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Bora Milutinovic, técnico que está sem seleção pela 1ª vez em 20 anos, fala que destino pode levá-lo à Alemanha
"Cigano" ainda crê que vai obter seu hexa
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A palavra correta é frustração,
mas Velibor Milutinovic diz que
ainda é cedo para utilizá-la como
resumo de seus sentimentos.
Acredita que, nos 88 dias que
restam para o pontapé inaugural
da Copa, alguém pode fazer um
convite, uma convocação, para
que seu recorde seja perpetuado.
Bora, como o treinador sérvio
de 62 anos é conhecido, sabe que
o tempo é seu inimigo. Mesmo assim, não arreda pé da missão.
"Depois de tanto tempo trabalhando em Mundiais, claro que
vai ser estranho, chato mesmo, ficar fora. Mas nada está definido.
Creio no destino. Vou deixá-lo
mais uma vez decidir o que será
do meu futuro", afirma.
Sua busca não ocorre por acaso.
Pela primeira vez em 20 anos, Bora não tem um escrete para comandar. Nas últimas cinco Copas, berrou instruções no gramado para cinco seleções diferentes,
na mais longeva trajetória de um
técnico na competição.
"Nunca fiz planos, nunca fiquei
pensando no que faria da vida.
Não planejei ir a tantas Copas, conhecer tantos países. Ou seja, não
há motivos para ficar frustrado
antes da hora", explica.
Essa crença de que acontecimentos fortuitos podem alterar
um cenário adverso e carimbar
seu passaporte para o torneio pode até dominar seu discurso, mas
não tem tanta influência nas atitudes que toma no dia-a-dia.
Em vez de ficar esparramado no
sofá de sua casa no México, de onde falou à Folha, por telefone, Bora não pára de viajar. Desde que
abandonou seu último time -o
All Saad, do Qatar, no ano passado-, freqüentou eventos badalados, como o sorteio das chaves do
Mundial, em dezembro último, e
a Copa da África, no mês seguinte.
"Gosto de estar no meio do futebol, de rever os amigos, de conversar. É bom ficar por perto e
mostrar que ainda estou disposto,
pronto para o que aparecer. Um
homem de 62 anos como eu não
pode sumir. Se desapareço, pensarão que morri", brinca.
Não é qualquer emprego que o
sérvio está propenso a aceitar. Ele
diz estar sempre aberto para propostas de seleções. O entusiasmo,
porém, desaparece quando o foco
é desviado para clubes.
"A dinâmica de equipes nacionais é diferente e cativante. Você
vira a esperança de toda uma nação. É uma missão dura, mais satisfatória. Eu adoro", conta.
Essa paixão talvez explique o fôlego para peregrinar pelo mundo.
Bora ensinou futebol em todos os
continentes. Aprendeu cinco línguas, viveu em lindas mansões e
em alojamentos imundos. Em
Mundiais, dirigiu México, Costa
Rica, EUA, Nigéria e China. Nunca passou das quartas-de-final.
"É difícil analisar toda essa trajetória de bate-pronto. Em algumas seleções, brilhei. Em outras,
nem tanto. Mas fiz o que tinha
que fazer. Rodei o mundo, conheço cada lugar que muita gente
nem imagina existir. Aliás, acho
que só não fui para a Floresta
Amazônica. Pode ser um bom
destino para as próximas férias.
Vou ver se minha mulher aceita."
É a deixa para começar a falar de
Brasil. Admirador de Carlos Alberto Parreira, que chega ao quarto Mundial como treinador, o sérvio diz não entender o comportamento dos torcedores às vésperas
do campeonato na Alemanha.
"Só vocês, brasileiros, ficam se
martirizando antes da Copa porque são os francos favoritos. Favoritismo não é problema, nunca
foi. Quem tem que se preocupar
pelo fato de o Brasil reunir o melhor time do mundo são as outras
seleções. Vocês só tem motivos
para comemorar." O discurso
deixa transparecer uma veneração pela seleção canarinho, que fica ainda mais evidente quando ele
relembra um dos jogos que mais
marcaram sua carreira.
Em 1994, no comando dos EUA,
anfitriões daquela Copa, Bora
cruzou com o time brasileiro na
primeira fase de mata-matas. Disputada, a partida acabou decidida
com um gol de Bebeto. "Mas o resultado final pouco importa. Jogamos de igual para igual com o
Brasil em um Mundial de futebol.
É uma grande honra."
Se ninguém o supera em experiência, se tem boas relações com
a comissão técnica brasileira e se é
fã da seleção verde-amarela, por
que não dar um conselho para
que Parreira consiga encontrar a
rota rumo ao hexacampeonato?
"Seria uma ousadia muito grande. Acredite, ele não precisa de
nada que venha de mim. E eu nem
sei direito o que tenho para ensinar. Sou apenas um velho apaixonado por futebol em busca de
uma seleção para trabalhar."
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