São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

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FUTEBOL

Desesperar jamais

JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA

Por causa do artigo que escrevi no dia 29 recebi manifestações das mais interessantes. Sem dúvida, foi a coluna de Tostão (publicada no dia 26) que provocou reações e avais.
Há leitores que estão enojados com o futebol fora de campo. E com os poderes. Alguns, como Carlos Eduardo Afonso Rodrigues, Geraldo Antônio Galazzi e José Carlos Guedes recorrem a Rui Barbosa: "Em pouco tempo teremos vergonha em nos sentir honestos, tamanhas as ilicitudes que ocorrem neste país".
Outros entendem que somos desde cedo doutrinados a assumir postura passiva diante de atos imorais. Nesta direção merece ficar público o que escreveu Addy Félix de Carvalho, outro sem-paciência. Buscou em Martin Luther King a definição que reflete aos dias de hoje: "O que me preocupa não é o grito dos violentos, mas o silêncio dos bons". A principal pergunta é até quando vamos conviver com essa escumalha?
Respondo que precisamos ver o quanto evoluímos. Quantas não são as vitórias fora dos gramados. Se gente como Eurico Miranda ainda vence no Vasco, em compensação veio das urnas sua maior derrota quando perdeu a reeleição como deputado. Exemplos do Ministério Público com a federação mineira e do obrigatório sumiço de Eduardo José Farah da entidade paulista são animadores. Torcedor ou jornalista, antes de tudo um cidadão, não pode perder o direito de se indignar. Enquanto existir Michael Moore (autor e cineasta dos EUA, crítico da era Bush) com impaciência e coragem para gritar, haverá esperança. Aqui no Brasil tem mais de uma dezena de "Moores" (Tostão, Datena, Juca Kfouri, Mário Magalhães, José Trajano, Fernando Calazans, Neto, Armando Nogueira, Marcos Augusto Gonçalves, Rui Carlos Osterman, Soninha, José Geraldo Couto, Sócrates...) para não capitular. Jamais.
Ainda bem que temos veículos com espaços (esta Folha, "O Globo", CBN, "Lance!", SBT, "Carta Capital", "Estadão") para que a banda podre não se sinta intocável. E aproveito para não ser injusto com aqueles da imprensa, que se pudessem... Imaginem um Casagrande podendo falar tudo?
Aos que duvidam dessa realidade, devo relembrar o que revelei, ao vivo, na Band e em entrevistas: em fevereiro de 2003 falei pessoalmente com dois dos homens fortes da Globo. Queriam me contratar por experiência de seis meses. Minha vontade acabou no terceiro encontro quando um diretor me alertou: "Na Globo, você não vai poder criticar horário de jogo porque é assunto comercial. Nem vai bater em dirigentes quando a emissora estiver negociando direitos com os mesmos". Basta?
No meu entender, em que pesem a dureza dos fatos e o ceticismo como trato das coisas do futebol, entre o positivo e o negativo devo ratificar que continuo tendo, em campo, sentimentos de amor e paixão. Vinícius de Moraes tem razão: Todo grande amor só é bem grande se for triste.


Jorge Kajuru, 43, é jornalista

O colunista Tostão está em férias


Conselho e dilema
Desde as 20h29min de 2 de junho de 2004, quando fui demitido no ar, ao vivo, até hoje não consegui saber ou descobrir os motivos. Propostas para voltar e fazer outro modelo de programa tive e tenho. Mas, para um esportivo e daquele modo, nenhuma emissora me convidou em sete meses. Em Ribeirão Preto, por canal fechado, faço um "talk show". Quase não falo de futebol. Prazeroso tem sido ouvir nas ruas o alegre pedido para seguir assim... não mudar nada. De repente veio de Felipão o conselho amigo, que em caso de volta, devo esquecer esse bando todo. Porque eles vão continuar existindo e roubando. Entre todos que leram e comentaram, só dois discordaram do técnico. Rebelde, com causa. Só falta mais paciência.

E-mail: jorgekajuru@terra.com.br

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