São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Final vira exaltação nordestina

Clima de confronto entre Pernambuco e Sul, criado em briga nos Aflitos, domina torcida e estádio

Torcedores cantam músicas que pregam independência do Nordeste, e bairrismo é incentivado por locutores na Ilha do Retiro durante o jogo

DOS ENVIADOS A RECIFE

A julgar pelo clima extracampo criado no Recife antes da partida, o Corinthians perdeu ontem mais que uma partida de futebol e o título da Copa do Brasil. A vitória do Sport representou o triunfo pernambucano sobre o "Sul Maravilha".
Inflamados pelos incidentes envolvendo o zagueiro André Luiz, do Botafogo -preso pela PM no Estádio dos Aflitos em episódio que despertou análises bairristas no Rio e no Nordeste -,cartolas do Sport e parte da imprensa do Recife "federalizaram" o jogo de ontem.
Além de pressionar em prol do time da casa, o público que lotou a Ilha do Retiro gritava pelo orgulho de ser pernambucano. E era incentivado pelo sistema de som do estádio.
Isso ficou evidente, por exemplo, minutos antes de a bola rolar e mesmo depois da volta olímpica do time campeão. Depois de o sistema de som executar "Nordeste Independente" -canção interpretada por Elba Ramalho sobre um país autônomo na região, que virou hit nos programas esportivos de rádio desde segunda-feira-, o público bradava: "Ah! É Pernambuco!".
O coro foi entoado várias vezes. E as bandeiras do Estado espalhadas pelas arquibancadas tremulavam mais intensamente nessas horas.
O sentimento de orgulho regional dentro de "La Bombonéra Nordestina" -conforme dizia a locução oficial na Ilha do Retiro -iniciou seus trabalho com a indagação: "Tem algum pernambucano na torcida rubro-negra?". Era incentivado também quando foram anunciados presenças ilustres, como a do escritor Ariano Suassuna.
Depois, veio o coro de "Ah! É Ariano!", nova onda de "Ah! É Pernambuco!". E uma enxurrada de músicas locais, como "Asa Branca" e "Maracatu Atômico".
Nesse contexto, apesar dos esforços da prefeitura do Recife, que soltou balões com uma faixa pedindo paz antes do jogo, houve torcedores que cometeram excessos.
Um dos primeiros a entrar na área das cadeiras cobertas, onde foi colocada a imprensa escrita junto com espectadores, entrou na tribuna gritando que a imprensa do Sul era a mais corrupta do Brasil.
Outro torcedor, na comemoração do segundo gol, deu seguidos tapas na bancada no alto do setor das cadeiras.
Depois desse tento, os gritos passaram a elogiar mais o clube. E cânticos sobre o Estado onde ele está só foram retomados depois da volta olímpica (bem como alguns impropérios dirigidos aos jornalistas paulistas por grupo de torcedores).
Essa conduta foi criticada pelo presidente do Corinthians antes do jogo. Ao chegar à Ilha do Retiro, Andres Sanchez criticou o fato de o embate ter "sido transformado em um duelo de Pernambuco contra São Paulo, não em um jogo de futebol". (LUÍS FERRARI E PAULO GALDIERI)


Texto Anterior: Estatística: Estádio foi essencial para o campeão
Próximo Texto: Governo de PE intervém na disputa por ingressos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.