São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 2005

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DOPING

Relatos apontam falhas nos processos de controle das competições de atletismo, como frascos com números repetidos

Erros expõem fragilidade de testes no país

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Caixas e recipientes com a mesma numeração -123456- provocaram o cancelamento de um teste antidoping e jogaram luz sobre a segurança do esquema deste tipo de controle no país.
A prova ocorreu no fim de novembro, em São Paulo. Após o primeiro atleta fazer a coleta, técnicos que acompanhavam o processo perceberam o problema e solicitaram a violação dos frascos. O do maratonista Franck Caldeira, porém, foi ao laboratório.
Após a coleta, as amostras são identificadas pelos números de controle. Se mais de um kit apresentar a mesma numeração, pode acontecer uma troca de testes.
"Tudo foi documentado. Gostaríamos que o dele também fosse descartado", declarou o técnico Jorge Luís da Silva.
Segundo Thomaz de Paiva, diretor jurídico da confederação de atletismo e membro da Agência Nacional Antidoping -órgão criado pela CBAt neste ano para coordenar o setor-, o erro foi do Comitê Olímpico Brasileiro, que enviou kits para teste por engano. O COB confirmou a falha.
O Ladetec, laboratório credenciado pelo Comitê Olímpico Internacional, informou que se duas amostras chegarem com o mesmo número, serão testadas. De acordo com o coordenador Francisco Radler, cabe ao órgão apenas verificar se o processo e os frascos não foram violados.
O caso mostra a fragilidade da segurança de provas de rua do país. Os eventos são de responsabilidade da organização e a CBAt dá o aval e controla o antidoping.
Pessoas ouvidas pela Folha, que não quiseram se identificar, relataram algum tipo de irregularidade nos procedimentos de pelo menos três corridas neste ano.
Em uma delas, as 10 Milhas Garoto, em Vila Velha (ES), foi flagrada com diurético -substância que ajuda na eliminação de líquidos- Dione Chillemi. No ano em que o atletismo deixou de fazer testes fora de competição, ela teve o primeiro caso positivo.
O formulário com os dados da atleta foi preenchido de forma incorreta. Não foram colocados os remédios que tomava, nem medidos o PH e a gravidade da urina.
"Pelas regras internacionais, todos os campos devem ser preenchidos ou rasurados. O PH depende das instruções, mas a densidade é necessária porque pode indicar que a substância não é urina e ser pedida nova amostra", diz Eduardo de Rose, da Agência Mundial Antidoping e do COB.
Como Dione assinou sem fazer considerações, o papel não conta como defesa. A responsabilidade pelo que aparece no corpo e pelo que ocorre no exame é do atleta.
Na mesma prova, corredores teriam deixado o local da coleta sem vigia, o que fere o protocolo.
Na prova da Integração, em Campinas, relatos apontam que só grades separavam o público dos atletas selecionados. Pela regra, é necessário que haja recinto preservado. Na Maratona do Rio, foram vistos copos de água à disposição dos atletas com perfurações, o que mostra violação.


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