São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Uma noite de Maradona

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Calma, pessoal. Também fiquei frustrado com o empate do Brasil com o Uruguai, mas não cabe uma cobrança muito grande. Os uruguaios se fecharam bem e o time brasileiro estava visivelmente cansado. Mesmo para garotos de 20 anos, jogar quarta, sexta e domingo não é moleza.
Mais preocupantes que a falta de objetividade ofensiva foram os erros de colocação da defesa, que ocasionaram o gol uruguaio e obrigaram Gomes a salvar a pátria duas vezes.
A hora da verdade para essa seleção vai ser o confronto de quinta-feira contra o Chile. Estou confiante, mas convém tomar muito cuidado.

O fantástico gol de Maicon contra o Paraguai suscitou uma comparação interessante com o célebre golaço de Maradona contra a Inglaterra na Copa de 86 (não o da "mano de Dios", mas o outro).
O assunto pode parecer fútil, mas a meu ver ele tem aspectos instrutivos sobre a natureza do futebol. Senão, vejamos.
Destacou-se, logo de cara, o que os dois gols tiveram de semelhante: em cada um deles, o autor pegou a bola em seu próprio campo e superou vários adversários, inclusive o goleiro, antes de tocar para a rede. Ambos os jogadores percorreram mais ou menos a mesma faixa do campo.
Casagrande, na TV Globo, destacou com propriedade as diferenças mais marcantes: 1) Maradona conduziu a bola mais "colada" ao pé, enquanto Maicon deu passadas mais longas; 2) por ser canhoto e estar no flanco direito do campo, Maradona driblava sempre em direção ao "pé ruim", tendo em seguida que corrigir o movimento e a posição do corpo.
No dia seguinte, ao cotejar os dois gols, o próprio Maicon, mesmo reconhecendo que ainda está muito longe da categoria de Maradona, decretou: "O meu foi mais bonito".
Seu argumento era essencialmente quantitativo, por assim dizer: "Eu saí mais de trás e driblei um adversário a mais". É verdade. Mas será que tudo pode ser medido e avaliado em números?
Algumas coisas sim. Exemplos: o chute de Roberto Carlos atinge mais de 100 km/h, Gérson dava lançamentos de 40 m, Maicon driblou cinco adversários.
Mas no futebol, como em muitas outras coisas, não é só o quanto que interessa, mas também o como. Não há como mensurar a beleza de um drible de corpo, a classe de uma "matada" no peito, o veneno de uma bola de trivela.
Se tudo fosse quantificável, bastaria o Datafolha para dar conta de uma partida ou de um torneio -e nós, colunistas, perderíamos o emprego.
Não estou fugindo de opinar sobre os dois gols em pauta. Para mim, ambos foram igualmente impressionantes, mas o de Maradona foi mais bonito, pois foi fruto unicamente da arte de um "gordito" entre grandalhões, enquanto o de Maicon deveu-se em grande parte ao invejável vigor do atleta cruzeirense.
Pelo menos no quesito saúde Cafu já tem um sucessor.

Dupla do barulho
Leio no Pelé.net que Edmundo está prestes a acertar com o Fluminense. Se isso se confirmar, será refeita mais uma vez a dupla Edmundo-Romário, que soltou faíscas no Flamengo e no Vasco. Acho que Romário preferiria ter a seu lado um companheiro mais carregador de piano e menos estrela. Não foi à toa que tentou levar Euller às Laranjeiras.

Reis da Itália
Kaká, no Milan, e Mancini, no Roma, fizeram gols decisivos na rodada do fim de semana e continuam sendo os brasileiros em melhor fase no Campeonato Italiano. Se continuarem atuando assim, aumentam as chances dos dois na seleção brasileira: do primeiro, de se tornar titular, e do outro, de ser convocado.

E-mail: jgcouto@uol.com.br



Texto Anterior: Basquete: Mogi vence e decide Paulista com Ribeirão
Próximo Texto: Vôlei - Cida Santos: As surpresas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.