Cidade começa campanha que prevê multa para quem escarrar no chão

Chineses também são orientados por voluntários a respeitar ordem de chegada para atendimentos e a não despejar lixo nas ruas

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Preocupado com a imagem que o mundo terá dos chineses na Olimpíada de 2008, o governo de Pequim iniciou uma campanha "civilizatória" da população, que inclui a exigência de respeito às filas e multas para os que escarrarem na rua, um hábito tão comum quanto andar de bicicleta.
O movimento implicará uma revolução cultural na capital chinesa, onde filas são furadas sem nenhum constrangimento e uma questão sobre como escarrar faz parte do teste de habilitação de motoristas.
As opções colocadas são: abrir a porta do carro e escarrar na rua, escarrar no chão do carro ou escarrar em um lenço de papel e jogá-lo no lixo mais tarde -a última é a correta.
No melhor estilo das grandes campanhas comunistas, o governo criou o "dia da fila", que cairá no 11º dia dos 18 meses que faltam para a Olimpíada.
O primeiro foi realizado ontem, quando milhares de voluntários se espalharam pelas ruas de Pequim para convencer os moradores da cidade a respeitarem a ordem de chegada para qualquer atendimento.
Como todas as grandes campanhas chinesas, esta também tem um slogan: "É civilizado fazer fila, é glorioso ser educado".

Multa
O hábito de escarrar será coibido com a aplicação de multas de 50 yuans, o equivalente a US$ 6,50, quantia não desprezível em um país que tem renda per capita anual de US$ 2.000.
As autoridades de Pequim querem ainda coibir a prática de jogar lixo e papéis na rua.
Reclusa tanto no passado imperial quanto no comunista, a China terá um grau de exposição inédito durante a Olimpíada. O governo acredita que 30 mil jornalistas estrangeiros participarão da cobertura do evento, para o qual são esperados entre 800 mil e 1 milhão de visitantes de outros países.
Os apelos para que a população mude seus hábitos está nas primeiras páginas dos jornais oficiais e nas declarações dos responsáveis pela organização do evento, considerado pelas autoridades chinesas como a coroação do processo de reformas e integração da China ao mundo, iniciado em 1978.
"Sediar a Olimpíada é uma oportunidade para a cidade elevar seu comportamento civilizado", declarou à agência de notícias Bloomberg Zhang Huiguang, diretor do departamento cultural e ideológico de Pequim. "Cuspir e jogar lixo na rua também ameaçam a saúde", ressaltou Zhang.
Para estimular a mudança de hábitos, o poder público distribuirá na cidade cestos cobertos, que os moradores poderão usar para depositar lixo e lenços de papel nos quais tenham escarrado.

Cócoras
Desde 2005, os banheiros públicos da cidade são reformados para adaptá-los aos costumes ocidentais, o que inclui a instalação de vasos sanitários.
A maioria dos banheiros públicos chineses tinha buracos com louças sanitárias e apoio para os pés, modelo que exige habilidade dos usuários na posição de cócoras, pouco comum entre os ocidentais.
Até o fim de 2006, 5.580 banheiros públicos da cidade haviam sido reformados. Na semana passada, o governo local anunciou que vai modernizar outros mil, localizados na periferia de Pequim.


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