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Final vira exaltação nordestina
Clima de confronto entre Pernambuco e Sul, criado em briga nos Aflitos, domina torcida e estádio
Torcedores cantam músicas que pregam independência do Nordeste, e bairrismo é incentivado por locutores na Ilha do Retiro durante o jogo
DOS ENVIADOS A RECIFE
A julgar pelo clima extracampo criado no Recife antes da
partida, o Corinthians perdeu
ontem mais que uma partida de
futebol e o título da Copa do
Brasil. A vitória do Sport representou o triunfo pernambucano sobre o "Sul Maravilha".
Inflamados pelos incidentes
envolvendo o zagueiro André
Luiz, do Botafogo -preso pela
PM no Estádio dos Aflitos em
episódio que despertou análises bairristas no Rio e no Nordeste -,cartolas do Sport e parte da imprensa do Recife "federalizaram" o jogo de ontem.
Além de pressionar em prol
do time da casa, o público que
lotou a Ilha do Retiro gritava
pelo orgulho de ser pernambucano. E era incentivado pelo
sistema de som do estádio.
Isso ficou evidente, por
exemplo, minutos antes de a
bola rolar e mesmo depois da
volta olímpica do time campeão. Depois de o sistema de
som executar "Nordeste Independente" -canção interpretada por Elba Ramalho sobre
um país autônomo na região,
que virou hit nos programas esportivos de rádio desde segunda-feira-, o público bradava:
"Ah! É Pernambuco!".
O coro foi entoado várias vezes. E as bandeiras do Estado
espalhadas pelas arquibancadas tremulavam mais intensamente nessas horas.
O sentimento de orgulho regional dentro de "La Bombonéra Nordestina" -conforme dizia a locução oficial na Ilha do
Retiro -iniciou seus trabalho
com a indagação: "Tem algum
pernambucano na torcida rubro-negra?". Era incentivado
também quando foram anunciados presenças ilustres, como
a do escritor Ariano Suassuna.
Depois, veio o coro de "Ah! É
Ariano!", nova onda de "Ah! É
Pernambuco!". E uma enxurrada de músicas locais, como "Asa
Branca" e "Maracatu Atômico".
Nesse contexto, apesar dos
esforços da prefeitura do Recife, que soltou balões com uma
faixa pedindo paz antes do jogo,
houve torcedores que cometeram excessos.
Um dos primeiros a entrar na
área das cadeiras cobertas, onde foi colocada a imprensa escrita junto com espectadores,
entrou na tribuna gritando que
a imprensa do Sul era a mais
corrupta do Brasil.
Outro torcedor, na comemoração do segundo gol, deu seguidos tapas na bancada no alto
do setor das cadeiras.
Depois desse tento, os gritos
passaram a elogiar mais o clube. E cânticos sobre o Estado
onde ele está só foram retomados depois da volta olímpica
(bem como alguns impropérios
dirigidos aos jornalistas paulistas por grupo de torcedores).
Essa conduta foi criticada pelo presidente do Corinthians
antes do jogo. Ao chegar à Ilha
do Retiro, Andres Sanchez criticou o fato de o embate ter "sido transformado em um duelo
de Pernambuco contra São
Paulo, não em um jogo de futebol".
(LUÍS FERRARI E PAULO GALDIERI)
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