isso vai funcionar?
NUZMAN - A escolha é dos governos, graças a Deus. Vou dar
uma festa. Sabe por quê? O Pan
foi assim, sem a titulação dessa
Autoridade Olímpica. O que é
do governo, é do governo. Não
pode botar na conta do comitê
organizador. O comitê vai organizar os Jogos. Quem fará infraestrutura e obra é o governo.
FOLHA - Mas, no final das contas,
não são os senhores [comitê organizador] quem respondem ao COI?
NUZMAN - De forma nenhuma.
As responsabilidades de cada
um são cobradas de cada um, o
que é feito em todos os Jogos.
Tanto que na apresentação tem
gente do governo e gente que é
do comitê para responder.
FOLHA - Quanto ao governo, preocupa a enxurrada de processos no
Tribunal de Contas da União cobrando Ricardo Leyser [principal executivo do governo nessa área]?
NUZMAN - O Leyser não está
condenado a nada. Há decisão
que pede esclarecimentos, e ele
vai se defender. É um profissional que fez trabalho excepcional no Pan e agora. Não tem
por que não continuar.
FOLHA - Se era o governo que era
responsável pelas obras do Pan e
atrasou, como a gente sabe...
NUZMAN - A gente está falando
de Pan ou Olimpíada? Para falar de Pan, tem que corrigir toda a estrutura de opinião que a
Folha tem. Dizer que a gente
estourou orçamento fica difícil.
FOLHA - Houve problemas em
obras e de orçamento...
NUZMAN - Os Jogos não se
comparam ao Pan. Não há a
menor condição. É só pegar o
que foi o projeto de um e o projeto de outro. São línguas diferentes. É o grego contra o chinês. É impossível comparar.
FOLHA - O orçamento feito para a
Olimpíada é mais perto da realidade
do que foi o do Pan?
NUZMAN - Agora, você falou
certo: mais perto. Porque ele
terá que ser reajustado. Agora,
o COI vai se debruçar sobre ele.
Teremos a questão de instalações, de as federações internacionais mudarem a opinião sobre as instalações. A contratação de pessoas. É muita coisa.
FOLHA - Vocês pretendem publicar
o contrato olímpico [entre a cidade e
o COI]? É decisão de cada cidade...
NUZMAN - Não está decidido.
Nunca vi esse contrato publicado em nenhum lugar.
FOLHA - E quanto às duas vilas, que
envolvem 20 mil pessoas?
NUZMAN - Isso terá que ser gerenciado da melhor forma possível. Você não tem condições,
com antecedência, de fixar valores. Há coisas que só entram
na execução e análise da Olimpíada daqui a quatro anos.
FOLHA - Quando teremos masterplan e orçamento mais definitivos?
NUZMAN - Não posso dizer nada porque a primeira instrução
do COI para a gente foi: "Saiam
do ar". Quando tiver o primeiro
seminário, eles vão explicar, e
aí vamos analisar. Participei da
comissão de coordenação dos
Jogos de Pequim e vi que é impossível dar panorama do que
será a sete anos [dos Jogos].
FOLHA - Mas e a prestação de contas com o público?
NUZMAN - Problema nenhum
da prestação de contas. Nunca
deixamos de prestar contas de
nada. Prestaremos conta de
ações que vão ser feitas, de
acordo com o que diz o comitê.
FOLHA - Quem será a pessoa mais
responsável pelos Jogos? Será essa
figura da Autoridade Olímpica, que
responderá aos gastos públicos?
NUZMAN - Comitê organizador
organiza os Jogos. A Autoridade Pública Olímpica trata das
obras de infraestrutura e das
instalações esportivas. Cada
um responde no que lhe diz
respeito. Como no Pan. Só que
ninguém quis publicar assim.
No Pan, tinha a matriz de responsabilidade acordada pelos
governos, no gabinete da ministra Dilma [Rousseff]. Mas
quiseram colocar tudo na conta
do comitê organizador.
FOLHA - O ministério também foi
cobrado pelas contas do Pan.
NUZMAN - Não, vocês botavam
comitê organizador. Parecia
que sou responsável por todas
as obras, e eu não sou. Nem eu
nem ninguém. Por isso a Autoridade Olímpica tem que funcionar no Rio, para ficar perto.
Cada um vai ter que responder
pelo seu patrimônio.
FOLHA - Há o compromisso dos senhores e do governo de fazer concorrência ao contratar serviços?
NUZMAN - Temos o Ato Olímpico [lei que prevê garantia financeira do Brasil aos Jogos de
2016]. Vamos fazer o que for
melhor. Em alguns casos temos
obrigações e vamos seguir.
Montei a melhor equipe de
consultores dos Jogos Olímpicos [quase todos contratados
sem concorrência]. E, se não tivesse feito isso, tínhamos perdido. Vou fazer o melhor com o
que há de melhor para ser feito.
FOLHA - O cenário de crise pesa na
expectativa de receitas?
NUZMAN - Acho que Londres
não está tendo tanto prejuízo.
Pode demorar. Mas já tem gente que quer patrocinar. É coisa
de doido. Estou surpreso.
FOLHA - Na questão da potência
olímpica [melhorar desempenho esportivo do Brasil]...
NUZMAN - Temos que identificar a realidade brasileira com o
que precisamos. Presidi entidade [vôlei] que eu peguei como a
14ª do mundo e a fiz campeã
mundial. Conheço a receita do
bolo. Não vamos trabalhar para
todo mundo ter medalha. Nem
a China teve medalha em tudo.
Quem dirige deve estar na linha
de frente. Estou aqui para dizer
que pessoas estarão expostas.
FOLHA - E os problemas de infraestrutura da cidade?
NUZMAN - A infraestrutura é
trabalhada no que está no dossiê da candidatura e dentro do
que não está. Queria dizer que,
no transporte, o projeto não
tem metrô, por exemplo.
FOLHA - O do Pan tinha metrô?
NUZMAN - Não tinha. Não tinha
nada. Proposta de infraestrutura zero. O que o COI diz para
você fazer é isso. Mas é natural
que uma obra puxe a outra.
FOLHA - Para o brasileiro que não é
carioca, qual é o benefício?
NUZMAN - Os países que vêm
para treinar são 205. Chegará a
hora em que o Rio não comportará todo mundo. Terão que fazer aclimatação. Os Estados
que se estruturarem ganharão.
FOLHA - E o domínio do futebol?
NUZMAN - O Pan foi extraordinário. Batemos recordes de bilheteria. Tem modalidades que
a gente vai ter que preparar para poder difundir a cultura do
esporte na população.
FOLHA - Quanto à Copa...
NUZMAN - Não vejo a Copa do
Mundo como problema. A Copa terá seus patrocinadores, e a
Olimpíada, os dela. O mercado
do Brasil permite isso. Uma
empresa vai para a Copa, e outra, para a Olimpíada.
FOLHA - Não será necessário acordo então entre os comitês locais?
NUZMAN - Nem cabe.
FOLHA - Qual o impacto para a indústria esportiva brasileira?
NUZMAN - É imensurável. Não
tem como ser mensurável.
FOLHA - Há coisas a serem corrigidas no que foi feito no Pan?
NUZMAN - Fiz uma porção de
Mundiais. De um para o outro a
gente mudava. Não vamos tratar pelos erros, mas pela melhoria. Essa melhoria vamos fazer. Quatro anos para [organizar] um Pan é pouco. A Odepa
[Organização Desportiva Pan-Americana] passou para seis.
FOLHA - Foi esse peso?
NUZMAN - Falei isso para o presidente [da Odepa, Mario] Vasquez Raña. Para fazer melhor, é
preciso tempo. Para ter mais
calma, sem pressão.
FOLHA - Nesses erros, não está o do
orçamento?
NUZMAN - De jeito nenhum.
FOLHA - A percepção do tribunal de
contas então é errada?
NUZMAN - Vou discutir quando
for chamado.
FOLHA - Não aconteceu ainda?
NUZMAN - Graça a Deus, não.
Ganhamos com um projeto e o
transformamos em outro. São
dois projetos. Se as autoridades
toparam, não dá para falar que
houve estouro de orçamento.
FOLHA - Mas o orçamento inicial
foi ultrapassado, e muito...
NUZMAN - Mudou o projeto. Tinha estádio de 10 mil lugares
para o atletismo, que passou
para 40 mil e vai para 60 mil, e
foi um dos motivos pelos quais
ganhamos a Olimpíada. Porque
a federação internacional disse
que o Rio era o único que tinha
estádio para o atletismo.
FOLHA - Mudança desse nível não
vai acontecer na Olimpíada?
NUZMAN - Se o governo quiser
transformar a instalação temporária em definitiva, isso não é
estouro de orçamento.
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