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COPA 2006
Competição e pelo menos 20 das 32 seleções que vão a campo na Alemanha, em Junho, são patrocinadas por cervejarias, mas bebedeira nos estádios pode estimular atos de violência
Cerveja banca e assusta mundial
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
A Copa do Mundo na terra da
cerveja terá ares de uma Oktoberfest fora de época. Ao menos 20
das 32 seleções são patrocinadas
por uma cervejaria. Uma das
marcas, a americana Budweiser, é
ainda parceira oficial do evento.
Só que a apoteose da bebida na
Alemanha vai na contramão do
discurso de alguns órgãos governamentais de diferentes países,
que coíbem o consumo de álcool
nos estádios como forma de reduzir os atos de violência.
Não faltará estímulo para o torcedor beber. Serão placas de publicidade, propaganda em camisas de treino, pois a Fifa proíbe
anúncio no uniforme de jogo na
Copa, e promoções de fabricantes
de diversos países.
Para completar a festa da cerveja, a venda da bebida será liberada
nos estádios. Assim, a marca que
patrocina o Mundial poderá faturar durante as partidas.
Dessa forma, alguns torcedores,
como os franceses, poderão fazer
o que são proibidos em seus países: tomar cerveja enquanto
acompanham os jogos.
O Comitê Organizador do
Mundial traçou uma estratégia de
segurança que visa proteger os fãs
com o menor número de restrições possível, outro motivo para a
liberação do hábito de tomar
umas e outras nos estádios.
Se o consumo de cerveja ajudar
a deixar os torcedores mais descontraídos, melhor ainda para os
objetivos dos organizadores.
"Nosso lema é "tempo de fazer
amigos", e os rostos sorridentes
dos fãs são parte do torneio. Diminuiríamos o entusiasmo aplicando regras de segurança exageradas", informou à Folha, por e-mail, David Noemi, do Comitê
Organizador da Copa do Mundo.
Só que o próprio Noemi revela
uma certa apreensão com o esquema legalizador. Segundo ele,
"não é possível garantir 100% de
segurança a quem for à Copa".
"Tomaremos as medidas necessárias para proteger os torcedores
e, ao mesmo tempo, preservar a
atmosfera", completou.
As companhias de cerveja justificam o investimento na competição afirmando que os apaixonados por futebol têm o estilo de vida de seus consumidores.
"A Copa do Mundo será o mais
impactante evento esportivo do
ano, então é uma grande oportunidade para a empresa alcançar
milhões de adultos bebedores de
cerveja na Alemanha e pelo mundo", afirmou, por e-mail, Tony
Ponturo, vice-presidente global
de mídia e marketing esportivo da
Anheuser-Busch, que produz a
Budweiser. A marca também patrocina a seleção norte-americana, que estará no torneio.
Em meio às seleções que são
movidas, entre outras receitas,
pelo dinheiro das cervejarias, está
a brasileira, apoiada pela AmBev.
A camisa de treino do time nacional exibe o Guaraná Antarctica,
um dos produtos da empresa,
mas a Brahma, cerveja do grupo,
está entre os patrocinadores.
A Costa Rica também leva em
sua camisa uma marca não-alcoólica de uma companhia que
fabrica cerveja. Estampa o logo da
água mineral Cristal.
Além de incentivar o consumo
de cerveja, os parceiros das seleções também convidam os torcedores a uma alimentação pouco
saudável, segundo recomendações de médicos e nutricionistas.
Quem ceder às tentações dos
patrocinadores dos competidores
do Mundial vai se empanturrar de
salgadinhos, hambúrgueres e um
vasto cardápio de fast food.
"Pior não serão as pessoas no
estádio comendo, e sim milhões
pelo mundo vendo essas coisas na
TV e associando o consumo delas
a ser hexa. E também o estímulo
que isso vai dar para as crianças",
diz José Augusto Taddei, professor de nutrologia da Unifesp.
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