São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006

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COPA 2006

Competição e pelo menos 20 das 32 seleções que vão a campo na Alemanha, em Junho, são patrocinadas por cervejarias, mas bebedeira nos estádios pode estimular atos de violência

Cerveja banca e assusta mundial

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

A Copa do Mundo na terra da cerveja terá ares de uma Oktoberfest fora de época. Ao menos 20 das 32 seleções são patrocinadas por uma cervejaria. Uma das marcas, a americana Budweiser, é ainda parceira oficial do evento.
Só que a apoteose da bebida na Alemanha vai na contramão do discurso de alguns órgãos governamentais de diferentes países, que coíbem o consumo de álcool nos estádios como forma de reduzir os atos de violência.
Não faltará estímulo para o torcedor beber. Serão placas de publicidade, propaganda em camisas de treino, pois a Fifa proíbe anúncio no uniforme de jogo na Copa, e promoções de fabricantes de diversos países.
Para completar a festa da cerveja, a venda da bebida será liberada nos estádios. Assim, a marca que patrocina o Mundial poderá faturar durante as partidas.
Dessa forma, alguns torcedores, como os franceses, poderão fazer o que são proibidos em seus países: tomar cerveja enquanto acompanham os jogos.
O Comitê Organizador do Mundial traçou uma estratégia de segurança que visa proteger os fãs com o menor número de restrições possível, outro motivo para a liberação do hábito de tomar umas e outras nos estádios.
Se o consumo de cerveja ajudar a deixar os torcedores mais descontraídos, melhor ainda para os objetivos dos organizadores.
"Nosso lema é "tempo de fazer amigos", e os rostos sorridentes dos fãs são parte do torneio. Diminuiríamos o entusiasmo aplicando regras de segurança exageradas", informou à Folha, por e-mail, David Noemi, do Comitê Organizador da Copa do Mundo.
Só que o próprio Noemi revela uma certa apreensão com o esquema legalizador. Segundo ele, "não é possível garantir 100% de segurança a quem for à Copa".
"Tomaremos as medidas necessárias para proteger os torcedores e, ao mesmo tempo, preservar a atmosfera", completou.
As companhias de cerveja justificam o investimento na competição afirmando que os apaixonados por futebol têm o estilo de vida de seus consumidores.
"A Copa do Mundo será o mais impactante evento esportivo do ano, então é uma grande oportunidade para a empresa alcançar milhões de adultos bebedores de cerveja na Alemanha e pelo mundo", afirmou, por e-mail, Tony Ponturo, vice-presidente global de mídia e marketing esportivo da Anheuser-Busch, que produz a Budweiser. A marca também patrocina a seleção norte-americana, que estará no torneio.
Em meio às seleções que são movidas, entre outras receitas, pelo dinheiro das cervejarias, está a brasileira, apoiada pela AmBev. A camisa de treino do time nacional exibe o Guaraná Antarctica, um dos produtos da empresa, mas a Brahma, cerveja do grupo, está entre os patrocinadores.
A Costa Rica também leva em sua camisa uma marca não-alcoólica de uma companhia que fabrica cerveja. Estampa o logo da água mineral Cristal.
Além de incentivar o consumo de cerveja, os parceiros das seleções também convidam os torcedores a uma alimentação pouco saudável, segundo recomendações de médicos e nutricionistas.
Quem ceder às tentações dos patrocinadores dos competidores do Mundial vai se empanturrar de salgadinhos, hambúrgueres e um vasto cardápio de fast food.
"Pior não serão as pessoas no estádio comendo, e sim milhões pelo mundo vendo essas coisas na TV e associando o consumo delas a ser hexa. E também o estímulo que isso vai dar para as crianças", diz José Augusto Taddei, professor de nutrologia da Unifesp.


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