São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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Pan bancará as passagens de cartolas

Pago com dinheiro público, o número de bilhetes aéreos inchou 22%, sendo que cerca de mil deles são para dirigentes

Viagens de participantes do evento no Rio vão custar R$ 22,2 milhões aos cofres do governo federal por conta de acordo feito na candidatura


RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Comitê Organizador do Pan do Rio (Co-Rio) inflou o número de passagens que pagará no evento e bancará a viagem de cerca de mil cartolas para o Brasil. Tudo será custeado com dinheiro do governo federal, que vai liberar R$ 22,2 milhões para transporte aéreo.
Nos eventos esportivos internacionais, como Olimpíada e Copa do Mundo, é incomum o organizador pagar pelas passagens de atletas, árbitros e dirigentes dos países participantes.
Tanto que o Brasil foi responsável pelas despesas aéreas de suas delegações nos últimos Jogos e no Pan. Essas viagens também foram bancadas por dinheiro público, por meio da Lei Piva ou por investimento do Ministério do Esporte.
Só que, ao se candidatar a ser sede do Pan em 2002, o Co-Rio se comprometeu a custear o transporte de atletas e oficiais. Os governos municipal, estadual e federal deram aval.
Na ocasião, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, ofereceu "o pagamento integral das passagens aéreas para 7.500 pessoas, entre atletas e oficiais". Era sua arma na briga contra San Antonio (EUA), também postulante ao evento.
Mas, agora, a estimativa do Co-Rio já totaliza 9.176 pessoas com viagens pagas. Ou seja, é um aumento de 22,3%. É mais um item dos gastos do Pan-07 que cresce desde a candidatura -o custo total do evento já foi multiplicado por seis.
Para o pagamento dessas passagens, foram firmados dois convênios entre o Co-Rio e o governo federal, no mês de janeiro. Já foram liberadas verbas em cima desses números estimados do Co-Rio.
Em um dos convênios, já foram liberados R$ 8,8 milhões para pagar as viagens de 2.626 cartolas e árbitros. São diversas as entidades esportivas cujos dirigentes foram beneficiados com as passagens.
Entre elas, estão o Comitê Olímpico Internacional, a Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa), federações internacionais, confederações brasileiras e comitês olímpicos nacionais.
No total, são 1.096 pessoas, entre cartolas e funcionários técnicos. O restante (1.530) é de profissionais de arbitragem, entre os quais também há dirigentes e delegados.
Essas passagens serão emitidas pela agência Tamoyo, que faz as viagens oficiais do COB. Foi escolhida em licitação entre 2004 e 2005, quando já atendia o Comitê. No processo, o Co-Rio e o COB inabilitaram a única concorrente por falta de um aval da Odepa.
Essa agência será remunerada por meio de comissões em cima das passagens deste convênio com o governo.
Em outro convênio, o governo federal vai dar um total de R$ 13,382 milhões para pagar as viagens de atletas e membros de comissões técnicas estrangeiras. Neste caso, serão 6.550 pessoas com viagens bancadas com recurso federal.
São 4.680 esportistas estrangeiros -os brasileiros estão fora deste contingente.
Não haverá licitação para a aplicação desses recursos. O Co-Rio dará todo o dinheiro para a Odepa, que repassará os valores aos 42 comitês olímpicos nacionais. Isso servirá como reembolso, já que os próprios comitês comprarão suas passagens em seus países.
Para os dois convênios, o governo federal diz que haverá prestação de contas do Co-Rio, que será analisada pelo Tribunal de Contas da União. Então, serão descritas todas as pessoas beneficiadas pelas passagens.
A liberação foi realizada por meio de plano de trabalho, em que consta "o valor pesquisado [das passagens] e a qualificação das pessoas", informou o Ministério do Esporte.
Pelas estimativas atuais, 51,02% das passagens do Co-Rio serão para atletas. Ou seja, quase metade das pessoas beneficiadas será formada por funcionários da organização e cartolas. São os mesmos dirigentes que não cansaram de elogiar o Pan do Rio no Seminário de Chefes de Missão, feito na última semana na cidade.


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