São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

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XICO SÁ

Muito prazer, urubu Augusto


A secada do novo agourento deu certo, e só Grêmio e Bahia conseguiram evitar a partida de volta na Copa do Brasil


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, com vocês o urubu Augusto, o sublime, imponente e excelso protetor dos menos favorecidos no futebol brasileiro. Azarento especialista em Estaduais e Copa do Brasil, o novo e estimado bicho permite assim que o corvo Edgar devote-se, com exclusividade, à obsessão criada no país com a Libertadores.
O azarento veio do Engenho Pau d'Arco, Paraíba, onde habitava o mesmo tamarindo mal-assombrado da frente da casa do poeta Augusto dos Anjos, daí o seu batismo. No dia em que chegou, deu início aos trabalhos, com a modesta missão de impedir a vitória dos favoritos e, consequentemente, o segundo jogo do mais democrático torneio brasuca.
Flamengo do Piauí desde quando era branco -sim, urubu nasce branco-, Augusto fez bem a tarefa, segurando os verdes paulistas. Os rubro- negros da terra de Torquato Neto e Mário Faustino, para fazer um passeio nacional em volta dos nossos maiores poetas, deram-se por contentes. Foi bela a festa, pá, na Beth Cuscuz, um dos melhores cabarés frequentados por este cronista com um pé na família e outro no erro.
Urubuzar o Botafogo é sacanagem, querido Augusto, mas fazer o que, amigo alvinegro, se do outro lado estava um pequeno, porém emergente, time da selva, o São Raimundo, de Santarém, terra do Grão-Pará de tantas lendas. El Loco Abreu nem viu a pelota. "Um a zero para nosotros, meu amo", grasnou Augusto ao final da peleja.
Abusada, a nova criatura da fauna ludopédica ligou para o Celso Unzelte para fazer um dueto com o hino da zebra da noite, campeão brasileiro da Série D de 2009: "Neste canto vibrante de fé,/ Vamos todos com alma sincera/ Levantar nosso brado, de pé,/ Ao valente e altivo pantera".
O urubu Augusto pousou na sorte dos grandes na abertura da Copa do Brasil e mereceu da casa os melhores víveres e boas-vindas. Dos maiores, só Bahia e Grêmio evitaram o jogo da volta. Até o Vasco, que casa e batiza no verão carioca, venceu só por 2 a 1 o Souza, o clube do Vale dos Dinossauros, no sertão da Paraíba.
No quarto dos fundos, vemos Edgar, todo enciumado por causa do seu genérico brasileiro. Secava o São Paulo, óbvio, sua missão primeira, mas não com as ganas dos últimos tempos. Fazia apenas um leve agouro, descrente nos reservas do Monterrey. "Vai ser uns 7, 8 para o tricolor", crocitava, na sua enviesada maneira de agourar os superfavoritos.
Alguns são-paulinos ainda não entenderam a preferência em secar o time do Morumbi no torneio cucaracha. Ora, pelo tri, pela obsessão dos fãs, pelo caneco, por largar sempre como candidato ao título etc.
Mesmo lerdo, o agourento-mor dos umbrais dos estádios não deixou de conferir Vélez x Cruzeiro. Adora duelos de argentinos e brasileiros.
Assim que Gilberto, xodó de Dunga, foi expulso, ele deu a corvejada maldosa: "Opa, a noite não está das piores". No mesmo momento, caiu algo no chão da cozinha, e ele gritou: "Galo!". Aprendeu esse costume em Belo Horizonte. Por lá, toda vida que algo despenca ou faz barulho, tem sempre um atleticano de plantão para bradar o nome do alvinegro. A raposa, também favorita, levou 2 a 0.
O ciúme foi embora, e Edgar aliou-se a Augusto, em nome de Poe e dos Anjos, seus padrinhos malditos.

xico.folha@uol.com.br


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