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FUTEBOL
Uma noite de Maradona
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Calma, pessoal. Também
fiquei frustrado com o empate do Brasil com o Uruguai, mas
não cabe uma cobrança muito
grande. Os uruguaios se fecharam
bem e o time brasileiro estava visivelmente cansado. Mesmo para
garotos de 20 anos, jogar quarta,
sexta e domingo não é moleza.
Mais preocupantes que a falta
de objetividade ofensiva foram os
erros de colocação da defesa, que
ocasionaram o gol uruguaio e
obrigaram Gomes a salvar a pátria duas vezes.
A hora da verdade para essa seleção vai ser o confronto de quinta-feira contra o Chile. Estou confiante, mas convém tomar muito
cuidado.
O fantástico gol de Maicon contra o Paraguai suscitou uma comparação interessante com o célebre golaço de Maradona contra a
Inglaterra na Copa de 86 (não o
da "mano de Dios", mas o outro).
O assunto pode parecer fútil,
mas a meu ver ele tem aspectos
instrutivos sobre a natureza do
futebol. Senão, vejamos.
Destacou-se, logo de cara, o que
os dois gols tiveram de semelhante: em cada um deles, o autor pegou a bola em seu próprio campo
e superou vários adversários, inclusive o goleiro, antes de tocar
para a rede. Ambos os jogadores
percorreram mais ou menos a
mesma faixa do campo.
Casagrande, na TV Globo, destacou com propriedade as diferenças mais marcantes: 1) Maradona conduziu a bola mais "colada" ao pé, enquanto Maicon deu
passadas mais longas; 2) por ser
canhoto e estar no flanco direito
do campo, Maradona driblava
sempre em direção ao "pé ruim",
tendo em seguida que corrigir o
movimento e a posição do corpo.
No dia seguinte, ao cotejar os
dois gols, o próprio Maicon, mesmo reconhecendo que ainda está
muito longe da categoria de Maradona, decretou: "O meu foi
mais bonito".
Seu argumento era essencialmente quantitativo, por assim dizer: "Eu saí mais de trás e driblei
um adversário a mais". É verdade. Mas será que tudo pode ser
medido e avaliado em números?
Algumas coisas sim. Exemplos:
o chute de Roberto Carlos atinge
mais de 100 km/h, Gérson dava
lançamentos de 40 m, Maicon
driblou cinco adversários.
Mas no futebol, como em muitas outras coisas, não é só o quanto que interessa, mas também o
como. Não há como mensurar a
beleza de um drible de corpo, a
classe de uma "matada" no peito,
o veneno de uma bola de trivela.
Se tudo fosse quantificável, bastaria o Datafolha para dar conta
de uma partida ou de um torneio
-e nós, colunistas, perderíamos
o emprego.
Não estou fugindo de opinar sobre os dois gols em pauta. Para
mim, ambos foram igualmente
impressionantes, mas o de Maradona foi mais bonito, pois foi fruto unicamente da arte de um
"gordito" entre grandalhões, enquanto o de Maicon deveu-se em
grande parte ao invejável vigor
do atleta cruzeirense.
Pelo menos no quesito saúde
Cafu já tem um sucessor.
Dupla do barulho
Leio no Pelé.net que Edmundo
está prestes a acertar com o Fluminense. Se isso se confirmar,
será refeita mais uma vez a dupla Edmundo-Romário, que
soltou faíscas no Flamengo e no
Vasco. Acho que Romário preferiria ter a seu lado um companheiro mais carregador de piano e menos estrela. Não foi à
toa que tentou levar Euller às
Laranjeiras.
Reis da Itália
Kaká, no Milan, e Mancini, no
Roma, fizeram gols decisivos
na rodada do fim de semana e
continuam sendo os brasileiros
em melhor fase no Campeonato Italiano. Se continuarem
atuando assim, aumentam as
chances dos dois na seleção
brasileira: do primeiro, de se
tornar titular, e do outro, de ser
convocado.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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