São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

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RITA SIZA

Desejos da Copa


Um evento como a Copa do Mundo pode permear a vida, os sonhos e as aspirações dos torcedores

NO LIVRO "Desejos da Copa do Mundo", o romancista israelense Eshkol Nevo relata a vida de quatro amigos que habitualmente se reúnem para assistir aos jogos do campeonato do mundo.
Durante a final (de 1998), um deles tem uma ideia: vamos escrever o que desejamos que aconteça nas nossas vidas nos próximos anos e esconder o papel. Na próxima final, dentro de quatro anos, vamos resgatar os nossos desejos e ver até que ponto eles se concretizaram.
Eu não li o livro de Nevo -publicado apenas em hebraico e sem tradução noutras línguas -, mas o ouvi a falar da história.
O desejo de um dos amigos é encontrar a mulher dos seus sonhos, casar e ter filhos. Outro quer abrir uma clínica para terapias alternativas. O terceiro pretende ganhar um caso importante que lhe conceda reconhecimento na sua profissão de advogado. E o último sonha em se tornar escritor.
É um enredo que só tangencialmente tem algo a ver com o futebol, mas que não deixa de mostrar como um evento como a Copa do Mundo pode permear a vida, os sonhos e as aspirações dos torcedores.
Achei graça no conceito: por que não usar o campeonato como um pretexto para fazer um momento de reflexão sobre a nossa vida, avaliar as nossas prioridades e definir um objetivo para o futuro próximo?
Concedo que seja um exercício menos interessante do que as manifestações colectivas de fé e superstição que atacam os adeptos às vésperas da Copa.
Afinal, não estamos a pensar na nossa equipa ou no nosso país. Simplesmente estamos a torcer para que a nossa vida dê certo e para que alguma coisa boa, ou várias coisas boas, nos venham a acontecer. Corre o risco de ser autocongratulatório, ou um pouco fútil.
Mas pode haver algo de meritório na tentativa. Como uma seleção em busca da qualificação para o próximo campeonato, cabe-nos fazer os possíveis para que aquilo que sonhamos hoje se tenha tornado realidade daqui a quatro anos.
Em jeito de experiência, pensei em vários desejos. Não vou aqui revelar quais foram, mas vou aproveitar para dizer aquilo que espero que seja esta Copa da África do Sul: mais do que tudo, mais uma vez, uma razão para gostar de futebol. E já agora desejo que, se não for o meu Portugal, o vencedor seja o melhor!


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