São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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JOSÉ GERALDO COUTO

O trigo e o joio


Ao condenar por atacado as baladas dos atletas, dirigentes e comentaristas nivelam o prazer e o crime

O GRANDE assunto da semana, além da apresentação de Big Phil Scolari como técnico do Chelsea, foi a suposta agressão do meia Marcinho a uma garota de programa numa festinha de embalo que alguns jogadores do Flamengo promoveram no sítio do goleiro Bruno, perto de Belo Horizonte.
Assunto de polícia, que não deveria ser tratado neste espaço, não fosse pela circunstância de que sempre um evento desse tipo, envolvendo futebolistas profissionais, suscita uma discussão acalorada a respeito da vida privada dos jogadores.
Para efeito dessa discussão, as reações dos envolvidos, do clube e da crônica esportiva são mais interessantes do que o fato em si.
Um dos flagrados na confusão, Diego Tardelli, apressou-se em dizer, no "Jornal Nacional", que, ao perceber o "tipo das mulheres" que estavam no sítio, saiu correndo do local e foi visitar a avó, que mora na região. Moço exemplar.
Já o vice de futebol do Flamengo, Kleber Leite, puniu o grupo de atletas como um todo, multando-os e dizendo que "aqui não é uma orgia". O capitão do time, Fábio Luciano, disse que iria ter "uma conversa séria" com os festeiros.
Ou seja, a condenação geral e indistinta foi à festa, não à surra. No ambiente retrógrado do futebol, o crime é o prazer, não a agressão ao outro. Há poucos meses, o condenado foi Ronaldo, por ter se envolvido com travestis no Rio. Mas, assim como o Fenômeno não cometeu crime, os baladeiros do Flamengo são inocentes até prova em contrário.
Se Marcinho bateu na moça, tem que responder legalmente por isso.
No mais, os jogadores já haviam feito o seu trabalho em campo, empatando com o Atlético no Mineirão, e tinham o direito de se divertir como bem entendessem. Consta, porém, que eles disseram ao clube que iriam visitar parentes. Visitar parente pode, festa no sítio não.
Se fossem adultos, teriam dito a verdade, ou, melhor, não teriam dito nada. Bastaria que se reintegrassem à delegação ou se apresentassem ao clube na hora combinada. É assim que ocorre em qualquer profissão.
Mas, no futebol, há um misto de paternalismo e repressão que tem mais a ver com colégios internos do que com uma relação madura entre empregados e empregadores.
Já é hora de tratar os futebolistas como adultos responsáveis por seu desempenho profissional. Se o sujeito abusa do álcool ou de outras drogas, é a sua carreira que se compromete ou se abrevia.
O controle das substâncias ilícitas cabe ao exame antidoping. Ao clube bastaria pôr no banco ou dispensar quem não vem rendendo em campo.
Se o sujeito joga bem, mesmo bebendo, fumando ou tomando seja o que for, o clube pode quando muito aconselhá-lo a não dilapidar o seu maior patrimônio, que são o seu corpo e a sua mente.
Quanto ao sexo, bem, este, segundo consta, não faz mal a ninguém, muito pelo contrário.

Desafio ao líder
Entre os clássicos regionais de amanhã, Flamengo x Vasco tem sabor especial por colocar frente a frente, no Maracanã certamente lotado, o líder rubro-negro e um Vasco renovado pela troca de Eurico Miranda por Roberto Dinamite.

jgcouto@uol.com.br


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