São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

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JUCA KFOURI

Barueri, um time artificial


O Barueri não é nenhum fenômeno como pintam. É apenas fruto da ambição de um político que quer mais


O BARUERI não é um time de futebol propriamente dito. É mais uma plataforma política para as ambições do prefeito do município.
Rubens Furlan, o prefeito, é jogador inveterado. Freqüentemente vai a Las Vegas, nos Estados Unidos, com convidados até entre funcionários da Justiça local, que vira e mexe, por sinal, são agraciados com títulos na Câmara dos Vereadores. Furlan quer ser governador de São Paulo. Sonho legítimo, diga-se, mas que ele quer tornar realidade ao dar dimensão nacional a Barueri, basicamente por meio do time de futebol e pela arena que constrói para 44 mil pessoas.
O prefeito imagina, por exemplo, que Corinthians e Palmeiras possam mandar jogos em seu estádio. Sem ter de pagar nada. Ou que o estádio possa sediar jogos da Copa do Mundo de 2014... O município é rico, graças aos impostos pagos pela Petrobras, centro de distribuição que é do oleoduto que vem de Cubatão. O que lhe permite uma política tributária generosa com quem vive lá.
Barueri é a sétima cidade em arrecadação do Estado de São Paulo e tem apenas 225 mil habitantes. O presidente do Grêmio Barueri, Walter Jorqueira Sanches, é também o secretário de Esporte da cidade. E dono de uma factoring.
Furlan sempre foi protegido do deputado e ex-ministro de FHC Luís Carlos Santos.
E é muito bom de voto.
É o chamado político tradicional. Já passou por quase todos os partidos, do PPB de Paulo Maluf ao PPS, o ex-PCB, de Roberto Freire, onde foi advertido por integrar a "bancada da bola" por ocasião da CPI da CBF/Nike.
Hoje está no PMDB de Orestes Quércia, depois de ter passado também pelo PFL. O Grêmio Barueri mandou 16 jogos na Série C deste ano e teve um público total de 11.287 torcedores, média de 705 por partida. 705!
A exemplo do São Caetano, como se vê, não comove ninguém na cidade, microrregião de Osasco. Diferentemente do Azulão, no entanto, o time de futebol é inteiramente subsidiado pela Prefeitura de Barueri. 100%.
O São Caetano, ao menos, embora tenha se erguido graças ao prefeito Luiz Tortorello, sempre teve apoio da família que é proprietária das Casas Bahia -desses segredos de Polichinelo de nosso futebol, mantidos pelos que bajulam, na mídia, o maior anunciante do país.
Verdade que mais que a morte do zagueiro Serginho, fato ao qual se atribui o começo da decadência do Azulão, foi a morte de Tortorello que significou a descida da ladeira.
Barueri faz estádio, tem belo ginásio poliesportivo, sede do último Mundial de basquete feminino, mas tem, também, 1.400 barracos de madeira e estima-se que 25% de sua área não tenha saneamento básico. E não consegue terminar um hospital que se anuncia como modelar de tão moderno.
Mas forneceu condução grátis aos munícipes que foram ao Palestra Itália para ver o jogo contra o Ferroviário, do Ceará, o que levou o time à Série B do Campeonato Brasileiro no ano que vem.
Furlan, santista fanático, orgulha-se de ser amigo de Vanderlei Luxemburgo. E dificultou ao máximo conceder a licença para o funcionamento do bingo Circus na cidade, que acabou por liberar, para a alegria de Adilson Monteiro Alves, seu proprietário e ex-vice-presidente do Corinthians, nos tempos da Democracia Corintiana.
Em bom português, estamos diante de mais um time artificial de futebol, travestido, imagine, de organização não-governamental. Sim, o Grêmio Barueri é uma ONG. E, minha avó, bicicleta.

blogdojuca@uol.com.br


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