São Paulo, terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O rei dos bandoleiros


Eles podem ser encontrados por todo o país, mas gostam do Nordeste, onde há sol, bom para juntas enferrujadas


ELES ESTÃO espalhados pelo Brasil. São como velhos pistoleiros, velhos matadores que, em vez de empunharem seus revólveres cheios de marcas no cabo, carregam chuteiras sujas de terra. Seus nomes são repetidos com devoção, esperança e medo.
Muitas lendas são contadas sobre eles. Diz-se que sozinhos venceram exércitos inimigos, que derrubaram muralhas inexpugnáveis e que dormiram com dezenas de mulheres em uma só noite.
Os bandoleiros podem ser encontrados em vários lugares. Gostam muito do Nordeste, onde há praia e sol, o que é ótimo para suas juntas já um tanto enferrujadas. Não desprezam o interior de São Paulo, Paraná e Minas, onde há dinheiro e canto de pássaros. E gostam do Rio, onde há bons saloons e belas mulheres.
Eles podem ter vários nomes. Geralmente são apelidos divertidos, mas podem bancar os sérios, usando nome e sobrenome. É o caso de Marcelo Ramos, atual artilheiro do Paranaense e que neste fim de semana fez um gol aos 47min do segundo tempo, dando a décima vitória seguida ao Atlético. O baiano, que já esteve em vários times brasileiros e já passou por Holanda, Japão e Colômbia, gosta de fazer gol nos minutos finais. E cultiva o gosto sádico de marcar contra o Palmeiras. Os bandoleiros têm seus caprichos. Muitos hão de lembrar de Didi.
Não, não o gênio esguio da Copa de 58. O Didi que foi artilheiro no fim da década de 90 pelo Sport e campeão pelo Corinthians em 98. Hoje está sob o sol da e do Bahia. E no domingo marcou um dos gols na vitória sobre o Vitória. Didi rodou o mundo. Comeu salsichas na Alemanha, cachorro na Coréia, tacos no México e fondue na Suíça. Os bandoleiros têm estômagos fortes. Há, por exemplo, Paulo Sérgio Rosa, que atende pelo nome de Viola.
Foi amado por corintianos, santistas e palmeirenses, e estava na seleção tetracampeã. Atualmente joga no Duque de Caxias. Viola leva tão a sério a vida de bandoleiro que anda armado. Mas anda disparando pouco contra os goleiros. Tem apenas um gol no campeonato. A miopia também chega para os bandoleiros.
Mas o rei de todos, aquele que já passou por Amazonas e Bolívia, Goiás e Suíça, Rio de Janeiro e São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, Arábia Saudita e Pernambuco, Bahia e Hungria, é Túlio Maravilha.
Entre os homens que ainda pisam nos gramados do país nos fins de semana, ninguém balançou as redes mais do que ele (considerando que Romário já parou, é claro). Sua chuteira possui mais de 700 marcas (ou mais de 800, se contarmos os gols juvenis). Túlio fez gols por mais de 20 clubes. Pela seleção brasileira e pelo Canedense.
Um bandoleiro de verdade não escolhe camisa. E nem tem preconceito: ele foi três vezes artilheiro da primeira divisão do Brasileiro, mas foi também da terceira. Assim como os velhos caubóis nos filmes de faroeste, Túlio voltou para sua terra de origem. Está no Vila Nova, seu time na infância. E continua fazendo gols. Há uma semana marcou quatro numa só partida. Um deles, de calcanhar. Continua magro e é o vice-artilheiro do campeonato. Mas tem que pintar os cabelos brancos. O tempo também passa para os bandoleiros.

torero@uol.com.br


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