São Paulo, domingo, 12 de abril de 2009

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Joqueta do Brasil ganha fama e dinheiro nos EUA

Apesar de a atividade estar associada à jogatina, carioca defende a modalidade e diz que, para triunfar, é preciso controlar o corpo e a mente

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Uma brasileira de 20 anos, 1,55 m e 50 kg virou protagonista, nos EUA, de um esporte que até hoje luta para ser reconhecido como tal. Bancado por apostas de seus espectadores, o turfe é em geral desprezado como modalidade esportiva. ‘O turfe é muito mais do que as apostas. E treino, controle do corpo e uma tática mental forte. Eu sou uma esportista‘, decreta a carioca Maylan Studart, que, menos de um ano depois de começar como aprendiz em Calder,na Flórida, já venceu 40 páreos no competitivo (e familiar) turfe americano. Maylan, hoje, já é profissional. Atleta, ressalta. O corpo musculoso é testemunha do trabalho duro. Nos treinos, ela cavalga de graça para os treinadores nas pistas de Belmont Park, em Nova York, um dos templos do esporte no país. Os páreos para valer acontecem diariamente, à tarde. E, com eles, a brasileira amealha pelo menos US$5.000por semana. Maylan já chamou a atenção de treinadores e da imprensa americana. Chegou à capa do jornal ‘The New York Times‘ e teve o estilo agressivo explorado em perfis no ‘New York Post‘ e no canal Fox. ‘Os cavalos correm por ela‘, afirma Rodrigo Ubillo, um dos treinadores em Belmont Park. ‘Ela os entende, e eles fazem o que ela quer. Esse tipo de talento ou a pessoa tem ou não tem.‘ No Brasil, nunca foi assim. No país, a joqueta, o feminino de jóquei, afirma que teve poucas oportunidades nas pistas. ‘Eu me sentia humilhada, porque não levavam meu trabalho a sério. Quantas vezes eu era preterida em razão de jóqueis piores, só por ser mulher... Já escutei coisas como ’você é só uma coisinha bonitinha para vermos de manhã, a corrida de tarde é outra coisa’. Aqui nos EUA, o profissional tem oportunidades reais‘, diz. Ela começou a montar ainda criança e até os 14 anos praticou equitação. Aos 16, conseguiu entrar na escola de turfe do Jockey Club do Rio de Janeiro, como uma das raríssimas mulheres aprendizes. Hoje, nota incríveis diferenças entre o esporte que praticava no Brasil e o que faz nos EUA, a começar por seu público, constituído na maioria por famílias que fazem dos páreos um evento.
Como ir ao parque. ‘O que me incomoda é a imagem do turfe no Brasil ser só ligada a apostas e só àquela pista de corridas. É muito mais do que isso. Tem todo o processo de criação, tratamento e treinamento de um potro até ele se tornar um cavalo de corrida. Temas crianças conhecendo os cavalos e torcendo por eles. Tem a vontade do cavalo de vencer‘, afirma Maylan. ‘Isso tudo é muito inspirador.‘ São vários os poréns que colocam o turfe na berlinda quando se debate sua vocação esportiva, mas as apostam certamente os capitaneiam.
Uma contradição num mundo em que tenistas apostam contra si, casas de apostas patrocinam camisas de times de futebol e a jogatina olímpica rola solta na internet. Mas é fato que poucas atividades são tão dependentes das apostas como o turfe. ‘Poderíamos até ter outros modelos de apostas, mas não eliminá-las por completo, porque são elas que sustentam a indústria‘, afirma John Pricci, editor da revista ‘Horse Race Insider‘. Nos EUA, muitas vezes é o setor público que gerencia a parte financeira, retirando parte dos valores apostados.
Em Nova York, as apostas fora das pistas (por telefone, internet e em casas de jogos) são controladas por uma entidade estadual sem fins lucrativos. No Brasil, o turfe é privado. Há outros argumentos contra o status esportivo do turfe, como a constatação de que o principal atleta da modalidade é o cavalo. ‘Os jóqueis são os atletas mais subestimados dos esportes. Os jogadores de golfe são atletas? E os pilotos de corrida?‘, provoca Pricci.


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