São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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Câmbio faz CBF tomar goleada no seu balanço

Valorização da moeda nacional em relação ao dólar pode custar à entidade R$ 80 mi a menos neste ano

PAULO COBOS
RODRIGO MATTOS

DA REPORTAGEM LOCAL

A jogada de mestre virou um mico. Após indexar suas principais receitas ao dólar, a CBF sofre com a valorização do real perante a moeda americana.
Só em 2006, a queda na arrecadação pode superar os R$ 80 milhões, ou quase 80% do faturamento da entidade em 2004 (o balanço de 2005 ainda não saiu).
Isso comparando a cotação do dólar atual, R$ 2,15, e a do início do governo Lula, em janeiro de 2003, que era de cerca de R$ 3,50. Em 2002, a moeda americana ultrapassou a barreira dos R$ 4.
Em seus contratos publicitários, a CBF fez questão de indexar o valor da verba ao dólar. Foi essa uma das justificativas para trocar a Coca-Cola pela AmBev em 2001.
Só com seus dois principais patrocínios (Nike e AmBev), a perda de receita, considerando a cotação de três anos atrás, supera os R$ 40 milhões. Isso ainda sem contar a inflação do período.
E não é só a verba de patrocínio que ficou mais magra. Em fevereiro de 2003, a seleção jogou na China por uma cota de US$ 1,25 milhão. No Brasil, a CBF recebeu R$ 4,3 milhões. No início deste mês, o time atuou em Moscou por cerca de U$ 1,5 milhão, em partida da AmBev. Pelo câmbio atual, isso representa R$ 3,2 milhões.
Caso fature o título da Copa-2006, a CBF vai receber da Fifa cerca de R$ 45 milhões. Se o câmbio estivesse como na época do Mundial de 2002, esse valor saltaria para quase R$ 60 milhões.
Naquele ano, a confederação atingiu sua receita recorde: R$ 125 milhões. O dólar ultrapassara R$ 4 por causa da tensão eleitoral.
Procurada pela Folha para comentar a situação, a CBF, por meio de sua assessoria, limitou-se a dizer que todos os seus contratos são registrados em cartórios e que as entradas de dinheiro do exterior passam pelo Banco Central.
Os balanços da entidade provam a queda nas receitas vindas dos contratos de publicidade.
Em 2003, a CBF recebeu R$ 80 milhões de seus parceiros. Um ano depois, com o dólar já em queda, esse valor caiu para R$ 63 milhões, engordados por um adiantamento de R$ 11 milhões da Nike. Depois, o cenário foi amenizado com o contrato com a Vivo.
O dólar baixo e o real forte não atormentam só a CBF. Setores exportadores da economia brasileira padecem do mesmo problema. Entre os mercados emergentes, o Brasil é um dos recordistas na valorização da sua moeda.
Tanto que outras federações de futebol não têm a mesma preocupação. O peso argentino, por exemplo, caiu ante o dólar. E o cenário deve mudar pouco.
Segundo Alessandra Ribeiro, especialista em câmbio da Consultoria Tendências, a expectativa é a de que o dólar chegue ao final do ano em R$ 2,20. Deve haver um aumento para 2007 porque o número de importações está subindo, e o de exportações, caindo.
"Se há perdas de receitas com a exportação, a empresa pode compensar com aplicação em juros do governo. Além disso, pode voltar sua produção para o mercado interno", explicou ela.
O problema é que a CBF tem lucro pequeno, em torno de 3%, por causa das altas despesas. Com isso, a entidade tem "pouco" dinheiro disponível para aplicar, menos de R$ 2 milhões em 2004.
Não há amistosos ou premiações de altos valores no Brasil, como no exterior. Só a renegociação dos contratos melhoraria a situação, mas é difícil as empresas aceitarem condições desfavoráveis.
A dolarização das contas da CBF se justificaria pelas suas dívidas nessa moeda, com os empréstimos ao Delta Bank. Em 2000, o item do balanço "Débitos Diversos", que incluía as operações, era de R$ 28 milhões.
O valor caiu para R$ 1,3 milhão em 2002 -a maior parte foi paga naquele ano, de alta do dólar.
Com um presidente que trabalhava no mercado financeiro -Ricardo Teixeira aplicava em Bolsa de Valores pelo menos até 2000-, a CBF parece não ter a mesma sorte no campo financeiro que tem nos gramados.


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